Vem para dar cabo do Natal. E nós gostamos
A história é mais do que conhecida: uma criatura verde que odeia o Natal decide acabar com a festividade roubando todos os presentes aos seus vizinhos, que são os habitantes da vila dos Quem. Para ele, os enfeites, doces e cantorias - em resumo, a felicidade dos outros - é simplesmente enjoativa, barulhenta e insuportável... até ao dia em que conhece uma menina que lhe faz derreter o coração, para lá de toda a aparente futilidade da época. Falamos de Grinch, pois claro, a famosa personagem nascida no livro infantil de Dr. Seuss (Como o Grinch Roubou o Natal), publicado em 1957, e que continua a ser uma referência incontornável do espírito anti-natalício, para todas as idades.
O que é que o novo Grinch se propõe oferecer? Não temos a voz carismática de Boris Karloff, da animação de 1966, nem a expressividade inimitável de Jim Carrey na comédia de Ron Howard (2000), mas este regresso às bases do clássico apresenta-se como um muito simpático e caloroso filme de quadra, especialmente direcionado para o seu público de excelência: as crianças. E, pelo menos na versão original (haverá também uma dobrada), Benedict Cumberbatch é um digníssimo sucessor nessa mestria que é dar voz à figura rabugenta - podemos defini-la por um timbre de malvadez com um toque de elegância...
Corealizado por Yarrow Cheney e Scott Mosier, Grinch caracteriza-se por algo que já vai escasseando na maior parte das grandes produções do cinema de animação. A saber, um gosto genuíno pela simplicidade de uma narrativa infantil. Por essa razão, não estamos perante uma aventura rocambolesca ditada pelas modas do entretenimento, mas sim na procura de uma linha de prosa visual clássica, em que as imagens respondem ao puro desejo de narrar um conto intemporal enquadrado pelos mais otimistas valores humanos. É quanto basta para se sentir o calor e as emoções tradicionais. E a verdade é que sabe mesmo bem recobrar essa beleza das histórias populares.
Mas nem tudo é da velha guarda: o tema original (You"re A Mean One) interpretado pelo rapper Tyler, The Creator vem dar um cheirinho de modernidade às peripécias da criatura resmungona e do seu fiel cãozinho. Já qualquer semelhança com Gru - O Maldisposto não é mera coincidência, uma vez que esta é uma produção Illumination, e por isso bastante consciente do recorte psicológico das personagens do estúdio.
Falando nelas, o início da sessão é marcada por uma sempre estimável performance dos amarelinhos Mínimos. É o pontapé de saída para um mergulho de felicidade natalícia, apenas perturbada pelo rezingão Grinch... Mas ele lá tem as suas razões, e vale a pena descobri-las.
Classificação: *** bom