Vasco Lourenço diz que a história está "muito mal contada"
Para o antigo "capitão de Abril", a história do desaparecimento de material militar em Tancos "está, de facto, muito mal contada" e assim é "urgente" que se cumpra "a vontade expressa pelo Presidente da República: esclarecer tudo, rapidamente, doa a quem doer".
No seu entender, "o presumível buraco na rede de proteção [de Tancos] não passa disso mesmo, um simples buraco, e não convence ninguém de que não foi posto apenas para disfarçar".
Por isso, "há que dar respostas a questões que se colocam": "quando se deu o desaparecimento do material" ou como desapareceu ("todo de uma vez ou, como muitos opinam, por várias vezes e durante um espaço concreto de tempo? E, neste caso, durante quanto tempo durou o desaparecimento do material?") ou ainda ("hipótese mais grave ainda"), o material desaparecido "chegou a entrar nos paióis ou foi apenas acrescentado à carga dos mesmos". Seja como for, conclui, "parece indubitável que não teria sido possível fazer o que porventura se fez sem a participação ativa de elementos da estrutura interna das unidades responsáveis pelos paióis".
No texto, de mais de dez mil carateres, Vasco Lourenço reconhece que a condição militar há muito que tem vindo a ser "espezinhada". Porém, confessa "dificuldade em ilibar as Forças Armadas" de responsabilidades nesse processo. "Não compreendo e, por muito que concorde com o facto de a responsabilidade maior caber ao poder político, tenho dificuldade em ilibar as Forças Armadas pelo 'estado a que tudo chegou' e pelos resultados daí advenientes."
Dito de outra forma: "A permanente conivência dos responsáveis militares com o que se tem passado de há muitos anos a esta parte, também terá de provocar a sua responsabilização, mais cedo ou mais tarde."
Afirmando-se adepto de "teorias da conspiração", Vasco Lourenço pergunta-se, face que aconteceu em Tancos, "porquê agora". E responde: "Sendo o objetivo principal o descredibilizar este Governo, provocando (ouro sobre azul...!) a sua queda, há que juntar aos resultados de uma tragédia natural (até agora nada nos diz que tenha sido provocada) um escândalo de tal natureza que leve à conclusão de que este Governo é incapaz, não serve, tem de cair." "O facto é que tudo o que se seguiu, a que temos assistido e vivido, nos permite consolidar a nossa teoria", lê-se no texto.
Vasco Lourenço comenta ainda a iniciativa de oficiais na reserva e reforma, depois de desconvocadas, de entregar as espadas, como forma de protesto pela suspensão dos cinco chefes das unidades que partilhavam a responsabilidade da segurança em Tancos. Chamando-lhe uma "pretensa convocação", faz votos para que, "desta vez, tudo não passe de uma gorada tentativa dos extremistas que não sabem viver em democracia".