Armando Vara quebra o silêncio que dura há vários anos, desde o processo Face Oculta em que foi condenado, para escrever uma carta ao Presidente da Assembleia da República e aos grupos parlamentares. Motivo: defender um inquérito parlamentar à Caixa Geral de Depósitos (CGD) que está a ser alvo de intenso debate político, por causa da recapitalização decidida pelo governo. Com esta posição Vara vai contra a opinião do seu partido e também de José Sócrates, que se manifestou contra esta iniciativa..Na missiva dirigida a Ferro Rodrigues, Vara vem "pugnar pelo envolvimento do Parlamento, através de uma Comissão Parlamentar de Inquérito, que permita esclarecer, em toda a sua extensão, a evolução da situação financeira da CGD ao longo deste período e apurar as causas que possam estar na origem desta eventual necessidade de recapitalização"..Armando Vara, que foi Ministro nos dois governos de António Guterres, é alvo de uma investigação judicial - no âmbito da Operação Marquês, cujo protagonista é José Sócrates - por causa de um crédito concedido ao empreendimento Vale do Lobo, uma operação que estará entre as que foram apontadas como fazendo parte da "lista negra" dos devedores que mais contribuem para as imparidades da Caixa..O ex-dirigente socialista sublinha que, embora até aqui, defendesse que "um inquérito parlamentar à gestão de uma determinada empresa constitui um poderoso fator de desvalorização da mesma e, por isso, um meio que não se justifica quando existem outras formas de levar a cabo a fiscalização pública da sua atuação"..Vara diz, com alguma ironia, que, "todavia, não tendo diversas auditorias extraordinárias (incluindo forenses) levadas a cabo à CGD desde 2011" (início do governo de Passos Coelho) "para além das inspeções anuais, servido para os agentes envolvidos se revelassem satisfeitos ou descansados relativamente à legalidade da atuação da gestão do Banco, preferindo, ao invés, enveredar pelo caminho de criar um clima de suspeição sobre a honorabilidade de quantos serviram e servem a instituição, torna-se imperioso que, para defesa do bom nome, em primeiro lugar da própria instituição e, em segundo, de todos quantos trabalharam nela e trabalham, seja realizada uma inquirição pública, totalmente transparente e aberta, da sua gestão ao longo dos anos"..Para Armando Vara, sendo a CGD "uma instituição financeira de grande credibilidade" ninguém "deve temer uma apreciação rigorosa, independente, feita pelo órgão máximo da representação política nacional, a Assembleia da República"..O ex-administrador da Caixa, no tempo que era dirigida por Carlos Santos Ferreira, assinala ainda que "não querendo ser hipócrita", não pode deixar de "ter presente o populismo como que o tema é tratado, tanto por alguns meios de comunicação como por agentes políticos", levando "sistematicamente à invocação" do seu seu nome "ou como culpado do estado do Banco". Por isso é também a "defesa" do seu "bom nome" que motivou para assumir esta posição. Vara garante que "tem consciência" de nunca ter tomado "decisões baseadas em pressões de qualquer natureza", mas "apenas baseadas em critérios estritamente profissionais e no respeito pelas cadeias próprias de decisão da instituição". Por isso, conclui, que se coloca "à inteira disposição do Parlamento para prestar todos os esclarecimentos" que lhe forem solicitados".