"Vamos tocar os nossos maiores clássicos, mas o espetáculo não se irá resumir apenas à música"
É com o estatuto de lendas do rock que os Kiss estão de volta a Portugal, quase 35 anos depois da primeira e única visita ao país. Na altura, o concerto da banda nova-iorquina foi notícia no mundo inteiro, por ter sido no já inexistente Pavilhão Dramático de Cascais que pela primeira vez se apresentou em palco de cara lavada. À época, a decisão irritou os fãs mais antigos, que agora têm uma nova oportunidade de ver ao vivo as icónicas maquilhagens do grupo, liderado pelo guitarrista Paul Stanley e pelo baixista Gene Simmons, os dois membros últimos membros do quarteto original, formado também pelo baterista Peter Criss e pelo guitarrista Ace Frehley. Em entrevista telefónica ao DN, Gene recordou a anterior passagem por Portugal e desvendou um pouco como vai ser este regresso, que anuncia como "grandioso". Afinal, aquela que em tempos foi conhecida como the hottest band in the world completa este ano quatro décadas e meia e o aniversário redondo é, segundo o músico, "uma ótima oportunidade" para mostrar às novas gerações que os Kiss ainda têm muito rock and roll nas veias".
Vieram tocar uma única vez a Portugal, em 1983, tem alguma recordação desse concerto?
Sim, foi o primeiro concerto da digressão europeia do álbum Lick It Up e foi notícia no mundo inteiro por ter sido a primeira vez que subimos a um palco sem as famosas maquilhagens (risos). Do espetáculo propriamente dito não tenho muitas recordações, mas lembro-me muito bem da comida, que era deliciosa e das mulheres portugueses, lindíssimas. Depois disso já regressei muitas a Portugal, mas nunca para tocar, apenas de visita. É um país de que gosto muito, com uma história e uma cultura muito interessante, que a dada altura chegou a ser um dos mais poderosos do mundo, devido aos navegadores e aos descobrimentos.
Porque é que na altura deixaram de usar as maquilhagens?
Porque queríamos ser apenas uma banda rock e que as pessoas nos respeitassem e conhecessem apenas pela música. Na altura pareceu-nos algo que devia ser feito.
Mas entretanto, já nos anos 90, voltaram a usar as roupas e a maquilhagem...
Sim, fizemo-lo porque é algo que faz parte da nossa história e da nossa imagem enquanto banda.
E este regresso, como vai ser?
Vamos dar um grande espetáculo, no qual vamos tocar os nossos maiores clássicos, mas que não se irá resumir apenas à música. Devemos isso aos nossos fãs portugueses, porque já não estamos com eles há mais de 30 anos, é muito tempo. Vamos ter algumas surpresas, mas acima de tudo queremos mostrar-lhes, tanto aos fãs mais antigos como aos mais novos, que, 45 anos depois, os Kiss ainda têm muito rock and roll para lhes dar.
Vêm acompanhados dos Megadeth por alguma razão especial?
Não, são apenas uma banda que gostamos muito, apesar de serem bem mais jovens que nós (risos). Eles dão o concerto deles e nós damos o nosso.
Passado tanto tempo ainda não se sentem cansados das digressões, das viagens, de todo o circo do Rock and Roll?
Claro que não, no dia em que sentirmos só nos resta desistir e posso garantir que é o que faremos. Mas neste momento continuamo-nos a divertir muito em palco e acima de tudo este é o nosso trabalho. Só temos de estar gratos por as pessoas ainda nos quererem continuar a ver e a ouvir. Os Rolling Stones são muito mas velhos que nós e também continuam a fazer o que sempre fizeram. É algo que não se explica, apenas se sente.
Alguma vez pensaram em reunir a formação original da banda, nem que fosse apenas para um espetáculo? A última vez que estiveram todos juntos em público ocorreu quando os Kiss foram induzidos no Rock and Roll Hall of Fame, em 2014, mas nem sequer atuaram juntos, como é habitual...
Não, essa é uma hipótese que nem sequer coloca. O Ace já regressou uma vez e o Peter outra duas, mas simplesmente não resultou. As drogas e o álcool não se podem tornar mais importantes que a banda e foi isso que a dada altura aconteceu com eles. Gostava muito de podermos ter continuado todos juntos, mas chegou a uma altura em que tivemos de seguir em frente e contratar outras pessoas para o lugar deles. O Ace e o Peter foram o melhor que aconteceu aos Kiss, pois nem sequer existiriam sem eles. Hoje estão os dois completamente limpos, o que me deixa muito feliz, porque continuamos a ser muito amigos. O tempo deles, nos Kiss, passou, mas nós continuamos com a mesma energia de sempre, como vão poder ver em breve, aí em Portugal.