Valls decide votar Macron e deixa socialistas furiosos

Ex-primeiro-ministro defende que o candidato independente é o único capaz de derrotar Marine Le Pen. Benoît Hamon fala em traição e apela a uma união de toda a esquerda
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O ex-primeiro-ministro e candidato derrotado das primárias socialistas, Manuel Valls, anunciou ontem que irá votar em Emmanuel Macron na primeira volta das presidenciais francesas, marcada para 23 de abril. Uma decisão que provocou a cólera de Benoît Hamon e de muitos socialistas.

"Não vou correr riscos", declarou Valls na BFMTV, dizendo acreditar que o possível resultado de Marine Le Pen estava a ser subestimado. "Vou votar Emmanuel Macron". "Assumo as minhas responsabilidades. Esta não é uma questão do coração, mas uma questão de razão", sublinhou o ex-primeiro-ministro. Macron agradeceu o apoio de Valls, afirmando que este gesto "traduz o que eu disse há meses, que as primárias não iriam unir a esquerda".

Para Valls, François Fillon, de direita, e Benoît Hamon, o eleito dos socialistas, não representam o voto útil contra a extrema-direita. O primeiro porque "sequestrou a sua campanha presidencial e a sua família política", referindo-se ao processo judicial em que Fillon está envolvido. O segundo porque a sua "estratégia leva à marginalização".

Benoît Hamon condenou violentamente a escolha feita pelo seu antigo rival, sublinhando a traição ao compromisso que impõe aos vencidos apoiarem o vencedor. E apelou "a todos os cidadãos de esquerda" que desejam punir Valls pela sua opção por Macron. "Peço-vos para reagirem, para punirem aqueles que se prestam a este jogo mórbido virando costas a todos os políticos que não acreditam em nada", disse. O socialista apelou ainda à união da esquerda em torno da sua candidatura para vencer as presidenciais.

Os ataques de socialistas ao anúncio de Valls foram-se sucedendo. O ex-ministro de Hollande Arnaud Montebourg apelidou Valls de "homem sem honra", dizendo que que "agora toda a gente sabe o que vale um compromisso de honra assinado por Valls: nada".

"Um único adjetivo para qualificar o comportamento de Manuel Valls: miserável", escreveu no Twitter a deputada Karine Berger. "Manuel Valls deixas-nos envergonhados", tweetou Patrick Mennucci, outro deputado. A eurodeputada Isabelle Thomas desejou a Valls "boa viagem para a direita. É triste, mas há muito que o sonhavas!".

Uma sondagem da Elabe, divulgada ontem pela BFMTV, mostra que Macron poderá ser o candidato mais votado da primeira volta - até agora tudo apontava para uma vitória da líder da extrema-direita.

Macron poderá conseguir 25,5% dos votos a 23 de abril, enquanto Marine Le Pen ficará pelos 24%, segundo a sondagem de ontem. Na segunda volta, a 7 de maio, o independente é dado como vencedor, com 63%, contra os 37% da populista.

François Fillon surge com 18% das intenções de voto, mais um ponto percentual do que na sondagem anterior. A subir está também o candidato de extrema-esquerda, Jean-Luc Mélenchon, que consegue 15% na primeira volta, mais 1,5 pontos percentuais que no anterior estudo de opinião. Um ganho feito às custas do candidato socialista, Benoît Hamon, que desce de 11,5 para 10% em apenas uma semana.

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