Vaclav Klaus irrita Europa ao persistir nas suas exigências

Durão Barroso não esconde a sua irritação com a persistente recusa do Presidente checo em ratificar o Tratado de Lisboa. E ameaça Praga de vir a perder comissário europeu. Mas, no Executivo comunitário, há quem garanta que o Chefe do Estado eurocéptico acabará por pôr a assinatura no documento.
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As expectativas de que Vaclav Klaus, Presidente da República Checa, vai esquecer as exigências de uma exclusão checa da Carta Europeia dos Direitos Fundamentais são "infundadas", declarou ontem o próprio Chefe do Estado, que se encontra de visita a Moscovo, onde foi recebido pelo seu homólogo russo, Dmitri Medvedev. Klaus pretende que as garantias naquele domínio sejam aceites pelos chefes do Estado e de Governo que se reúnem a 29 e 30 deste mês na capital da Bélgica.

Bruxelas endurece agora o discurso contra a oposição levantada pelo presidente da República Checa à revelia do que, diz o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, já tinha sido decidido no Parlamento daquele país.

"Depois da decisão do Tribunal Constitucional, espero que a República Checa honre os compromissos", disse o presidente do Executivo, e que "não sejam levantados obstáculos artificiais".

O nervosismo e a "irritação" contra Praga já se sentem nos corredores diplomáticos, garante um diplomata europeu.

"Foi surpreendente", principalmente depois do referendo na Irlanda, continua, "depois de tanto tempo a debater este tratado, cria irritação e é tempo de pôr um ponto final neste processo".

Uma importante fonte comunitária admitiu ontem ao DN que a ratificação é o resultado esperado deste duelo entre Klaus e a União Europeia, "mas só depois de Klaus conseguir aquilo que quer".

Com efeito, outro diplomata explica que "o Presidente checo só formula estas exigências agora porque a República Checa é o último obstáculo à entrada em vigor do Tratado e que, por isso, a União Europeia vai ter de lhe dar aquilo que ele quer". No final, "ele acabará por assinar", garante a fonte do Executivo.

A verdade é que a Presidência rotativa da União Europeia e a Comissão Europeia começam a perder a paciência para os jogos de Klaus e daí o tom mais duro usado esta semana, já depois de assegurada a ratificação da Polónia.

"Sem Tratado de Lisboa não podemos garantir que cada país terá um comissário", explicou Barroso em resposta à questão sobre se a República Checa poderia ficar sem o seu membro nacional no executivo da UE caso bloqueie o tratado.

"Não interessa a ninguém, muito menos à República Checa", que a Europa não avance para Lisboa, declarou ainda Durão Barroso, num tom invulgarmente duro.

"Neste momento, e depois de todos já terem ratificado, a República Checa já está isolada", comentou ao DN o embaixador de Portugal junto da União Europeia, Manuel Lobo Antunes.

"A República Checa também tem de entender a posição dos outros", diz o mesmo diplomata.

Jan Fischer, o primeiro-ministro checo, favorável ao Tratado de Lisboa, formou esta semana um grupo de trabalho encarregue de "formular", segundo fonte de Praga, as exigências de Vaclav Klaus e "colocá-las de forma clara no papel" - já que nem ao chefe do Executivo checo o Presidente indicou com precisão o que pretendia dos líderes dos 27.

A capital checa compromete-se assim a apresentar perante o Conselho Europeu as condições de que está refém o avanço do Tratado Reformador.

A questão agora fica também entregue aos juristas europeus, que terão de encontrar uma forma juridicamente viável para assegurar que as garantias legais atribuídas à República Checa não implicam novas ratificações por parte de 26 Estados membros.

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