Universidade Nova quer apostar na arqueologia subaquática
A Universidade Nova de Lisboa é, desde ontem, detentora da Cátedra "O património Cultural dos Oceanos", um título atribuído pela UNESCO e que lança a instituição de ensino superior na criação e liderança de uma rede para investigação, ensino e divulgação nas áreas da história marítima e do património cultural subaquático.
Qualificada como "pioneira" na área a Cátedra associa instituições de ensino superior de cinco países - além de Portugal, Cabo Verde, Espanha, Colômbia e Brasil - e várias entidades nacionais. À cabeça está João Paulo Oliveira e Costa, diretor do Centro de História d"Aquém e d"Além-Mar (CHAM).
Portugal é um país marítimo desde as suas origens", afirmou ontem na apresentação da Cátedra, na reitoria da Universidade Nova, em Lisboa. Sublinhando que a equipa associada ao projeto reúne "investigadores de quatro instituições diferentes, com uma longa tradição de estudos relacionados com o património marítimo", o investigador destaca uma área que espera ver potenciada no âmbito desta Cátedra - a formação em arqueologia subaquática.
Na Nova há 20 arqueólogos subaquáticos e, até final do próximo ano, sete deverão concluir o doutoramento, sublinha. Uma aposta também expressa por Francisco Caramelo, diretor da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (a que pertence o CHAM) da Universidade de Lisboa. "É um domínio fundamental em que queremos investir", sublinhou ontem, acrescentando ter "muitas expectativas" sobre o papel que a FCSH pode assumir nesta área.
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João Paulo Oliveira e Costa diz ao DN que o país está "muito avançado" no que respeita à formação em arqueologia subaquática: "Já estive em reuniões da UNESCO em que me apercebo que há muitos países que estão quase a zero" Daí a aposta: "O primeiro passo que esta Cátedra prevê é a possibilidade de fazermos formação pós-graduada para estudantes sul-americano. Julgo que teremos capacidade para ter equipas formadoras que possam fazer formação nos países da América do Sul".
O investigador explica ao DN que "uma boa parte dos restos arqueológicos subaquáticos estão a profundidades muito grandes, de acesso impossível em mergulho. Portanto, o espaço onde [os arqueólogos] trabalham é junto às costas". Onde ainda há muito por fazer: "O património subaquático acessível em mergulho livre [com botija] é um mundo que está ainda por explorar e que está muito sujeito aos caçadores de tesouros. É um problema que existe atualmente. Há uma Convenção da UNESCO que Portugal já subscreveu, mas que muitos países europeus, ou os Estados Unidos, por exemplo, não subscreveram."
José Bettencourt prepara-se para ser o primeiro doutorado em arqueologia subaquática do país e será o responsável por esta área no âmbito da Cátedra. Diz que o grande problema, para o património subaquático português é, por exemplo, a erosão da costa. E, sendo o acompanhamento "quase nulo", "não sabemos se poderão estar sítios em risco" ou não. Se a formação nesta área é avançada, a procura pelo património português submerso é limitada. Este arqueólogo diz que faltam meios para fazer mais e que tem existido "um investimento muito pouco significativo" por parte do Estado, num contexto em que as universidades e outras instituições também têm poucos recursos. Atualmente, a carta arqueológica subaquática de Portugal tem inventariados nove mil possíveis sítios com interesse - alguns são referências a naufrágios, que podem ou não confirmar-se.
E (quase) sempre que há uma intervenção na costa portuguesa, há uma descoberta. "Acompanhámos as obras de alargamento do porto da Horta, há dez e cinco anos. As obras fizeram-se depois do terreno que ia ser aterrado ser vistoriado por arqueólogos subaquáticos, que encontraram, de facto, dois navios novos, até com um espólio bastante interessante. Na frente ribeirinha do Tejo, sempre que há um intervenção até 100, 200 metros do Tejo, encontram-se vestígios. Há dois ou três anos, nas obras do edifício da EDP, encontrou-se uma rampa de estaleiro", diz João Paulo Oliveira e Costa,
Entre os projetos inscritos no âmbito da Cátedra, contam-se a Carta Arqueológica Subaquática de Cabo Verde ou a História da Baleação portuguesa, a criação de pós graduações ligadas ao Mar, no capítulo do ensino. Já no que se refere à divulgação está em cima da mesa a criação de uma réplica de uma nau quinhentista e a criação de uma coleção sobre o mar português.