Fraca participação à vista e em consequência aumento da probabilidade de resultados imprevisíveis é o que se espera das eleições regionais e departamentais em França cuja primeira volta decorre amanhã. Apesar de o presidente Emmanuel Macron ter garantido que não vai fazer qualquer leitura nacional nem ao nível governamental, as dinâmicas deste escrutínio devem ser cruciais para a estratégia a adotar por parte dos partidos em relação às presidenciais, a realizarem-se em menos de um ano..As sondagens indicam que o partido de Macron, A República em Marcha, não deve conquistar qualquer região ou departamento, o que não impediu o presidente de ter realizado uma volta à França pelas regiões coincidente com o calendário eleitoral. Na quinta-feira, numa escola primária ouviu um pequeno infante perguntar-lhe sobre a bofetada que recebeu na semana passada. "Tudo bem, mas não é agradável. E não está certo, nunca se deve fazer aquilo", respondeu Macron ao petiz..Vários comentadores e adversários políticos também dizem que a campanha subliminar do presidente não está correta. "Macron está em campanha. Que o reconheça, será mais claro e mais respeitador dos franceses", disse Xavier Bertrand, presidente da região de Hauts-de-France, que se recandidata agora e também já anunciou a sua intenção de concorrer ao Eliseu pelos Republicanos (ex-UMP, centro-direita)..A esfera de competências das regiões e dos departamentos é grande, mas os eleitores franceses parecem cada vez mais alheados, tendo em conta que 60% admitem não votar na primeira volta. Tal explica-se em parte devido às restrições impostas pela pandemia numa campanha que vive muito da proximidade. Paradoxalmente, oito em dez franceses declaram-se preocupados com a abstenção, segundo um estudo de opinião encomendado pelo Libération.."Fazemos parte de uma democracia que se está a tornar cada vez mais numa democracia de abstenção", resume a cientista política Céline Braconnier à AFP. Entre as razões para a abstenção, segundo o estudo de opinião publicado pelo Libération, os franceses colocam no topo o facto de "os candidatos e seus projetos não corresponderem às expectativas dos franceses" (44%), o "cansaço dos debates políticos" (42%), o facto de "eleitos e líderes políticos não compreenderem as preocupações dos franceses" (41%), e "o desejo de expressar insatisfação aos políticos" (37%)..Quais as consequências da elevada abstenção? "Quanto mais os antissistema se mobilizarem com uma baixa afluência, maior será o seu peso relativo. Isto pode abrir a porta a todo o tipo de surpresas", adverte Philippe Gosselin. O deputado dos Republicanos diz à RFI acreditar que apenas os fiéis dos partidos e os descontentes irão às urnas..O partido de Marine Le Pen não conseguiu até hoje acabar em primeiro em região alguma devido à chamada frente republicana: na segunda volta o candidato ou candidatos menos votado(s) desiste(m) em favor do que estiver em condições de derrotar a candidatura da extrema-direita. Mas o mapa eleitoral francês pode mudar em breve. Depende não só da mobilização dos eleitorados mas também de se reeditar a frente republicana, algo que está longe de ser claro para todos os partidos. Por exemplo, o de Macron propôs que a lista vencedora na primeira ronda inclua candidatos de listas concorrentes, mas que se sentariam na oposição, a fim de garantir a pluralidade..França. Esquerda hesitante dá fôlego a aspirações de Marine Le Pen."Na região PACA [Provença-Alpes-Côte d"Azur], mesmo que a lista da esquerda se retire, haverá uma maior perda de votos de Renaud Muselier [presidente da região]. No papel, Thierry Mariani [candidato da União Nacional] poderá ganhar esta região. Se a União Nacional conseguir vencer uma região, mudará a dinâmica para as eleições presidenciais de 2022", comentou o diretor-adjunto da Ipsos, Brice Teinturier, ao canal France 2..A região Paca - na qual um acordo de Muselier com o partido de Macron criou ondas de choque à direita - não é a única em que o partido que antes dava por Frente Nacional pode chegar em primeiro na segunda volta, segundo as sondagens. O partido aposta ao máximo nos temas nacionais, como a segurança e a imigração e promove a imagem de Marine Le Pen, já a pensar nas eleições presidenciais. "Hoje, sente-se claramente que a eleição que interessa aos franceses é a de 2022. Por isso, devemos enviar uma mensagem a Emmanuel Macron a partir deste domingo. E para o castigar, há apenas uma votação, a da União Nacional", diz Steeve Briois, vice-presidente do partido..cesar.avo@dn.pt