União Europeia divide-se na proibição de entrada de turistas russos

Os países da União Europeia têm opiniões divididas quanto à proibição de turistas russos. Ucrânia pressiona para encerramento das fronteiras aos russos, para que vivam "no seu próprio mundo até mudarem a sua filosofia".
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A Ucrânia está a pressionar a União Europeia (UE) para proibir a entrada de turistas russos, mas tem encontrado respostas variadas, com alguns países da UE a concordarem enquanto outros resistem à posição.

Muitos países já estão a proibir os pedidos de vistos russos ou a limitar os vistos emitidos pelos seus próprios serviços, mas ainda não se encontra em vigor qualquer proibição a nível da União Europeia.

A questão deverá ser discutida numa reunião dos ministros dos negócios estrangeiros da UE em Praga, a 31 de agosto, uma vez que o bloco de 27 nações deve chegar a uma posição unificada sobre vistos de curto prazo para os cidadãos russos.

"Os russos apoiam esmagadoramente a guerra, os ataques de mísseis às cidades ucranianas e o assassinato de ucranianos. Deixem que os turistas russos desfrutem apenas da Rússia", disse o Ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano Dmytro Kuleba.

O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky exigiu que o Ocidente fechasse as suas fronteiras aos russos, dizendo ao jornal Washington Post que eles deveriam "viver no seu próprio mundo até mudarem a sua filosofia".

Um furioso membro do Kremlin reagiu chamando "irracional" ao apelo de Kiev e prometeu retaliação.

Letónia, Lituânia e Polónia deixaram de emitir novos vistos turísticos aos russos assim que a Rússia invadiu a Ucrânia no final de fevereiro.

A Estónia deu um passo em frente, impedindo ainda a entrada aos russos com vistos emitidos pelos seus serviços. O país está também a tentar impedir a entrada a russos que têm vistos emitidos por outros estados da UE.

A Finlândia, que tem a fronteira mais longa da Europa com a Rússia, irá a partir de 1 de setembro reduzir o número de pedidos de vistos turísticos russos para apenas 10% dos 1000 habituais recebidos por dia. A lei finlandesa impossibilita uma proibição total com base na nacionalidade do requerente.

Essa medida terá um impacto. Devido às sanções da UE que fecham o espaço aéreo europeu a voos provenientes da Rússia, os russos tinham recorrido a viagens terrestres através da Finlândia para se deslocarem a outros países europeus.

Os turistas russos utilizam vistos Schengen normalmente válidos em 26 países da UE e países vizinhos, incluindo a Suíça e a Noruega. Estes vistos permitem normalmente estadias de até 90 dias num período de 180 dias.

Esses 26 países receberam cerca de três milhões de pedidos de vistos Schengen no ano passado. Os russos constituíram o maior grupo, representando 536 000 deles, tendo apenas 3% dos seus pedidos sido recusados.

A Estónia quer que as regras da UE sejam alteradas de modo a permitir-lhe deter os russos com vistos Schengen, independentemente do país da UE que os emitiu.

Porém, Cyrille Bret, do grupo de reflexão do Instituto Jacques Delors, acredita que uma proibição a nível da UE "tem poucas hipóteses de ser adotada", mesmo que as opiniões públicas nacionais sejam a favor.

As sanções da UE requerem unanimidade entre os 27 estados membros, e as rondas recentes tiveram de negociar objeções, particularmente da Hungria, que mantém laços amigáveis com Moscovo.

A República Checa - que detém a presidência rotativa da UE - tomou uma posição imparcia, argumentando que "as sanções para os turistas russos em tempo de guerra são inadequadas", mas afirma que não apoia uma proibição total.

Praga diz que quer continuar a permitir a entrada de jornalistas russos e outros civis que temem perseguição. Essa condição de asilo é geralmente também aceite pelos países a favor de uma proibição de vistos turísticos, incluindo a Ucrânia.

A Alemanha e Portugal consideram uma proibição total da UE de vistos turísticos como prejudicial quando se trata de russos que discordam do Kremlin e tentam fugir do seu país.

Em fevereiro, a UE restringiu os vistos em certas categorias para os russos ligados ao Kremlin, incluindo para funcionários, titulares de passaportes diplomáticos e chefes de empresa. Mas os vistos turísticos continuavam a ser permitidos.

A Grécia e a Suécia não tomaram qualquer posição pública sobre a questão, e a Dinamarca afirmou que pretende ver um consenso europeu para decidir.

A Comissão Europeia na quinta-feira reconheceu que estavam em curso discussões para que uma "abordagem coordenada" possa ser alcançada. Sublinhou ainda a necessidade de acesso humanitário para dissidentes russos e disse que os pedidos de visto deveriam ser avaliados individualmente e não sob uma regra geral.

A Comissária da UE para os Assuntos Internos, Ylva Johansson, deverá visitar a Finlândia e a Letónia no início de setembro para discutir o assunto com as autoridades locais.

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