"Uma publicação destas não é vulgar"

Entrevista a historiador Fernando Rosas
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Para um historiador qual é o significado do anúncio que fala da guerra e regista o dia da alegada primeira aparição?

Antes de mais diga-se que o conteúdo da guerra é de um dos segredos da Mensagem que só será conhecido anos mais tarde.

Mas coincide com a aparição...

Não conhecia o anúncio do DN, que é uma novidade interessante, pois haver uma publicação que anuncia para o 13 de maio de 1917 certos acontecimentos que determinarão o fim da guerra e coincidir com as alegadas aparições é uma coincidência interessante. É, sobretudo, isso. A partir daqui podem-se fazer elucubrações extraordinárias, mas a nível da objetividade do historiador é apenas uma coincidência engraçada.

Um pormenor lateral?

Sim, ou entramos num campo de especulação que jamais acabará. Diz-se que houve uns espíritas que em fevereiro de 1917 previram qualquer coisa. Vale o registo e pouco mais. Como historiador não iria por aí, só jornalisticamente é que é curioso.

Ao estudar essa época encontrou situações do género?

Sim, porque essa foi uma altura de grande desgraça em Portugal. Havia um pathos de tragédia devido à participação na Grande Guerra, de mortes pelo tifo endémico nas cidades e pela falta de comida. Que deram lugar a muitos fenómenos do género, seja aparições frequentes, seja a um ambiente providencialista - que Sidónio Pais protagoniza a nível de ditador providencial -, e que em termos religiosos traduz-se nas ditas aparições. Coisificação que hoje a doutrina da Igreja nega! Existe um ambiente que promove a multiplicação desse tipo de fenómenos, que percorrem o país em 1917, o annus terribilis de Afonso Costa.

Portanto, este tipo de anúncios não é uma situação normal?

Uma publicação destas não é vulgar, concordo, nem nunca tinha encontrado. Falava-se em milagres pelo país, com a Virgem a aparecer em vários lugares e a fixar-se depois em Fátima. Mas um anúncio destes, francamente, não conhecia.

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