Uma excelente colheita de ‘cartoons’

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Com 10 anos de existência, o Porto Cartoon World Festival é já um dos principais certames do género no mundo. Provam-no os mais de 2000 trabalhos de 500 artistas de 71 países recebidos a concurso na edição deste ano, em que os Direitos Humanos foram o tema principal (cada vez mais premente). Prova-o, mais ainda, a sua qualidade intrínseca, de que este catálogo – que reúne os premiados e os (mais de 300) finalistas – é o melhor exemplo.


Mesmo só folheando o livro, é impossível não parar uma e outra vez, aqui seduzido pelo grafismo, ali preso por uma imagem mais apelativa, depois sorrindo – ou rindo  abertamente – de um desenho irresistível, mais à frente parando para reflectir impelido por uma outra ilustração inspirada.


É essa a força do cartoon, riquíssimo na grande diversidade de técnicas, estilos, grafismos, materiais e soluções, mostrando, se ainda era necessário, como uma boa imagem pode substituir, com óbvias vantagens, muitos milhares de palavras, para transmitir ideias, reflexões ou pensamentos, fazer denúncias ou acusações, divertir apenas (apenas?) ou despertar as consciências para a necessidade de um mundo mais justo e mais equilibrado. E já agora, mais livre.


Numa página dois soldados (de uma força internacional?) semienterram uma mulher para  facilitar o apedrejamento por um fundamentalista islâmico. Páginas volvidas, uma sequência com um contentor para vidro, outro para papel e, depois, um homem, com um cartaz pedindo comida, faz pensar no problema da fome, o mesmo acontecendo com o negro esquelético que, saindo de um aparelho de televisão, estende uma tigela vazia ao cão que tem um prato bem cheio. Continuando a folhear, deparamos com uma manifestação de mutilados de guerra com um cartaz onde se lê “Stop War”, com as letras formadas pelos membros que perderam. Voltando atrás, o choque é mais forte quando numa única imagem acompanhamos o crescimento das jovens africanas, a caminho de um tradicional escorrega que no final da descida tem uma lâmina afiada com sangue, numa alusão clara à excisão feminina…


Outros cartoons jogam com o próprio grafismo, como o do censor que tem uma tesoura aberta no lugar de óculos, nariz e bigode, ou aquele em que, num globo terrestre, o  continente africano foi transformado no coldre de um mortífero colt…


Haveria mais – muitos mais – exemplos a citar, todos de grande qualidade, nenhum daqueles premiado, o que realça ainda mais o mérito do cartoon vencedor, do português Augusto Cid, no qual um dirigente chinês carrega uma tocha olímpica, cujas chamas são os corpos de monges tibetanos…


4/5
Direitos Humanos – Porto
Cartoon World Festival 2008
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