Um quilo de piadas de Jerry Seinfeld
O humorista Jerry Seinfeld não resistiu a recolher as inúmeras piadas que já escreveu, contou ou representou na sua vida e publicou-as recentemente no livro Isto Tem Piada?
Isto Tem Piada? tem a espessura de um dicionário e são mais de 500 páginas de humor que reúnem muitos números de stand-up de Jerry Sinfeld e milhares de episódios humorísticos que o norte-americano escreveu e apresentou durante várias décadas, mais precisamente as entre a de 1970 e a de 2010.
Fora da apresentação que Seinfeld faz no início do livro, não existem muitos momentos sérios neste "dicionário" mas, por entre tantas frases, há muito de confessional. Não é um livro de memórias, diga-se já, mas muito daquilo que viveu e conviveu nos palcos e fora deles navega pelas folhas deste volume.
Seinfeld só lamenta este livro num aspeto: "Fico frustrado perante a ideia de que, se o leitor se rir de alguma coisa que vai ler aqui, não vou poder ouvi-lo." Diz que esse é o seu motor e que "quando apresentamos uma nova piada e ouvimos umas boas gargalhadas, sentimos que voltamos ao início da jornada. Que somos outra vez novatos e que talvez sejamos minimamente bons."
Ao olhar para trás, Seinfeld garante que gostou de ser bem-sucedido. Mais: "Alegra-me ter feito dinheiro com o humorismo". Depois, como se se arrependesse do lado financeiro, explica: "Para ser franco, juro que o que me moveu foram os risos, desde o primeiro dia até hoje". Ótimo, acreditamos no Jerry e que não estará a gozar connosco.
Segundo o humorista, a classe do stand-up é sempre engraçada: "Nunca encontrei um humorista que não fosse minimamente engraçado". No entanto, garante que só os que se mataram a trabalhar em material novo é que atingiram a fama - ou chegaram perto disso. E dá o seu exemplo: "Sempre que me ocorria alguma coisa engraçada, fosse no palco, numa conversa ou enquanto trabalhava uma piada no meu grande bloco de notas amarelo, guardava-a."
É por isso, diz, "que ainda tenho tudo o que pensei que valeria a pena guardar ao longo de 45 anos em que me matei a depurar o material". São esses projetos de uma vida que, esclarece, "de que gostava muito que me fizeram gastar um tempo infinito em algumas das ideias mais disparatadas que se possam imaginar. E aqui estão todas elas".
Para Seinfeld este sentimento de ter conseguido ser capaz de criar uma boa piada é muito importante e dá o exemplo de um seu amigo, Barry Marden, que vendia piadas a humoristas por 75 dólares cada, uma quantia muito boa para a época. Justificação: "Posso garantir que todos os humoristas que o leitor conhece sentem que o seu material não é tão bom como desejariam. Sobem ao palco com uma ligeira inquietação, porque queremos sempre mais".
Confessa que continua a sentir "o mesmo entusiasmo sempre que entro num clube de stand-up comedy. E tenho de admitir que parte disso se deve à sensação de que, onde quer que haja humoristas a trabalhar, existe também um campo de batalha. Apaixona-me o claríssimo resultado de vitória ou derrota que um lugar de stand-up pode ter. Em alguns aspetos é mais um desporto do que uma arte. "
Quando fez a sua primeira apresentação no clube nova-iorquino Catch a Rising Star, Jerry Seinfeld tinha 21 anos e ainda era estudante. Ainda estava longe do sucesso que a série televisiva com o seu nome lhe deu a nível mundial. Apesar dessa fama, já disse: "Estava mais do que satisfeito em aceitar ser um humorista mediano".
A organização deste livro corresponde ao que considera o seu melhor material e é apresentado pelas décadas em que teve origem.
Aqui vai o início de uma piada... "Lembro-me perfeitamente de quando ouvi pela primeira vez que alguém se preparava para lançar telemóveis com câmaras fotográficas.
Pensei:
Câmara fotográfica? Mas isto é um telefone.
É como se nos aparecesse uma escova de dentes na extremidade do comando do televisor..."
O final desta piada está na página 458 do livro de Jerry Seinfeld!
Editora Vogais
518 páginas