Um quarto das empresas sem caixa para um mês de salários
Um quarto das empresas portuguesas não tem almofada para suportar sequer um mês completo de salários num cenário de receitas zero e sem entradas da Segurança Social para cobrir lay-off de trabalhadores ou acesso extraordinário a crédito.
A análise é do Gabinete de Estratégia e Estudos do Ministério da Economia, num estudo publicado esta segunda-feira (4 de maio) que olha apenas para os setores do comércio, alojamento e restauração, indústria, construção e outros serviços. Faz as contas ao número de meses de salário que as empresas são capazes de suportar dependendo apenas do que têm em depósitos ou em caixa.
A conclusão é a de que uma parte muito significativa deste mundo empresarial vive de mês para mês a contar com a faturação para fazer frente à folha salarial.
Assim, 25% das empresas nacionais têm à mão recursos que cobrem em média 81% dos custos mensais com salários, o equivalente a 24 dias. Mas, pelo menos metade dos negócios do país conseguem ainda atravessar dois meses e meio sem receitas.
O estudo é publicado depois de a Confederação de Comércio e Serviços ter feito saber que haverá empresas portuguesas, muitas paradas devido ao estado de emergência que vigorou até ao último sábado, a atrasar salários de abril por ainda não terem tido acesso às linhas de crédito da pandemia ou apoios ao lay-off. Das perto de 100 mil empresas que os pediram, menos de 39 mil recebem até hoje as compensações vindas da Segurança Social.
Na análise por setores, o alojamento e a restauração têm as tesourarias mais fracas. Em 25% dos negócios, a caixa cobre 12 dias de salários. Já em termos medianos, a capacidade supera ligeiramente um mês, vai aos 35 dias.
Com as tesourarias mais robustas surgem as atividades do comércio. Mesmo entre os que têm a menor capacidade, a caixa cobre ainda assim 42 dias, bem mais de um mês de salários. Em termos medianos, a capacidade de responder às folhas de vencimento sem qualquer faturação atinge quatro meses.
Transportes e construção são os setores imediatamente atrás em termos de disponibilidades em caixa, com as tesouraria mais fracas a garantirem entre 23 e 24 dias de salário. Ainda assim, há metade dos negócios com capacidade de fazer face a sensivelmente dois meses e meio de salários.
Indústria e outros serviços surgem um pouco pior. Um quarto dos negócios tem caixa para suportar 20 dias de salário, mas há metade dos negócios nos quais a tesouraria aguenta mais de dois meses sem receitas.
O estudo distingue ainda as empresas por dimensão. As grandes empresas, com acesso mais fácil a crédito regular da banca, são aquelas que vivem com menos dinheiro seu imediatamente disponível. Entre 25% delas, a caixa cobre seis dias apenas, ou pouco mais de uma semana de vencimentos. Já nas microempresas, um quarto consegue suportar 26 dias de salários.
Maria Caetano é jornalista do Dinheiro Vivo