Um Natal sem estes livros não vale nada
Um livro ainda continua a ser a melhor prenda de Natal para muito gente e neste final de 2018 não faltam títulos da literatura portuguesa para escolher. Além do último António Lobo Antunes e de Gonçalo M. Tavares, por exemplo, pode-se encontrar uma longa lista de novidades. Vamos a algumas sugestões, cinco entre romances puros, romances/biografias e epístolas que fizeram escândalo na sua época
ELIETE
Dulce Maria Cardoso
Editora Tinta da China, 287 páginas
Depois de O Retorno, a escritora Dulce Maria Cardoso levou sete anos para publicar um novo romance, Eliete. Vale a pena porque, não estando o leitor perante Os Maias, é uma narrativa deliciosa sobre uma protagonista dos nossos tempos. O romance tem um truque literário muito bom, que é começar com uma referência a Salazar e conseguir passar até à antepenúltima página sem voltar ao assunto. Aí percebe-se que as últimas folhas são a garantia de que uma parte 2 está a caminho e que saberemos como vai continuar a vida da protagonista. Eliete está repleta de referências nacionais que só sendo bem trabalhadas como acontece é que não se tornam vulgares, pelo contrário, é o que faz lembrar Os Maias antes referidos.
A SAGA DE SELMA LAGERLÖF - ROMANCE BIOGRÁFICO
Cristina Carvalho
Editora Relógio D'Água, 178 páginas
Cristina Carvalho desvenda o modo de escrita numa informação inicial: "Este romance biográfico foi escrito a horas imprecisas do dia ou da noite; não obedeceu a nenhuma rotina disciplinada. Como em todos os actos de paixão, fui sobrevivendo em equilíbrios improváveis." É esse espírito que perpassa mal se pega no livro através de duas introduções que poderiam fazer parte do final, construído por Cristina Carvalho de forma muito sensível. Vão recolhendo pormenores de uma vida de forma aleatória, ora um pesadíssimo ganso, ora o quarto com a presença de Back-Kajsa, ora com muitas outras particularidades, mas sempre num diálogo entre as autoras: a biografada e a biógrafa.
CARTAS PORTUGUESAS
Coordenação e edição de Nuno Júdice
Editora Sibila Publicações, 128 páginas
A editora que só publica textos de mulheres, a Sibila, decidiu recuperar dois textos fundamentais: Cartas de Uma Religiosa Portuguesa e Cartas Familiares de Uma Ilustre Desconhecida. Como o responsável pela edição - Nuno Júdice - refere num prefácio muito completo, o segundo texto é onde se encontra o início da influência das Lettres portugaises na nossa literatura, que antes marcara Rilke e Matisse por exemplo, apesar de ser possível colocá-lo a par de uma edição de literatura de cordel, mesmo que o coordenador sugira que o autor desta prosa possa ser Almeida Garrett. A primeira parte recolhe as famosas Cartas de Mariana Alcoforado, correspondência muito falada mas que raramente se encontra numa livraria.
PRINCÍPIO DE KARENINA
Afonso Cruz
Editora Companhia das Letras, 189 páginas
O escritor Afonso Cruz surpreende sempre na busca que faz para encontrar um cenário inesperado para os seus romances e neste não deixa de insistir nessa premissa, tanto que é na antiga Cochichina que também localiza a história de um pai que conta a sua história a uma filha que não conhece. Há outros personagens para completar o que quer contar: a mãe, a empregada, a amante; e outros cenários: a Mealhada, a Herdade Nova, o Café Central... Até que chega o momento em que tudo se conjuga: "Aterrei em Ho Chi Minh". Como não é muito grande, lê-se logo no dia de Natal.
O Livro do Império
João Morgado
Editora Clube do Autor, 340 páginas
O romance histórico continua na moda na nossa produção literária e João Morgado decidiu fazer em O Livro do Império uma revisão da matéria histórica nas vésperas do desastre nacional de Alcácer-Quibir. Mesmo estando o país em crise, os vizinhos espanhóis de olho no retângulo e a Inquisição atenta aos desvios morais, há um poeta que não desiste de pôr Portugal num grande poema que está a escrever. É, claro, Camões protagonista deste relato que envolve Os Lusíadas e a pátria em situação periclitante. Para quem gosta de uma certa linguagem antiga e de temas épicos, aqui está a leitura certa.