A imprensa da especialidade chama-lhe a mais ambiciosa temporada televisiva de sempre: sexo (muito), espionagem, atmosferas policiais ou questões de identidade são conceitos recorrentes nas séries de TV que começam a estrear-se neste outono e se prolongarão por 2019. Mas há um pouco de tudo, e com selo vintage, como nas melhores mercearias gourmet. Afinal, vivemos a nova era dourada da televisão (Peak TV)..Só nos Estados Unidos, há 75 produções ficcionais que chegam ao fim da linha, incluindo os consagrados como House of Cards (cuja derradeira temporada, sem Kevin Spacey após as acusações de assédio sexual, está prestes a estrear-se entre nós via TVSeries), Scandal, Mozart in the Jungle, Brooklyn Nine Nine e Once Upon a Time (onde a portuguesa Joana Metrass se celebrizou)..A Peak TV continua dominada pelas plataformas de streaming (Netflix, Amazon Prime Video, Hulu): nos Emmys, cuja cerimónia decorreu nesta semana, a Netflix terminou com os mesmos prémios (23) do veterano gigante da subscrição premium por cabo HBO, a mesma Netflix que anunciara um investimento de 6,8 mil milhões de euros em conteúdos para 2019 (a HBO reservou para o efeito "apenas" dois mil milhões)..Europa entra no jogo.Mas não se pense que este gigantesco jogo de xadrez ocorre num tabuleiro exclusivamente yankee: Delphine Ernotte, atual diretora executiva da France Télévisions, anunciou que o conjunto dos canais europeus já investe o dobro da Netflix na produção de originais de ficção... Afinal, a produção espanhola da Netflix La Casa de Papel prova que o êxito global em língua não inglesa é possível, desde que catapultado por um sistema de distribuição eficaz (para se ter uma ideia do sucesso internacional, só em França a série foi visionada 17 milhões de vezes no primeiro semestre de 2018). O thriller castelhano terá uma aguardada terceira temporada, mas há mais apostas europeias de peso, como Leonardo, a estrear em 2019, com produção partilhada pela alemã SDF, a italiana RAI e a referida France Télévisions, evocando se os 500 anos da morte do génio florentino Leonardo da Vinci..Nos EUA, a lógica "mais é melhor" amplifica-se, com as big three, as grandes cadeias clássicas de TV (ABC, NBC, CBS), a meterem as fichas todas já no outono, enquanto o cabo de subscrição paga (HBO, Showtime) e o streaming (Netflix, Amazon, Hulu) prolongam a aposta até ao verão do próximo ano, de novo por causa dos Emmys. Os resultados estão à vista: em 2018, pela primeira vez e apesar da vitória de Guerra de Tronos na categoria dramática, a Netflix teve mais nomeações do que a HBO (112 contra 108)..Entretanto, com a enorme fusão FOX/Disney como pano de fundo, a Netflix ultrapassou o valor bolsista da Disney, embora esta se prepare para lançar o seu próprio serviço de streaming em 2019. Será assim um ano charneira, apimentado pelo recrutamento de um número cada vez maior de estrelas de cinema em produções TV/online: Julia Roberts ( Homecoming ), Sean Penn ( The First), Emma Stone ( Maniac ), Jim Carrey ( Kidding ), Isabelle Huppert ( The Romanoffs )....'Roma' e remakes.Mas a escala da ambição também se afere pela carta do prestígio. Como se viu pela recente vitória do (comenta-se que magnífico) Roma de Alfonso Cuarón (Y Tu Mamá También, Gravity) no Festival de Veneza de há 15 dias, longa-metragem comprada e a distribuir pela Netflix após o desprezo a que Cannes votou a empresa (por agora), os monstros do streaming não querem apenas absorver o mercado televisivo por via do online. Estão decididos a devorar largas fatias do mercado cinematográfico mundial. Às big three resta resistirem como podem à investida, recorrendo aos campeões do passado através de revivals ( Murphy Brown na CBS, The Good Place na NBC)..Se a HBO ou a Netflix ainda procuram a próxima Guerra de Tronos, (a HBO deposita grandes esperanças na sua versão televisiva da novela gráfica Watchmen , de Alan Moore e Dave Gibbons, adaptada ao cinema por Zach Snyder em 2009), a Amazon já encontrou o seu cavalo de Troia: uma colossal adaptação/remakede O Senhor dos Anéis de Tolkien, supervisionada por Damon Lindelof (Lost, The Leftovers), distribuída por cinco temporadas a partir de 2020 e com um número indeterminado de spinoffs. Preparem-se para a batalha..Veja aqui 20 séries que vão estrear-se nesta temporada: