De O Grande Showman para figura de prestígio no meio escolar: Hugh Jackman move-se bem dentro desta definição de personalidade colorida. O que não sabíamos é que seria capaz de pôr tanto carisma na pele de um personagem ao estilo Kevin Spacey. Falamos de Frank Tassone, o influente supervisor de um liceu de Long Island que foi apanhado no maior desfalque escolar da história americana. O caso é retratado com elegante humor negro em Bad Education, de Cory Finley, acabado de chegar à HBO, e conta ainda com uma excelente Allison Janney (quiçá melhor do que na "caricatura" de I, Tonya que lhe valeu o Óscar) num elenco que não brinca em serviço..Tassone é todo um acontecimento na comunidade. O homem que, em 2002, colocou o liceu de Roslyn na quarta posição do ranking das escolas da região de Long Island, no estado de Nova Iorque, apresenta-se como alguém extremamente cuidadoso com a imagem e um profissional de redobrada simpatia que dedica atenção aos pais dos alunos e se interessa por estes como ninguém, lembrando-se dos seus nomes e de detalhes que surpreendem os próprios. De cabelo negro brilhante penteado para trás, fato e gravata e um sorriso que combina com esta polidez da aparência, ele domina qualquer situação e encarna uma mensagem de sucesso. O filme de Cory Finley demora-se no estudo dessa personalidade dentro e fora do meio escolar, começando por dar um esboço da dinâmica irresistível entre ele e a sua cúmplice de gabinete, Pam Gluckin (Janney), sem que nada do esquema oculto de ambos seja por uma única vez verbalizado..O primeiro passo em falso é dado por Tassone, que na sua boa vontade responde às perguntas de uma aluna para um artigo corriqueiro do jornal escolar, deixando-a com um conselho mágico: "um verdadeiro jornalista transforma qualquer tarefa numa história". A rapariga não é particularmente ambiciosa, mas a frase produz efeito, e este será devastador... Já o segundo passo em falso atribui-se a Pam, apanhada em gastos avultados de dinheiro da escola para usufruto pessoal, quando não se sabia da missa a metade. Aí Tassone ainda dá conta do recado e salva a própria pele durante mais uns tempos..Baseando-se num artigo da New York Magazine, o argumentista Mike Makowsky alimenta a sátira inteligente de Bad Education com a experiência pessoal de ter sido aluno do liceu na altura do escândalo - um ponto valioso nos pormenores do ambiente escolar que serve de cenário à figura de Frank. Hugh Jackman, com lábia e brilhantina, trata do resto. Ele é de uma habilidade extraordinária a gerir os (vários) segredos do personagem num clima de discreta ameaça, e condensa na expressão o delírio e tragédia prestes a rebentar. O seu charme não está numa performance carregada de tiques mas, pelo contrário, na capacidade de moldar o humano dentro da anedota amarga, que o realizador Cory Finley estende com toque formal e faixas musicais bem alinhadas..Eis, por fim, a deliciosa ironia de tudo isto: o desvio de dinheiros públicos por Frank Tassone e a sua cúmplice - um total de 11 milhões de dólares - chegou às redações americanas através de um artigo do jornal escolar de Roslyn, escrito por uma certa estudante de jornalismo cujo talento foi espicaçado por ele....*** Bom