Um fim de semana para aprender a cantar o "Hino à Alegria" de Beethoven

De 23 a 26 de abril, os Dias da Música, do CCB, são dedicados Beethoven, compositor de que se celebram os 250 anos. Oportunidade para fazer uma viagem pela obra.
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Não havia como escapar. No ano em que se celebram os 250 anos do nascimento de Ludwig van Beethoven (1770-1827), o festival Dias da Música, que se realiza de 23 a 26 de abril no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, vai ser completamente dedicado ao compositor que é "um dos maiores génios que a humanidade conheceu", nas palavras do programador André Cunha Leal. Conhecido pelo seu mau génio mas também pelo seu humanismo, o compositor alemão perdeu a audição antes dos 30 anos e foi, apesar disso, uma figura fundamental da passagem do período clássico para a música romântica, influenciando todos os que se lhe seguiram.

Na apresentação do programa, esta quarta-feira (4 de março), a maestrina Joana Carneiro não escondeu a sua paixão por Beethoven: "É o músico que me acompanha com mais frequência. A 1ª sinfonia de Beethoven foi também a primeira obra que dirigi, aos 18 anos, e com a qual percebi que queria fazer isto o resto da minha vida", contou. "A viagem pela obra de Beethoven é uma viagem do clássico para o romântico, e é também uma viagem de emancipação - emancipação ao nível da forma e da harmonia. A 1º sinfonia ainda está muito ligada ao classicismo do século XIX e a Haydn. Na 3ª sinfonia alguma coisa muda, por exemplo, já não há aquela introdução lenta, a música começa logo num turbilhão. Isso parece-nos natural agora mas foi uma revolução na altura. E na 5º sinfonia já vemos todos aquela narrativa do destino que nos bate à porta e que termina no triunfo. Até culminar na 9ª sinfonia, que nos fala do humanismo. Por isso, é uma viagem pela condição humana."

Nos Dias da Música poderemos acompanhar esta viagem. O programa inclui a única ópera de Beethoven, sete das nove sinfonias, a integral dos concertos para piano e pelo menos metade das sonatas para piano, entre outras obras. "Num ano em que o país vai estar todo a celebrar Beethoven, quisemos apresentar aquelas obras maiores, que só poderiam ser feitas no CCB, que tem um Grande Auditório, deixando um pouco de lado a música de câmara", explicou André Cunha Leal.

Estão programados 36 concertos em sala, além das conferências, masterclasses e atividades para os mais novos. Há ainda concertos no recinto que - novidade - serão completamente livres, ou seja, ao contrário do que sempre aconteceu, este ano não é necessário comprar bilhete para aceder aos corredores, foyers e outros espaços onde, ao longo dos dias, haverá atividades. Será nesse espaço livre que, todos os dias, o público pode ouvir e é convidado a aprender a cantar o Hino à Alegria (que é também o Hino da União Europeia). O hino foi composto por Beethoven em 1823 como parte da 9ª sinfonia.

"São os 250 anos de Beethoven e coincide também com o 25 de abril, que é um momento fantástico da nossa história e que também queremos celebrar", justifica Elísio Summavielle, presidente do CCB. Além disso, pretende-se que haja "uma apropriação do público dos Dias da Música, sobretudo é isso que nos interessa, trazer cada vez mais público e procurar cumprir ao máximo essa ideia da Cidade Aberta".

Quanto ao orçamento desta edição, Summavielle afirma que "num fim de semana, praticamente um terço do orçamento do ano inteiro é investido aqui". "São cerca de 500 mil euros, o que é um esforço grande para nós, mas vale muito a pena."

No fim de semana anterior, 17 e 18 de abril, já haverá música de Beethoven no CCB, com destaque para o espetáculo de dança 9 (Neuf) da companhia Cas Public, coreografia de Hélène Blackburn com a nona sinfonia e que tem como ponto de partida o facto do bailarino Cai Glover ter (tal como o compositor) uma deficiência auditiva que, apesar de tudo, não o impede de prosseguir a sua carreira artística.

Mas a grande abertura do festival acontece na quinta-feira, dia 23, com A Heróica (sinfonia nº3), pela Jovem Orquestra Portuguesa dirigida por Pedro Carneiro. Beethoven começou por dedicar esta obra Napoleão Bonaparte que, ele acreditava, encarnava os ideais democráticos e anti-monárquicos da Revolução Francesa mas no final de 1804 retirou essa dedicatória.

O maestro explica que para si Beethoven "começou por ser uma paixão avassaladora para os ouvidos", para mais tarde, já como percussionista numa orquestra, começar a perceber melhor de onde vinha aquela música e seus muitos significados. "Esta é uma obra que pelo seu caráter humanitário pode ser considerada uma escola para todos nós, nos dias difíceis que vivemos", explicou Pedro Carneiro, que vai tentar passar aos 70 jovens que compõem a orquestra "a imagem de um herói, algures, que pode, através da luz e do fogo, iluminava a humanidade".

No dia seguinte, 24 de abril, é vez de Fidélio, a única opera de Beethoven, apresentada em versão concerto, pela Orquestra Sinfónica Portuguesa e o Coro do Teatro Nacional de São Carlos, com direção musical de Joana Carneiro. Uma obra que Beethoven demorou dez anos a escrever, tendo feito três versões antes de, finalmente, se mostrar satisfeito com a quarta versão, que apresentou em 1814. Quando o compositor começou a trabalhar na obra Viena tinha acabado de ser ocupada pelas tropas francesas e ele começou a ter problemas com a censura. Todos estes fatores são importantes para perceber a obra, explica Joana Carneiro. Fidélio é não só uma obra sobre a liberdade e um desafio à opressão como é também sobre o poder do amor e a persistência de uma mulher, Leonora, que não desiste de procurar o marido que tinha sido preso, mesmo depois de lhe dizerem que ele está morto.

No sábado, 25 de abril, imperdível é mesmo a recriação do Concerto de 1808 - um concerto de beneficência que aconteceu a 22 de dezembro de 1808 no Teatro de Viena, que incluiu a estreia da 5ª e a 6ª sinfonias, entre outras peças, e que se prolongou por quatro horas, com um intervalo pelo meio. No CCB, o concerto original será dividido em três concertos diferentes, todos interpretados pela Orquestra de Câmara de Viena com direção de Bruno Borralhinho. E num deles com a participação do Coro Participativo Dias da Música, dirigido pela maestrina Filipa Palhares, que se apresenta pela primeira vez.

A programação completa dos Dias da Música está disponível no site do CCB. Os bilhetes já estão à venda, com preços que vão dos 4 euros aos 22 euros.

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