Um em cada três jogadores podia representar outro país

Entre os 552 atletas inscritos no Euro 2016, 166 podiam vestir a camisola de outra seleção. Doze deles são portugueses. A França é a equipa com maior diversidade de origens
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Éric Cantona, bem ao seu estilo, lançou a polémica em França, ao acusar o selecionador Didier Deschamps de ser "racista", por ter deixado Benzema (de origem argelina) e Ben Arfa (tunisina) de fora da lista de convocados para o Euro 2016. "Ele tem um verdadeiro nome francês. Deve ser o único na seleção a ter um nome 100% francês. Ninguém na família dele se misturou com pessoas de outra raça, sabiam? É como os mórmons nos Estados Unidos", criticou.

Sagna, lateral-direito da seleção francesa, considerou que as críticas de Cantona foram uma "estupidez", uma vez que o futebolista do Manchester City tem raízes senegalesas. E como ele há mais 14 colegas de seleção que poderiam estar a representar outro país, ora por terem nascido fora de França ou crescido fora do país, ora pelos pais terem outras nacionalidades.

Segundo um estudo publicado pela NetBet, a França é a seleção com mais jogadores que poderiam estar a representar outro país. No total, são 15 os casos. Cantona considerou que o facto de Benzema e Ben Arfa serem filhos de pais de outras nacionalidades interferiu nos critérios de Deschamps, mas a avaliar pela diversidade cultural do plantel gaulês dificilmente terá sido o caso.

Afinal, Kingsley Coman e Martial têm raízes em Guadalupe, Pogba é filho de pais guineenses, Matuidi tem ascendência angolana, a família de Payet vem de Reunião (no oceano Índico, a leste de Madagáscar), Koscielny é filho de imigrantes polacos e Mangala chegou a jogar pelas seleções jovens da Bélgica. Qualquer um destes jogadores era elegível para outra seleção.

Segundo os dados da NetBet, apenas a Roménia tem um elenco "100% romeno". Nenhum dos internacionais tem origens ou pais que lhes permitiriam jogar por outro país. República Checa, Eslováquia e Islândia só têm um jogador nesta condição.

No lado oposto, a Suíça tem 14 jogadores que podiam representar outra nação, sendo Granit Xhaka o caso mais curioso: o irmão Taulent escolheu jogar pela Albânia e os manos Xhaka já se defrontaram neste Europeu. A diversidade cultural abunda nas seleções dos Balcãs e a Albânia é um forte exemplo, com 13 jogadores na referida condição - tantos quanto a Bélgica, outro exemplo multicultural.

Portugal surge logo a seguir na lista, com 12 futebolistas. Os casos de Anthony Lopes, Raphaël Guerreiro e Adrien Silva são os mais curiosos, pois estão a disputar o Europeu num país que poderiam representar. Todos eles nasceram em França, mas só Adrien veio viver cedo para Portugal. Anthony e Raphaël mal sabiam falar português quando começaram a ser chamados à seleção.

Em Portugal, há uma longa tradição de jogadores da seleção com ascendência dos PALOP. William Carvalho, em 2013, recusou representar Angola, país onde nasceu. Nani podia ser a estrela da seleção de Cabo Verde e Éder e Danilo Pereira podiam estar a representar a Guiné-Bissau. O caso de Cédric é singular, pois nasceu em Gelsenkirchen, na Alemanha. Outros jogadores, como Renato Sanches e Eliseu, sempre viveram em Portugal, mas pela ascendência familiar podiam ter representado outras nações.

Já Pepe, nascido no Brasil, é um dos seis futebolistas que foram naturalizados com o objetivo de representar a seleção nacional. Os outros foram Lúcio Soares, David Júlio, Celso Matos, Deco e Liedson.

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