O Estoril Open 2019 tem a particularidade de ser quase 100% made in Portugal. Desde o supervisor ao fisioterapeuta, passando pelos árbitros e pelos tenistas, são meia dúzia (Gastão Elias e João Domingues podem juntar-se se passarem o qualifying) os profissionais do país que acolhe o torneio. É habitual a Associação de Tenistas Profissionais nomear ou designar profissionais de outras nacionalidades até para evitar facilitismos, mas desta vez são vários os portugueses que vão coincidir no Clube de Ténis do Estoril entre hoje e 5 de maio..Para o diretor do torneio, João Zilhão, é "lisonjeador" ver tantos portugueses no único evento ATP de Portugal, pois "é sinal" de que a mão-de-obra lusa é boa e serve os pressupostos mundiais do ténis, seja na cabina, court, gabinete médico ou na cadeira do poder. Mas não é essencial ao sucesso do projeto: "Temos grandes profissionais em várias áreas do ténis e é bom tê-los no único evento ATP em Portugal, mas a nacionalidade não é o mais importante para o sucesso do torneio, não queremos ficar no nosso ninho. Mas ter um português a ganhar um torneio ATP em Portugal é mais do que se podia sonhar. Foi um sinal importante que até no court os portugueses conseguiam vencer.".Neste ano, Carlos Sanches, o único português supervisor da Associação de Tenistas Profissionais (ATP), volta ao Estoril para controlar tudo o que se passa nos courts e fora. Tem 55 anos e está radicado na Áustria (por amor a uma austríaca). É um dos seis supervisores ATP e tem a seu cargo 20 a 25 torneios por ano. Foi ele quem deu o aval ao Estoril Open nesta nova versão, e será ele a fazer o relatório deste ano que traçará o destino do open português em 2020 e 2021. "É um torneio com uma imagem de marca muito forte, quase familiar, que os jogadores gostam e que se enquadra perfeitamente no nosso calendário", disse Carlos Sanches ao DN. Segundo foi possível apurar, em 2018, nenhum atleta apresentou qualquer reclamação do open português ao ATP, o que não deixa de ser raro e notável..Juízes que enfrentaram Serena.Da mesma geração de Carlos Sanches, Carlos Ramos também marcará presença no torneio como árbitro de cadeira. Depois de ter corrido mundo à boleia das imagens de uma discussão feia com Serena Williams, o juiz voltou a ser designado para o evento português. Fã de John McEnroe, tirou o primeiro curso de arbitragem em 1987 e em 1991 adquiriu o primeiro nível da Federação Internacional de Ténis (ITF). Agora está radicado em França e é habitual vê-lo sentado na cadeira do poder em finais de torneios com Nadal, Federer ou Djokovic..O lisboeta terá a companhia de Mariana Alves, a outro árbitro de cadeira portuguesa, entre a elite mundial. A juiz dos quadros do WTA já tinha estado no Estoril Open em 2016, mas não coincidiu com Carlos Ramos, que arbitrou em Portugal em 2017 e 2018. Filha de um juiz de linha, cresceu no mundo do ténis e cedo se habituou a ir aos torneios com o pai. Daí até lhe seguir os passos foi um ápice. No final dos anos 80 começou por ser juiz de cadeira em pequenos torneios nacionais. E nunca mais parou. Hoje integra a elite da WTA, o circuito feminino, mas por vezes é requisitada pelo ATP ou pede para integrar jogos do circuito masculino. Curiosamente, também já teve um sururu com Serena Williams. Foi durante o US Open de 2004, num jogo entre a americana e Jennifer Capriati..Além do supervisor ATP e dos dois árbitros, neste ano até o fisioterapeuta do torneio é português. "Eu jogava ténis e durante as lesões fui-me interessando pela fisioterapia. Depois de me formar, os meus ex-colegas, que entretanto tinham virado treinadores, foram encaminhando os atletas deles para eu treinar e assim entrei neste mundo", contou David Pires ao DN, ele que é o único fisioterapeuta luso do ATP..Habituado a ler estudos e casos do diretor clínico do ATP, um dia pediu-lhe um estágio. E assim foi parar aos Estados Unidos durante um mês, até que o convidaram para integrar a comitiva médica do antigo Estoril Open como fisioterapeuta local. Aceitou e daí até entrar nos quadros do ATP foi uma questão de abrir uma vaga. Agora passa 32 semanas fora de casa, a viajar de torneio em torneio. Neste ano calhou-lhe o open português no calendário..E como o Estoril Open não é possível sem tenistas, há ainda João e Pedro Sousa certos no quadro principal. E mais dois portugueses com hipótese de passarem o qualifying - Gastão Elias e João Domingues. A aposta em atletas nacionais tem sido consistente (cinco/seis por ano, desde 2015), sempre com João Sousa à cabeça. O melhor tenista luso de todos os tempos é o nono da lista no torneio em que vai defender o título, depois do tão celebrado sucesso do ano passado..O outro Sousa (que por vezes é confundido com João nos torneios internacionais) é o atual número dois português e no ano passado teve uma participação para recordar na prova. Primeiro eliminou o ex-top 10 francês Gilles Simon e depois travou uma dura e dramática batalha com o amigo/homónimo (ainda dispôs de match points), em ambos os casos no tiebreak do terceiro set. O lisboeta é filho da velha glória do ténis nacional Manuel "Manecas" de Sousa..Cartaz mais forte de sempre."O melhor elenco desde 2015." Assim o define João Zilhão, que há cinco anos, ainda na fase de preparação do renovado Estoril Open, apostou de "forma consciente" num quadro de jovens valores, que agora dominam o top mundial e se sentem de alguma forma agradecidos ao torneio e voltam. "Fizemos um esforço para trazer o Tsitsipas, mas não foi fácil, e para o ano já não teremos dinheiro para ele. É um miúdo fotogénico e popular que pode chegar a número um", resumiu o diretor do Estoril Open, contente com o cartaz conseguido: "A edição deste ano vai ficar sobretudo marcada pela singularidade de João Sousa defender o título conquistado em 2018 e ainda pela estreia de dois tenistas tão carismáticos quanto espetaculares como Gaël Monfils e Fabio Fognini.".Além da aposta nos portugueses, neste ano o open conta com 14 nacionalidades. O "veterano gigante" sul-africano Kevin Anderson fez um pausa na terra batida e deixou o lugar de cabeça-de-cartaz para o "mediático e futuro número 1", o jovem grego Stefanos Tsitsipas, que tem assumido algum protagonismo nos últimos Grand Slam..Depois há "o irreverente e fabuloso" italiano Fabio Fognini, o "acrobático e espetacular" francês Gael Monfils, o "combativo" jovem australiano Alex de Minaur, o "prodígio" americano e vice-campeão Frances Tiafoe, o "tomba-gigantes" australiano John Millman, "o possante" francês Jérémy Chardy, o campeão João Sousa e, por último, através de um wild card, o belga David Goffin, atual n.º 22 do ranking.