Ucrânia: Governos da Suécia e Finlândia justificam aos deputados opção pela NATO

Kremlin garante que está a acompanhar de perto o o debate na Suécia sobre a entrada do país na NATO e já advertiu ambos os países nórdicos de que a adesão à NATO é um erro grave.
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As primeiras-ministras da Suécia e da Finlândia defenderam esta segunda-feira nos respetivos parlamentos a adesão à NATO, justificando ser a melhor forma de garantir a segurança dos dois países nórdicos, na sequência da invasão russa da Ucrânia.

Na abertura do debate em Estocolmo, a primeira-ministra sueca, Magdalena Andersson, disse que a Suécia "precisa de garantias formais de segurança que venham com a adesão à NATO", numa alusão ao princípio de defesa coletiva em caso de agressão contra um dos membros da Aliança.

"A Suécia pode ser mais bem defendida no seio da NATO", justificou Andersson, citada pela agência norte-americana AP.

A chefe do Governo reconheceu que "não é uma decisão que se tome facilmente" e representa uma "mudança histórica" na abordagem da política de segurança da Suécia.

"Mas, apesar de o não-alinhamento nas suas várias formas ter servido bem a Suécia durante 200 anos [desde as Guerras Napoleónicas], é minha opinião que não vai servir tão bem a Suécia no futuro", afirmou, segundo a imprensa sueca.

"Infelizmente, não temos razões para acreditar que a tendência [das ações da Rússia] se irá inverter num futuro previsível", disse Andersson, lembrando que a decisão de aderir é tomada em conjunto com a vizinha Finlândia.

Andersson prometeu ainda que a Suécia não irá mudar a sua política externa independente centrada na igualdade, democracia, direitos humanos e desarmamento nuclear.

Em Helsínquia, a primeira-ministra finlandesa, Sanna Marin, disse que a Rússia é o "único país que ameaça a segurança europeia e que está a travar abertamente uma guerra de agressão".

"O nosso ambiente de segurança mudou fundamentalmente", disse Marin na abertura do debate, citada pela agência francesa AFP.

De acordo com a imprensa finlandesa, pelo menos 85% dos 200 deputados votarão a favor da candidatura à Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO).

Devido ao grande número de discursos previstos, mais de 150, a votação poderá não ocorrer esta segunda-feira, advertiu o presidente do parlamento, Matti Vanhanen.

O debate no parlamento sueco também deverá ser uma formalidade, dado que uma clara maioria de deputados é a favor da adesão, depois do apoio decisivo dado pelo Partido Social-Democrata, no poder, no domingo.

A Rússia partilha uma fronteira terrestre com a Finlândia com uma extensão de mais de 1.300 metros e uma fronteira marítima com a Suécia.

Um dos objetivos russos para justificar a invasão da Ucrânia, em 24 de fevereiro, foi impedir o país vizinho de aderir à NATO e, consequentemente, travar o que Moscovo denuncia como o "cerco" que lhe tem sido montado pela Aliança Atlântica.

A presidência russa garantiu esta segunda-feira estar a acompanhar de perto o debate na Suécia sobre a entrada do país na NATO, depois de o partido no poder ter anunciado, no domingo, uma posição favorável à adesão.

"Estamos a acompanhar com muito cuidado o que vai acontecer e tomamos nota de todas as declarações", disse o porta-voz da presidência russa (Kremlin), Dmitri Peskov.

Peskov defendeu que a entrada da Suécia e da Finlândia na NATO (Organização do Tratado do Atlântico Norte, também conhecida como Aliança Atlântica) "não irá contribuir para fortalecer a arquitetura de segurança" do continente europeu.

"É um assunto sério e uma questão que nos preocupa. Vamos acompanhar com muito cuidado as consequências práticas que a entrada da Suécia e da Finlândia na NATO possam ter para a segurança" da Rússia, disse o representante do Kremlin.

Peskov lembrou, no entanto, que Moscovo não tem disputas territoriais com nenhum dos dois países nórdicos, ao contrário do que acontece com a Ucrânia, lamentando os planos de Estocolmo e Helsínquia de aderir à Aliança Atlântica na sequência da campanha militar russa na Ucrânia.

"Se a Ucrânia se tornasse membro da NATO, haveria uma disputa territorial com um membro da Aliança, o que acarretaria enormes riscos para todo o continente", admitiu o porta-voz, sublinhando que com a Finlândia e a Suécia

Paralelamente, o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros russo Serguei Riabkov reafirmou esta segunda-feira a posição de Moscovo de que a adesão da Suécia e da Finlândia à NATO é um erro grave.

"Este é outro erro grave com consequências de grande alcance", disse Riabkov, citado pela agência russa Interfax.

Portugal apoia a decisão esta segunda-feira anunciada pela Suécia de se candidatar à NATO e conta estar "entre os mais rápidos" dos 30 países-membros a ratificar a adesão tanto da Suécia como da Finlândia, disso o ministro dos Negócios Estrangeiros.

Em declarações aos jornalistas à margem de um Conselho de ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia (UE), em Bruxelas, João Gomes Cravinho, questionado sobre o desejo da Suécia de se tornar membro da Aliança Atlântica, esta segunda-feira oficialmente anunciado por Estocolmo, começou por dizer que "o Governo português tomou nota e apoia esta decisão do Governo sueco, tal como em relação à posição assumida pelo Governo finlandês".

"Eu recebi há pouco uma mensagem da minha colega sueca a comunicar essa decisão por parte do Governo sueco. Sabemos que ainda há tramitação parlamentar, na Suécia e na Finlândia, mas a posição do Governo português será de acolhimento muito positivo e de apoio para a adesão rápida da Suécia e da Finlândia", disse.

O chefe da diplomacia portuguesa sublinhou a necessidade de haver "um processo de adesão acelerado", atendendo às circunstâncias atualmente vividas na Europa, com a agressão militar russa na Ucrânia, e garantiu que não será Portugal a atrasar os procedimentos.

"A aprovação política eu acredito que será feita antes da cimeira [da NATO] de junho, em Madrid, e depois a rapidez da adesão vai depender do mais lento dos 30 países [membros] atuais em termos de ratificação, e Portugal não será o mais lento seguramente e esperamos que esteja entre os mais rápidos", disse.

Questionado sobre se Portugal estaria disposto a facilitar o diálogo entre os dois países candidatos e a Turquia, que recentemente levantou reservas à entrada da Suécia e da Finlândia por estes dois países acolherem militantes curdos que Ancara considera terroristas, Gomes Cravinho estimou que não será necessária qualquer intermediação para que os três países cheguem a um compromisso.

"Eu creio que há uma boa base de diálogo que já está em curso entre a Turquia e a Finlândia e a Suécia. Não creio que seja necessário [facilitar o diálogo]. Nós somos amigos dos três países envolvidos, mas penso que neste momento eles saberão encontrar uma plataforma de consenso", declarou.

Já quanto às críticas e ameaças da Rússia, que se opõe fortemente ao alargamento da Aliança a estes dois países, comentou simplesmente que "a decisão sobre a entrada de novos países na NATO é uma decisão que compete aos países e aos aliados da NATO, não compete a mais nenhum país terceiro".

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