Num ano marcado pela proteção dos oceanos, este mês em que se celebra o Dia da Europa e o Dia Europeu do Mar vai ter uma iniciativa inédita, com um trimaran 100% sustentável em missão pelo mediterrâneo e com ponto de partida em Portugal..O trimaran raro da Fundação KRESK 4 OCEANS, e tão inovador que apenas existem sete exemplares com estas características em todo o mundo, esteve de passagem pela Marina de Cascais para sensibilizar a população para o tema da poluição dos oceanos e esta segunda-feira partirá em direção a Barcelona, Marselha, Genova e Túnis com a missão de aumentar a consciência sobre os últimos desafios ambientais..Benoit Beyls - CEO da empresa KRESK Cosmetics - explica ao DN que esta missão tem a duração de três semanas e vai percorrer cinco países: Portugal, Espanha, França, Itália e Tunísia. "Portugal é a porta de entrada na Europa e um país com uma longa tradição marítima. Como tal, considerámos que fazia todo o sentido que esta primeira missão fosse pelo Mediterrâneo e que passasse por estes cinco países distintos", justifica..Já a escolha das datas "não foi aleatória, uma vez que o ponto de partida é Cascais, no Dia da Europa, a 9 de maio, e passa por França no Dia Europeu do Mar, a 20 de maio. Por fim, a viagem termina na Tunísia, a 29 de maio", frisa..O trimaran sustentável não passa despercebido, com uns respeitáveis 32 metros de comprimento, 23 metros de largura e 15 toneladas de peso. Segundo Benoit, "foi construído com o objetivo da sustentabilidade em mente. Foram necessários 40 meses de construção e 150 mil horas para se chegar ao resultado final. É um trimaran de linhas limpas, design futurista e com um casco múltiplo, capaz de "voar" a alta velocidade, mesmo não tendo um motor"..Diversos estudos recentes apontam que, nos próximos anos, o oceano pode vir a ter mais plástico do que peixes. Isto porque todos os anos são produzidos em média 300 milhões de toneladas de plástico e, dessas, oito a 12 milhões acabam nos oceanos..Perante estes dados, a Fundação KRESK 4 OCEANS foi criada no verão de 2021 com o objetivo de contribuir para a Década da Ciência dos Oceanos, um programa da UNESCO para 2021-2030. Assim, "com uma grande paixão pelo mar e conscientes dos números alarmantes de poluição que podem comprometer a fauna e flora marinhas", resolveram "ir para o mar e agir em defesa dos oceanos"..Com o apoio das marcas SRV, Lazartigue e Fillmed, a Fundação realiza ações com foco em terra, no mar e "no homem". Em terra, a Reduce4Oceans recolhe o plástico mesmo antes de chegar ao oceano e cria redes de "upcycling" (reaproveitamento) para que o lixo se transforme em produtos ou materiais úteis. No mar, a Sail4Oceans proporciona um melhor entendimento dos poluentes e contaminantes e, "para o ser humano", a Educate4Oceans educa as diversas gerações sobre preservação do património e desafios na proteção do oceano..Para padrinho honorário português deste trimaran, a KRESK 4 OCEANS nomeou Miguel Lacerda, um ambientalista e mergulhador profissional que recolhe lixo dos oceanos desde 1981.."O Miguel tem uma vida dedicada ao mar e à recolha de lixo e plásticos do oceano. Partilhamos a mesma paixão, valores e um espírito de missão, e, por tudo isto, achámos que era a pessoa certa para ser o padrinho português", diz Benoit Beyls..Miguel Lacerda dedica-se ao estudo das espécies e à luta contra a poluição dos oceanos, tendo já feito 19 travessias atlânticas para recolha de lixo - e em junho partirá para a sua 20.ª travessia..Através da associação ambiental Cascaisea, que fundou em 2019, já realizou centenas de ações, com ajuda de voluntários, para limpar zonas não acessíveis a todos os cidadãos, como rochas e falésias, mas que acumulam diverso lixo marinho. Só em 2021, realizou 224 ações, na qual se recolheram mais de 230 mil litros de lixo..O ambientalista assume uma luta pela proteção dos oceanos e urge para a necessidade de medidas a nível mundial que contornem a problemática que vivemos nos dias de hoje. "Custa-me ver que estamos a deixar às gerações vindouras o mar num estado degradado e que não vão ter a possibilidade de desfrutar aquilo que nós desfrutamos", admite ao DN..Quanto à sua nomeação como padrinho honorário, Miguel conta que "é uma honra". "Fico muito contente por poder estar associado a esta missão. É bom cada vez mais começar a ver empresas com esta sensibilidade, a apoiar projetos e a falar do assunto. Convidarem-me para ser o padrinho português do projeto é um reconhecimento do meu trabalho e estou muito agradecido"..ines.dias@dn.pt