O julgamento em que Avelino Ferreira Torres e o filho Fernando estão acusados de burla qualificada na forma tentada foi hoje adiado. O tribunal aceitou o pedido do Ministério Público para que seja realizada uma perícia médica pelo Instituto Nacional de Medicina Legal, de forma a avaliar se o arguido sofre de demência e se é inimputável..A advogada de Ferreira Torres informou os juízes do tribunal de São João Novo, no Porto, que Ferreira Torres está atualmente internado com uma infeção pulmonar..Perante dois atestados, de um psiquiatra e de um neurologista, em que este último afirma que o ex-autarca de Marco de Canaveses sofre de demência e pode ser inimputável, o tribunal quer esclarecer a situação clínica e pede assim um relatório médico que considera indispensável para a realização do julgamento..Alegada burla de 1 milhão de euros.Em julgamento está uma alegada burla de um milhão de euros. Segundo a acusação do Ministério Público, no dia 23 de novembro de 2012, o empresário de construção civil Gaspar Ferreira da Silva foi informado pelo gerente de um banco que as suas contas estavam penhoradas por ordem judicial. Em causa estava a execução de uma suposta dívida superior a um milhão de euros a Avelino Ferreira Torres, autor da ação..Inconformado, Gaspar Ferreira da Silva queixou-se no Departamento de Investigação de Ação penal (DIAP) do Porto alegando que a carta que ditou a ordem de penhora, supostamente por si assinada a confessar a dívida, era forjada. O Ministério Público investigou e concluiu que a assinatura de Gaspar Silva na missiva foi mesmo falsificada e acusou o ex-autarca do Marco de Canaveses e o seu filho Fernando por essa falsificação e por crimes de burla qualificada na forma tentada..A penhora chegou a ir avante devido à forma como Avelino Ferreira Torres terá apresentado, em outubro de 2012, o pedido com o documento forjado. Requereu que a penhora fosse executada sem a citação prévia do executado com a justificação de um "alegado receio de perda patrimonial" e com testemunhas a garantir esse perigo. O juiz aceitou e a penhora avançou. Só mais tarde foi anulada..Avelino Ferreira Torres e Gaspar Ferreira da Silva conhecem-se há muitos anos e o primeiro é mesmo padrinho de um dos filhos do empresário. Eram muito próximos, reconhece o antigo autarca na contestação que apresentou, em que fala do amigo "humilde e de parcos recursos", a quem muito ajudou até na compra da primeira casa. É dessas ajudas que Avelino diz ter nascido a dívida mas nunca explicou exatamente em que momento entregou dinheiro nem apresentou documentos. Gaspar Silva diz que não há dívida nenhuma e é nisso acompanhado pelo Ministério Público. Desde 2004 que se iniciou a zanga entre os dois, com agudização do conflito em 2011 e 2012, culminando no processo de execução da alegada dívida..O despacho de pronúncia, após pedido de instrução pelos arguidos, diz que pai e filho Ferreira Torres, "com o objetivo de ludibriar terceiros, em particular a administração da justiça e os tribunais, e de por esse meio obterem avultados ganhos para as suas pessoas à custa do património do ofendido Gaspar Ferreira da Silva, urdiram um plano que executaram de forma concertada e em conjugação de esforços e intentos, que consistia em forjar um documento de confissão de dívida de elevado valor, cuja assinatura foi certificada por ato de "reconhecimento de assinatura" de molde a prover tal documento de força executiva que utilizaram para proceder à cobrança coerciva da alegada dívida"..Ferreira Torres diz que Gaspar Silva fugia aos seus pedidos de pagamento desde 2004. É neste contexto, que o MP diz ser "altamente improvável, que surge a denunciada atitude de assunção de uma dívida, cujos sinais, durante oito longos anos, se tinham resumido a uma esforçada tentativa de cobrança extrajudicial."