A festa de apresentação da "Príncipe + Real" foi no passado dia 9 no Jardim do Príncipe Real, mas a ideia de criar uma associação que unisse moradores e comerciantes já vinha de trás. "Já há oito, talvez dez anos, que alguns dos interlocutores ali do bairro andavam a namorar a ideia, quando se juntavam e conversavam sobre esta necessidade. A verdade é que os anos foram passando e foi agora, em plena pandemia, há pouco mais de um ano, que o núcleo do Príncipe Real se reuniu e disse "vamos lá dar ação a esta intenção que todos achamos que é mais do que pertinente"", conta ao DN Patrícia Luz, responsável pela "Príncipe + Real"..A primeira abordagem a moradores e lojistas foi feita em outubro do ano passado, batendo de porta em porta e recolhendo contactos. "Fizemos um primeiro mailing a dizer que tínhamos esta intenção, que queríamos formar esta associação e que estávamos no ponto menos um, estávamos à espera que as pessoas se juntassem e falassem sobre a pertinência de fundar a associação ou não. Das respostas que tivemos constituiu-se um grupo pequenino de talvez 15 ou 20 interlocutores, e com esse grupo consolidámos os sócios fundadores e avançámos com todo o processo burocrático para criar uma associação", lembra Patrícia. Entre os membros fundadores estão a imobiliária EastBanc - cujo CEO, Tiago Eiró, é também presidente da associação -, a Uzina, o Hotel Memmo, a Casa Oliver, a Príncipe Real Advogados, entre outros. "Temos também três moradores, uma é estrangeira, representando assim a comunidade estrangeira do bairro, que é grande", acrescenta a responsável da associação. Existe também um Conselho Consultivo que é constituído pela Junta de Freguesia de Santo António e a Junta de Freguesia da Misericórdia, as duas que abrangem o bairro, além da Santa Casa da Misericórdia, a Brotéria e a Igreja Paroquial de São Mamede..Nas palavras de Patrícia Luz a "Príncipe + Real" é uma associação diferente das outras e que pretende criar um espírito de vizinhança. "Somos uma associação do bairro. É mesmo do bairro, com todos os interlocutores que o bairro tem. É moradores, é senhorios, é lojistas, são empresas, são investidores, são associações, é o poder autárquico. Este é um conceito um bocadinho inovador, acho que não é um formato muito português, mas na América existe muito isto, existe muito a noção de que cada bairro é uma comunidade e as pessoas devem conhecer-se e devem trabalhar em conjunto esses laços comunitários"..Os sócios fundadores da "Príncipe + Real" apresentam como três os eixos de intervenção da associação, mas Patrícia Luz gosta de sublinhar que "o plano de ação é algo que vamos desenhar com as pessoas que se juntarem a nós". "O primeiro eixo é o da coesão, que tem tudo a ver com a identidade do bairro e com o ADN que é muito próprio do bairro e que nós gostávamos muito de preservar e de unificar. Podem ser ações de especificação do bairro, como podem ser coisas mais solidárias, como atender à população mais vulnerável encontrando formas de vizinhança mais coesas. O segundo eixo, o das melhorias, é bastante óbvio. Há pontos de vista comuns entre todos, como a questão do tráfego, a gestão dos lixos, há aqui coisas que em trabalho com a autarquia podemos melhorar. E depois temos o eixo da dinamização, em que não pretendemos uma multiplicação de eventos só porque sim para animar o bairro. A nossa intenção é o que podemos fazer acontecer no bairro de forma a que todos gostem, que tenham a identidade do bairro, e que este seja um lugar que pertença aos seus habitantes, mas que também se abre quer aos turistas, quer aos outros lisboetas"..Com a associação constituída oficialmente e com estas ideias iniciais em mente, a apresentação oficial da "Príncipe + Real" foi feita no passado dia 9 com uma festa no Jardim do Príncipe Real. "A festa foi ótima. Mas teve uma grande preparação por trás para que as pessoas não fossem surpreendidas. Fizemos um porta a porta para dizer que isto ia acontecer e para convidar as pessoas. Houve muitos moradores que se aproximaram de nós e disseram "eu sou morador, sei que a associação vai existir", foi muito curioso e nem estávamos à espera. Admirou-nos muito porque, sejam moradores, sejam comerciantes, a grande maioria disse "que bom, há muito tempo que pensamos que isto fazia sentido, somos um bairro muito próprio, por isso faz todo o sentido as pessoas comunicarem e termos um plano de ação comum". Isso foi uma boa surpresa que eu senti quando fiz o porta a porta e depois confirmou-se na festa no jardim", lembra a responsável da associação..Depois da festa começa aquilo a que Patrícia Luz chama da "segunda fase da vida da associação, a recolha de todas as sugestões que as pessoas têm". "Daquilo que pude ir ouvindo posso resumir em duas principais: uma tem a ver com a comunicação, as pessoas conhecerem-se e poderem comunicar umas com as outras, de haver uma plataforma onde possam comunicar; a outra é a questão das melhorias efetivas, acho que há preocupações como a questão do trânsito, a questão do barulho ou a questão da limpeza"..A "Príncipe + Real" ainda não tem sede física, mas tem para já uma página no Instagram e os contactos de Patrícia Luz, número de telemóvel e email, foram divulgados num porta a porta. Para breve está também o lançamento de um site. "Será um espaço onde as pessoas poderão ler sobre a associação e comunicar connosco, seja porque estão lá os contactos, seja porque estão lá os formulários para se inscreverem como sócios, ou porque há lá também um espaço giro que é o "Conte-me a sua história", onde as pessoas podem contar as suas histórias sobre o bairro, a sua vida. Será uma plataforma de partilha", explica..Essa recolha de histórias é precisamente um dos projetos da associação, que pretende assim mostrar a diversidade do bairro, que vai muito para lá do eixo central que vai do Largo do Rato ao Miradouro de São Pedro de Alcântara. "Quando somos visitantes do bairro normalmente achamos que o Príncipe Real é isso, com aquele jardim amoroso, mas não, o bairro estende-se para os lados. Estende-se para baixo, do jardim até à Praça das Flores, e do outro lado desce até à Praça da Alegria. E quando nós percorremos essas ruazinhas vemos que o Príncipe Real é de uma pluralidade bestial. Há uma convivência muito harmoniosa, muito feliz e muito respeitosa das diferenças enormes que ali existem. Porque existem desde a pessoa mais idosa e rural e com um modo de vida mais tradicional, naquelas casinhas pequeninas, nos prédios pequenos, como existe o artista mais moderno e trendy. Essa diversidade está toda contida no bairro", enumera Patrícia..Patrícia Luz fala do bairro como se fosse seu. A verdade é que nunca morou no Príncipe Real, mas conhece-o bem e admite que este facto até a ajuda no seu trabalho. "Durante toda a minha vida, até casar, até aos 20 e tal anos, vivi no Rato, que é um bairro muito próximo. Era o meu espaço, o meu habitat. Não vivo lá e até acho que é uma mais-valia, porque me torna mais isenta. Acho que se fosse moradora tinha um tipo de perceção, se fosse lojista tinha outra, e acho que não ser nem uma nem outra, mas gostar muito do bairro e me ser um espaço familiar, me dá uma isenção de tudo, para gerir os objetivos e escutar as pessoas sem interesses pessoais"..O convite para ser a responsável pela "Príncipe + Real" foi feito por Tiago Eiró, o CEO da EastBanc e presidente da associação, que já a conhecia. "Ele sabe que eu gosto muito deste trabalho comunitário. Eu sou educadora social, gosto muito do tema da cidade, vivi muitos anos insatisfeita com a cidade que tínhamos e isso era um assunto que partilhava com as pessoas à minha volta. E, como houve aqui esta coincidência de alguém que tinha que ter disponibilidade para tornar esta associação possível e o meu gosto e formação também, convidaram-me", lembra Patrícia..ana.meireles@dn.pt