Tévez, de quase marginal a jogador mais bem pago do mundo

O avançado argentino trocou o Boca Juniors pelos chineses do Shanghai Shenhua, onde vai receber 40 milhões de euros anuais, quase o dobro de Cristiano Ronaldo e Messi
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Carlos Tévez tornou-se ontem o futebolista mais bem pago do mundo, quase dobrando os salários das superestrelas Cristiano Ronaldo e Messi, jogadores que nos últimos anos têm lutado de forma titânica pelo estatuto de melhor do mundo.

Quem diria que o miúdo que nasceu e cresceu num dos mais perigosos bairros de Buenos Aires, conhecido por Forte Apache, fintaria o destino de se tornar um marginal e, aos 32 anos, chegasse ao estatuto de milionário do futebol com uma transferência para o futebol chinês, mais concretamente para o Shanghai Shenhua.

El Apache, como é conhecido Tévez por causa do bairro onde nasceu, vai auferir um salário de 40 milhões de euros por cada um dos dois anos de contrato com o clube da Super Liga chinesa, que compensou ainda o Boca Juniors em dez milhões de euros. A China confirma-se cada vez mais como o grande mercado do futebol, pois no espaço de uma semana acolheu dois jogadores que entram diretamente para os dois primeiros lugares do ranking de futebolistas mais bem pagos do mundo. Além de Tévez, o brasileiro Óscar foi contratado pelo Shanghai SIPG ao Chelsea, passando a auferir um salário anual de 24,2 milhões de euros.

Há outra curiosidade revelada ontem pela edição online da cadeia de televisão ESPN: só há um desportista no planeta que tem um salário mais alto do que Tévez, trata--se do alemão Sebastian Vettel, piloto de Fórmula 1, a quem a Ferrari paga 48 milhões de euros anuais.

Uma infância difícil

É comum dizer-se que o dinheiro não traz felicidade, mas essa será uma máxima que não se aplicará, por certo, a Tévez. A comprová-lo basta recuar à sua infância no problemático bairro Forte Apache, onde aos 5 anos ficou órfão de pai, que foi assassinado com 23 tiros.

Sem mãe, que fugiu de casa quando Carlitos tinha apenas 6 meses, ficou entregue aos tios maternos, mas os problemas não terminaram. Tinha apenas 10 meses quando água a ferver de uma chaleira lhe caiu no rosto, um acidente que o levou para a cama do hospital. A situação esteve complicada e obrigou-o mesmo a uma terapia intensiva, mas não se livrou das marcas que hoje ainda são bem visíveis na cara e no pescoço.

O ambiente no Bairro Apache era péssimo e um dos seus melhores amigos, a quem chamavam Cabañas, era um dos membros de um grupo de criminosos denominados Los Backstreet. O futebol ajudou-o a fugir da vida marginal e em entrevistas que concedeu já como jogador profissional deixou claro que se não fosse o jeito que tinha para o futebol teria seguido os amigos e "acabaria morto ou na prisão".

Aliás, um dos seus irmãos, Juan Alberto, e o seu cunhado foram detidos em 2010 por um assalto a um camião blindado que ia a caminho do aeroporto de Córdoba, tendo sido ambos condenados a 16 anos de prisão. Quatro anos antes, fora o outro irmão, Diego, a ser detido pela polícia argentina por ter na sua posse um revólver. Quando essas situações ocorreram, Tévez já era conhecido mundialmente: jogava em Inglaterra, onde se destacou ao serviço de West Ham, Manchester United e Manchester City.

Depois disso, passou ainda pela Juventus, antes de regressar ao Boca Juniors onde iniciara a carreira profissional e onde, tudo indicava, iria pendurar as chuteiras. Só que os milhões com que sonhavam tantos amigos que seguiram os caminhos do crime atravessaram-se na vida de Tévez. A China é o novo mundo para um jogador irreverente e talentoso, que promete cativar os fãs do Shanghai Shenhua, onde será treinado pelo uruguaio Gustavo Poyet e terá como companheiros de equipa o colombiano Fredy Guarín, antigo médio do FC Porto, e ainda o francês Demba Ba e o nigeriano Obafemi Martins.

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