A um mês dos Jogos Olímpicos de Tóquio, onde ausência do supercampeão Usain Bolt ameaçava tirar brilho às pistas, eis que apareceu Erriyon Knighton a toda a velocidade. O jovem norte-americano, de apenas 17 anos, bateu dois recordes do jamaicano, dono dos melhores tempos da história do atletismo em 100 e 200 metros. E colocou todos os olhos virados para ele, em Tóquio 2020..Primeiro, bateu o recorde mundial sub-18 nos 200m durante o American Track League. Fez a prova em 20.11 segundos, superando em dois centésimos a marca de Bolt (20.13), estabelecida em 2003. A notícia correu mundo e houve um pormenor muito importante que passou despercebido entre o recorde: Knighton venceu a prova batendo Trayvon Bromell, o compatriota que é um dos grandes favoritos à conquista da medalha de ouro olímpica..Na semana passada, mostrou que o feito não foi obra do acaso. Desta vez, Knighton correu os 200 metros em 19.88, menos cinco centésimos de segundo do que Bolt, que tinha corrido a mesma distância com o tempo de 19.93 em 2004, precisamente o ano em que Erriyon nasceu. E mais uma vez ficou à frente de um campeão do mundo e candidato ao ouro olímpico nos 100 metros: Noah Lyles, um dos ídolos do miúdo de 17, que também idolatra com Bolt e Michael Johnson, pois claro.."Poupei-me um pouco. Nas eliminatórias não queres esforçar-te ao máximo, mas sim passar em todas as corridas e estar entre os três primeiros. Não podes usar toda a tua energia numa corrida", explicou Knighton, que um dia depois correu a final e bateu a própria marca fixando o recorde sub-20 nos 200m em 19.84 segundos. Ficou em terceiro lugar, atrás de atrás de Noah Lyles (19.74) e Kenny Bednarek (19.78), mas foi o suficiente para conseguir o passaporte para Tóquio. Será o mais jovem atleta dos EUA a fazer parte da equipa de atletismo, desde Jim Ryun, em 1964..O miúdo de Hillsborough High School, de Tampa, já derrotou nomes como Trayvon Bromell, Noah Lyles ou Harnel Zughes e em Tóquio, sem Christian Coleman - suspenso por dois anos por não ter cumprido as regras dos controlos anti-doping -, tudo pode acontecer. Até, quem sabe, colocar em perigo os recordes do mundo de Usain Bolt nos 100 metros (9.58s) e nos 200m (19.19s) metros, algo até agora inimaginável..Impressionante tendo em conta que, em 2019, fez a primeira corrida nos campeonatos universitários, na Florida, onde foi quinto nos 200 metros. Profissional desde fevereiro, quando assinou um contrato de quase 200 mil euros com a Adidas, é considerado uma das joias do atletismo americano, tendo como melhor tempo 10.16 segundos nos 100 metros, 19.84 nos 200 e 47.48 nos 400..Quando a pandemia colocou o mundo em stand by, Erriyon estava em franca ascensão. Obrigado a parar, resolveu cumprir isolamento em casa do amigo Joe Sipp, jogador de futebol americano. Treinaram juntos durante sete meses, com o treinador Jonathan Terry a monitorizar à distância. Sem poder fazer musculação no ginásio da universidade, privilegiou os agachamentos. "Ele é forte e destemido na pista, mas não se fica pelo treino físico. Leva as provas muito a sério, estuda os adversários e vê vídeos deles em corridas para montar a sua estratégia. Surpreendeu o mundo, mas a mim não", disse Terry..A ida ao Jogos Olímpicos é a jogada de charme perfeita da federação de atletismo dos EUA para o seduzir de vez para as pistas. Knighton jogou futebol americano como wide receiver, tendo sido avaliado como recruta quatro estrelas e recebido ofertas de bolsa de cinco universidades. Como tal, há o perigo de os milhões do futebol americano o roubem ao atletismo. Mas a decisão parece tomada. "Foi uma escolha complicada mas, ao mesmo tempo, não precisei de pensar muito. Na pista, o sucesso da minha carreira está inteiramente nas minhas mãos", disse o jovem velocista. O que o motiva? "O que me motiva todos os dias são as pessoas que são melhores do que eu. Quero trabalhar duas vezes mais do que eles", respondeu Erriyon Knighton, sem grandes preocupações em parecer humilde: "Conheço o meu potencial, vejo a minha grandeza toda vez que vejo o meu reflexo." E quando lhe perguntam a quem se compara, responde sem hesitar: "Provavelmente, Usain Bolt... só porque é alto com eu!" Tal como o jamaicano também Erriyon (1, 91 metros de altura e 77 quilos de peso) voa nos metros finais nas pistas..isaura.almeida@dn.pt