Tancos: detidos oito suspeitos do roubo do material de guerra. Um está ligado ao roubo das Glock

O Ministério Público e a Policia Judiciária têm em curso operação na zona centro e Algarve para deter suspeitos envolvidos no roubo de Tancos, em junho de 2017. Um dos detidos também esteve envolvido no furto das pistolas Glock da PSP.
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A operação está a ser coordenada pelo Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) e executada pela PJ. Há buscas e detenções a ser realizadas no centro do país e no Algarve. Foram detidos oito suspeitos. O alvo das autoridades eram cerca de uma dezena de suspeitos de terem estado envolvidos direta ou indiretamente no assalto aos paióis, de onde foram desviadas munições, explosivos e granadas em junho do ano passado. Não haverá, por agora, militares entre os detidos.

Há, até ao momento, oito detidos civis e um deles também terá estado envolvido no furto das pistolas Glock da PSP, confirmou ao DN fonte policial que acompanha esta investigação. No entanto, sublinha essa mesma fonte, não haverá relação entre os dois casos. O único ponto em comum é este detido que terá ligações aos dois grupos criminosos distintos, suspeitos destes furtos. Recorde-se que os inquéritos de Tancos, e o das Glock estão a ser coordenados pelos mesmos procuradores do DCIAP - os de Tancos coadjuvado pela PJ, o das pistolas, pela PSP, sendo que este ainda não tem arguidos.

De acordo com um comunicado conjunto da Procuradoria-Geral da República (PGR) e da PJ "em causa estão factos suscetíveis de integrarem crimes de associação criminosa, furto, detenção e tráfico de armas, terrorismo internacional", crimes que tinham sido indicados no início desta investigação e que são aqui reiterados, aos quais se junta o "tráfico de estupefacientes". Na operação participaram três magistrados do Ministério Público e 85 investigadores da Judiciária.

Ao que o DN apurou, estes crimes - especialmente o tráfico de droga e tráfico de armas - serão a principal atividade do grupo de detidos. Recorde-se que estes são os crimes por que está indiciado o ex-fuzileiro João Paulino, suspeito de ter participado no assalto, em prisão preventiva desde setembro, quando foi detido no âmbito da operação Hubris, que investigou a recuperação encenada do material de guerra pela Polícia Judiciária Militar (PJM),a 18 de outubro de 2017.

Entre oito detidos esta segunda-feira, apenas cinco estarão diretamente envolvidos no assalto. Os restantes têm ligações ao grupo criminoso e terão apoiado a operação. Parte dos suspeitos tem residência na zona centro do país, como Paulino, e no Algarve. Os investigadores não têm dúvidas que o assalto foi planeado e que o material foi roubado para ser vendido ao crime organizado.

Neste momento ainda está por esclarecer a ligação ao terrorismo internacional, embora no submundo do crime todos estes delitos - tráfico de droga, armas e terrorismo - estejam cada vez mais relacionados. Quem exatamente encomendou o roubo e para que fim serão também outras questões que a investigação quer ver esclarecidas com estas detenções.

Suspeitos na mira das autoridades

A investigação a este assalto, teve um novo impulso com um interrogatório, em meados de novembro passado, a um suspeito - com a alcunha de "Fechaduras" - especialista em abrir cadeados e fechaduras, que terá sido quem indicou aos assaltantes o material que deviam utilizar para abrir os paióis. Apesar de não ter participado diretamente no roubo, "Fechaduras" foi constituído arguido mas libertado, o que, no meio judicial, é um sinal de que o seu depoimento terá sido muito relevante para a investigação.

Foi já depois da inquirição a este novo arguido que a PGR anunciou que o DCIAP também ia dirigir a investigação à recuperação das armas, cujo inquérito estava no Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa. O DCIAP é o departamento do MP que investiga a criminalidade mais violenta e grave e a decisão da PGR de juntar aqui os dois inquéritos (o do roubo e o da encenação da entrega do material) demonstrou que estão interligados e têm suspeitos comuns.

Os dois inquéritos estão agora juntos num só, com um total de 18 arguidos - os oito detidos esta segunda-feira e "Fechaduras" e os nove do inquérito à recuperação do material. Na Operação Húbris, que resultou da investigação à recuperação do material, são arguidos o ex-fuzileiro e oito militares da GNR e da PJM, entre os quais o ex-diretor desta polícia, coronel Luís Vieira, o único arguido em prisão preventiva a cumprir a medida de coação na cadeia. Outro dos arguidos em prisão preventiva, mas com pulseira eletrónica, é o major Vasco Brazão, que coordenava a equipa de investigação criminal da PJM.

O esclarecimento do assalto, pelo lado criminal, começa agora a ser desvendado. Resta agora esclarecer as responsabilidades políticas, o principal alvo da Comissão de Inquérito parlamentar que iniciou os seu trabalhos a 14 de novembro. A partir de janeiro e até maio serão ouvidas 63 personalidades, incluindo arguidos no processo judicial, investigadores da PJM, comandantes operacionais e chefes militares, responsáveis das secretas, o primeiro-ministro, António Costa, e os ex-ministros da Defesa Aguiar-Branco e Azeredo Lopes.

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