A psicologia positiva completou duas décadas no ano passado, mas há vozes críticas que se erguem contra o que apelidam de "cultura de felicidade obrigatória". Esta pressão que por vezes (ou muitas vezes) sentimos para ser felizes é saudável? Nada saudável. A dor, a tristeza, a frustração e outras emoções dolorosas são uma parte natural e inevitável da vida - mesmo de uma vida feliz. Temos de aceitar isso e permitir-nos ser humanos. Sem experimentarmos a infelicidade não experimentamos a felicidade..E o que é a felicidade? A definição que considero mais útil deriva das palavras de Helen Keller: "Para mim a única definição de felicidade é integridade." Inspirado por ela, defino felicidade como "a experiência do bem-estar da pessoa no seu todo". Trata-se do bem-estar de indivíduos, grupos e sociedade nos cinco elementos que constituem o seu todo: o bem-estar espiritual, físico, intelectual, relacional e emocional. Isto não são verdades universais e absolutas que eu ou alguém recebemos por revelação divina, são construções úteis e pragmáticas..Porque é tão difícil atingi-la? Não é difícil, o problema é que a maioria das pessoas não entende a sua natureza. Primeiro, confundem felicidade com prazer, que é apenas uma parte de uma vida feliz. Segundo, acreditam que uma vida feliz é uma vida em que estamos sempre felizes. Isto é irrealista e conduz inevitavelmente à frustração..Estamos a procurar a felicidade nos sítios errados? Sim, esse é muitas vezes o caso, quando as pessoas procuram a felicidade no sucesso, no dinheiro e no prestígio, na próxima promoção..Quais são os sítios certos? As relações, saber apreciar as coisas boas e positivas, o exercício físico, permitirmo-nos ser humanos..No mundo atual, quais são os principais inimigos da felicidade? Tem muito que ver com a dominância da tecnologia. A professora Jean Twenge, da Universidade de San Diego, e os seus colegas descobriram e destacaram algumas tendências entre os adolescentes norte-americanos, que se verificam um pouco por todo o mundo. Independentemente do contexto - económico, cultural, religioso ou étnico -, os miúdos estão em sofrimento. Entre 2010 e 2015, cinco anos apenas, o número de adolescentes que experimentaram sintomas de depressão subiu 33%. As tentativas de suicídio subiram 23% e mais 31% de jovens entre os 13 e os 18 puseram fim à vida. Porque é que os nascidos depois de 1995 têm maior probabilidade de experimentar estes sentimentos negativos, até mais do que os millennials, que nasceram apenas alguns anos antes? Num artigo publicado no The Conversation, Twenge escreve: "Depois de várias pesquisas à procura de pistas, descobri que todas as possibilidades iam desembocar numa mudança maior na vida dos adolescentes: a súbita ascensão do smartphone.".O smartphone? Quando a tecnologia passou a dominar formal e totalmente a vida das pessoas, quando deixou de haver tempo longe dela, quando as redes sociais se tornaram acessíveis 24 horas por dia em todo o lado, e quando nós - velhos ou novos - começámos a dormir com o nosso smartphone, operou-se uma mudança. O smartphone, mais do que qualquer outra tecnologia antes dele, levou a substituir relações reais por relações virtuais, o movimento do corpo todo pelo movimento dos olhos e a concentração saudável pela distração nociva à saúde..E como podemos combater isso, no dia-a-dia, para ter uma vida mais feliz e significativa? Elaborei uma lista de lições de felicidade. Aqui estão elas:.Lição 1. Sê a si mesmo permissão para ser humano. Quando aceitamos emoções como o medo, a tristeza ou a ansiedade como naturais, é mais provável que as superemos. Rejeitar as emoções, positivas ou negativas, leva à frustração e à infelicidade. Somos uma cultura obcecada pelo prazer e acreditamos que a marca de uma vida digna é a ausência de desconforto e, quando sentimos dor, tomamo-la como sinal de que alguma coisa não está bem. Algo não estaria bem se nunca sentíssemos tristeza ou ansiedade, que são emoções humanas. Quando aceitamos os nossos sentimentos e nos permitimos vivenciar emoções dolorosas, ficamos mais abertos às emoções positivas..Lição 2. A felicidade está na interseção entre prazer e significado. Os estudos mostram que uma ou duas horas de uma experiência significativa e agradável podem afetar a qualidade de um dia inteiro ou mesmo de uma semana inteira. Crie estas experiências na sua vida pessoal e profissional..Lição 3. Tenha em mente que a felicidade depende sobretudo do nosso estado de espírito, não do nosso estatuto ou do recheio da nossa conta bancária. Excluindo as circunstâncias extremas, o nosso nível de bem-estar é determinado por aquilo em que escolhemos focar-nos e pela interpretação que fazemos dos acontecimentos exteriores. Por exemplo, concentramo-nos na parte vazia ou na parte cheia do copo? Vemos os fracassos como uma catástrofe ou olhamos para eles como oportunidade de aprender alguma coisa?.Lição 4. Simplifique! Geralmente, estamos ocupados de mais, tentando enfiar cada vez mais atividades em cada vez menos tempo. A quantidade influencia a qualidade e comprometemos nossa felicidade tentando fazer muito. Saber quando dizer não aos outros geralmente significa dizer sim a nós mesmos..Lição 5. Lembre-se da ligação mente-corpo. O que fazemos - ou não fazemos - com o nosso corpo influencia a nossa mente. O exercício regular, o sono adequado e hábitos alimentares saudáveis facilitam a saúde física e mental..Lição 6. Demonstre gratidão sempre que possível. Muitas vezes tomamos as nossas vidas como garantidas. Aprenda a apreciar e a saborear as coisas maravilhosas da vida, das pessoas à comida, da natureza a um sorriso..Lição 7. Saber criar prioridades nos relacionamentos. O indicador número um de felicidade é o tempo que passamos com pessoas de quem gostamos e que se preocupam connosco. A fonte mais importante de felicidade pode ser a pessoa sentada ao seu lado. Aprecie essas pessoas e saboreie o tempo que passam juntos..Assim até parece fácil. É fácil de perceber, mas não é fácil de fazer. Assim como ter brócolos no frigorífico não faz de si uma pessoa mais saudável, dominar a teoria para uma boa vida não vai fazer de si uma pessoa mais feliz. Tem de comer os brócolos. Tem de aplicar a teoria à prática..Escritor, conferencista e antigo professor de Psicologia Positiva e Psicologia da Liderança, em Harvard, onde se formou em Filosofia, Psicologia e Comportamento Organizacional.