A menos de 24 horas do fim do prazo, Emmanuel Macron fez o que há muito todos sabiam que ia fazer: o presidente francês anunciou a candidatura às presidenciais do próximo mês. Numa longa Carta aos Franceses, prometeu que "juntos podemos fazer destes tempos de crises o ponto de partida de uma nova era francesa e europeia". O candidato do La République en Marche lamenta não poder fazer uma campanha "como gostaria" devido ao contexto global que inclui a guerra na Ucrânia. Mas garantiu que irá explicar o seu projeto "com clareza". E sempre foi avançando que "teremos de trabalhar mais e prosseguir a baixa dos impostos sobre o trabalho e a produção". E remata: "Com vocês. Por vocês. Por todos nós. Viva a República! Viva a França!".Às 18h00 de hoje o Conselho Constitucional francês vai decretar que candidatos conseguiram reunir as 500 assinaturas de eleitos nacionais e locais para formalizar as suas intenções de concorrerem à presidência da República..Temendo que a entrada oficial na campanha de Macron se refletisse numa descida nas sondagens, os colaboradores próximos do presidente optaram por adiar ao máximo o anúncio. O objetivo? Segundo o Le Monde seria dar a ideia de continuidade entre o primeiro mandato e o que a equipa de Macron acredita ser o segundo mandato do centrista..O próprio Macron foi alimentando a ideia de inevitabilidade da sua candidatura, mas sem a confirmar até ontem. "Não há falso suspense, tenho vontade" de avançar, dizia em janeiro. "Se continuo a ter ambições, sonhos e desejos para o nosso país? Sim", garantia pouco depois. E as "desculpas" para não trocar mais cedo o fato de presidente-candidato pelo de candidato-presidente não faltaram. Desde a gestão da pandemia de covid-19 até aos esforços diplomática primeiro para travar e agora para tentar resolver o conflito na Ucrânia..Tanto adiamento teve o dom de irritar os rivais, desejosos de ver Macron entrar na corrida para que a campanha começasse a sério. "O presidente não vai poder esconder-se eternamente como um candidato mascarado", queixava-se Gérard Larcher, presidente do Senado, do partido Les Républicains..Olhando para as sondagens, Macron continua a surgir como o líder destacado na primeira volta de 11 de abril, mantendo-se por volta dos 25% das intenções de voto. O segundo lugar, que garante também a passagem à segunda volta marcada para 24 de abril, é que tem oscilado entre três candidatos..Depois de uma entrada em grande na campanha no início de dezembro, quando venceu as primárias de Les Républicains (direita tradicional), Valérie Pécresse tem vindo a cair nos estudos de opinião. A última sondagem OpinionWay (realizada a 27 e 28 de fevereiro junto de 1122 pessoas) dá-lhe 15% das intenções de voto, atrás de Marine Le Pen, a líder do Rassemblement National (antiga Frente Nacional, de extrema-direita), com 19%, mas à frente de Éric Zemmour, o antigo jornalista e comentador, do mesmo campo político, com 13%..Com a guerra na Ucrânia a marcar a campanha, Pécresse defendeu ontem o reforço do orçamento da Defesa para além dos 2% do PIB (o limite pedido pela NATO). A candidata de Les Républicains lembrou que "ao longo dos anos 1960 e 1970 a parte do orçamento dedicada à Defesa ultrapassou sempre os 3% e isso nunca impediu o crescimento da economia, pelo contrário"..Num esforço para mostrar que está preparada para lidar com uma guerra, Pécresse e a sua equipa divulgaram há dias uma imagem da candidata rodeada por três ex-ministro da Defesa e a receber informações dos seus conselheiros militares via videoconferência. Mas o cenário pouco convincente acabou por se virar contra a candidata, com os rivais a ironizarem..Criticada até no seu campo depois do comício de 14 de fevereiro no Zenith, Pécresse perdeu terreno. Se a sondagem Harris Interactive a coloca em terceiro lugar, noutras surge em quarto, atrás de Zemmour, e no último estudo da Elabe aparece mesmo no quinto lugar, atrás de Jean-Luc Mélenchon, o candidato de La France Insoumise, de extrema-esquerda..Estes números já valeram algumas deserções no campo do Les Républicains. Ontem o antigo primeiro-ministro Jean-Pierre Raffarin alegou a necessidade de união nacional contra a extrema-direita para apelar ao voto em Macron..Os próximos debates com Zemmour, no dia 10, e depois com Marine Le Pen, são a oportunidade para Pécresse inverter a tendência e recuperar o segundo lugar de forma inequívoca. Para tal terá de encontrar um equilíbrio difícil para conquistar alguns votos à extrema-direita, sem afugentar os eleitores mais moderados. Além disso a guerra na Ucrânia veio tornar mais difícil a tarefa dos candidatos de oposição, com os ataques à gestão de Macron a poderem cair mal aos franceses numa altura em que o presidente está a tentar mediar o conflito entre Rússia e Ucrânia..A 39 dias da primeira volta, Christiane Taubira desistiu ontem da corrida. A antiga ministra da Justiça era uma dos muitos candidatos à esquerda, mas não conseguiu reunir as assinaturas necessárias. A vencedora das chamadas "primárias populares", não reconhecidas por vários candidatos, foi depois convidada pelo ecologista Yannick Jadot para se juntar à sua campanha..Com a esquerda estilhaçada numa multitude de candidaturas, a dúvida ontem à noite era se Philippe Poutou, candidato do Novo Partido anticapitalista ia conseguir as 500 assinaturas..helena.r.tecedeiro@dn.pt