Sonda da NASA bate recorde e começa a olhar para o Sol
Dois meses depois de ter sido lançada de Cabo Canaveral, a sonda espacial Parker, da NASA, já entrou para a história: acaba de se tornar o engenho humano que até hoje chegou mais perto do Sol. Neste momento a nave está já a pouco menos de 43 milhões de quilómetros da estrela, mas esta ainda é só a sua primeira marca.
Na aproximação gradual ao Sol, a sonda vai bater mais uma sucessão de recordes durante os próximos anos, e a cada nova passagem, sempre mais próxima do que a anterior, vai poder fazer observações da estrela que serão cada vez mais precisas e com grande potencial de descoberta acerca o seu funcionamento e a energia que lança através do espaço sob a forma de vento solar.
A primeira dessas observações está aí já, ao virar da esquina. A partir de amanhã, e durante os próximos dias, a sonda Parker começa a tirar as medidas ao Sol a partir de um ponto no espaço que é já um novo marco em termos de proximidade.
O grande objetivo da missão é estudar, lá, junto à fonte, as propriedades do vento solar, um plasma feito de partículas ionizadas que é gerado pela atmosfera superior do Sol, a famosa coroa solar, e depois lançado no espaço.
Esta quarta-feira, 31 de outubro, inicia-se já a primeira dessas observações cujos resultados serão transmitidos para a Terra em dezembro. Com isso se dará inicio ao que os responsáveis da missão classificam como "uma revolução sobre a nossa compreensão da estrela que torna possível a vida na Terra".
São muitos as perguntas ainda sem resposta sobre a energia do Sol. Exemplos: por que é que a coroa solar é 300 vezes mais quente do que a própria superfície da estrela? Que misteriosa força lança os ventos solares a velocidades supersónicas através do espaço, no sistema solar? O que acelera as partículas energéticas que emanam do Sol e chegam a atingir mais de metade da velocidade da luz?
Os estudos do Sol feitos a partir dos telescópios terrestres e espaciais, incluindo a sonda Hélios 2 que desde 1976 detinha o anterior recorde de aproximação ao Sol - agora quebrado pela Parker -, chegaram ao limite das possibilidades de conhecimento, com as suas observações feitas de longe. Avançar para outro nível implicava chegar mais perto. É essa viagem que a Parker está a iniciar.
Para a NASA, esse novo conhecimento também é importante por razões práticas, já que o vento solar interfere com o campo magnético da Terra, que protege a Terra da radiação solar, e com o próprio clima espacial, e todo esse jogo complexo pode causar perturbações irreparáveis nos satélites e sua instrumentação, e nas telecomunicações.
Para poder suportar as temperaturas tremendas a que estará sujeita nas suas aproximações progressivas ao Sol, a Parker está equipada com escudo térmico especial com 11 centímetros de espessura, feito de um material compósito à de carbono, capaz de resistir a temperaturas de 1400 graus Célsius.
Na sua derradeira aproximação ao Sol, a mais próxima entre todas, que está prevista para 2024 se tudo correr bem, a sonda chegará a 5,9 milhões de quilómetros da superfície solar - muito pouco, tendo em conta o ambiente de fornalha que ali existe.
O conceito de vento solar surgiu na década de 1950, quando um físico norte-americano desenvolveu uma teoria para explicar a libertação de energia por parte das estrelas. Chamou vento solar ao jorro de energia proveniente do Sol e descreveu-o como um sistema complexo de plasmas, partículas e campos magnéticos. Esse físico, hoje com 91 anos, chama-se Eugene Parker e, por isso, a sonda tem o seu nome.
Parker estava em Cabo Canaveral a assistir ao lançamento da sonda, a 11 de agosto. Uma foto da NASA mostra-o, olhando atento, à medida que o lançador ia subindo no céu. A bordo, a equipa da NASA colocou uma placa, gravada com uma frase sua: "Vamos ver o que há lá à frente". Em breve saberemos.