No início do século eram perto de 30 mil (27 121), no ano letivo de 2017-18 pouco passavam de mil (1271), boa parte deles a trabalhar no privado. O relatório Educação em Número 2019, da Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC), mostra que o número de professores portugueses com menos de 30 anos sofreu uma queda a pique em menos de duas décadas. Uma impressionante quebra de 95%, que se agrava a cada ano que passa e vem dar corpo aos argumentos dos sindicatos, que pedem a renovação de uma classe cada vez mais envelhecida..Para perceber a dimensão do problema, basta olhar para o outro extremo da tabela das idades, em que o número de professores com mais de 60 anos nos vários ciclos passou de 3633 para quase 13 mil (12 931) em 2017-18. Uma subida de 255%. No 1.º ciclo, por exemplo, e sem distinção entre escolas privadas e públicas, os professores com mais 60 anos eram, no ano passado, cerca de dois mil (1966), quando no início do século pouco passavam do meio milhar (549). .Em sentido oposto, os docentes do 1.º ciclo com menos de 30 anos passaram de 5759 no início do século para 311 em 2017-18. No 3.º ciclo e no secundário, os números absolutos são ainda mais impressionantes: os sub-30 eram em 640 em 2018, quando há menos de vinte anos eram quase 17 mil (16 697)..Um cenário sublinhado pela Fenprof no seu último congresso, em junho, onde a Federação Nacional dos Professores alertou para a necessidade de um "urgentíssimo rejuvenescimento" da classe, "questão essencial para o futuro". Num dos principais pontos reivindicativos para os próximos três anos, a federação liderada por Mário Nogueira exigiu ao governo a criação de um regime de aposentação específico para os professores, embora se admita que "neste momento a situação na profissão é tão grave que até a tomada de medidas relativas à aposentação requer cuidados para não ocorrerem ruturas, uma vez que, em algumas escolas, o corpo docente já está todo acima dos 50 e, mesmo, 55 anos"..No seu programa eleitoral, o PS propõe-se "elaborar um diagnóstico de necessidades docentes de curto e médio prazo (cinco a dez anos) e um plano de recrutamento que tenha em conta as mudanças em curso e as tendências da evolução na estrutura etária da sociedade e, em particular, o envelhecimento da classe docente". .Como o DN noticiou recentemente, com base em dados apresentados pela Fenprof, dos 21 cursos de formação inicial de docentes lançados no ano letivo que agora terminou, em 12 houve menos de dez candidatos. Num dos casos só houve mesmo um candidato e noutro nenhum. No mesmo ano, na primeira fase do concurso de acesso ao ensino superior, apenas se preencheram 693 vagas dos 1024 lugares disponíveis em cursos de formação para a docência; nos dois anos anteriores ainda eram mais de mil os que entraram na primeira fase..Menos 250 mil alunos e metade das escolas. Entre 2014 e 2018 aposentaram-se cerca de 4500 professores, somando os dados da Caixa Geral de Aposentações (CGA), e prevê-se que até 2023 mais de 11 mil se reformem. Segundo o relatório da DGEEC, em 2000, o país tinha mais de 150 mil professores (151 668), entre público e privado e sem contar com o pré-escolar. Mas em menos de 20 anos perdeu mais de 30 mil professores: passou para 121 119..Reflexo da quebra da natalidade, responderão muitos. É verdade que as escolas portuguesas perderam perto de 250 mil alunos desde o início do século: de mais de 1,6 milhões (1 636 899), para menos de 1,4 milhões (1 388 754). Isto sem ter em conta as crianças no pré-escolar, que rondam as 240 mil, número que, com alguns altos e baixos, pouco tem variado em relação a 2000, em que eram 235 mil..Mas o estudo Educação em Números também mostra que a variação negativa de professores do 2.º ciclo até ao secundário foi sete pontos mais acentuada do que a descida de alunos - partindo de um referencial de 100, que corresponde ao número existente em 2000/2001, chegamos ao ano letivo de 20017/18 com um índice de 90 para os alunos inscritos e de 83 para o de professores, ambos abaixo do ponto de partida..A inversão entre os dois grupos dá-se em 2008/09, ano letivo que marca um pico máximo de alunos inscritos nas escolas portuguesas neste século, mais de dois milhões (2 056 148). De lá para cá, o país perdeu cerca de 427 mil alunos. Ainda assim, nestes ciclos e proporcionalmente, a queda no número de docentes foi sendo mais acentuada do que a de crianças.No 1.º ciclo, essa variação é praticamente igual nos dois grupos, sendo a quebra de crianças apenas um ponto mais acentuada do que a de professores (76 e 75, respetivamente, tendo como referencial o índice 100, que diz respeito aos números de 2000/2001). Uma melhoria que se registou nos últimos dois anos analisados..Os anos da troika tiveram reflexo óbvio no número de crianças a frequentar as antigas primárias. No início da década que agora está a chegar ao fim, estavam inscritas 464 mil crianças no 1.º ciclo. Em 2017-18 esse número tinha descido para 401 mil. Uma descida que ajudou também ao fecho de escolas, um movimento que ainda assim já tinha começado no início do século e que até acelerou em força antes da crise, entre 2003 e 2010. Em 2000, existiam 16 454 estabelecimentos de ensino no continente e em 2003-2004 ainda eram 15 mil. Mas em 2011-12, esse número já tinha descido dos dez mil (9829). Hoje existem cerca de oito mil escolas, cerca de metade das que existiam há menos de 20 anos.