Só Algarve e Açores não atingiram pico. Casos vão reduzir para 40 a 47 mil

Ontem era o dia de todas as contas, e estas revelaram que o país já passou pelo pico da onda gerada pela Ómicron, menos duas regiões. E as projeções são boas para a próxima semana.
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Há três dias o professor Carlos Antunes, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, dizia ao DN que teríamos de esperar por quarta-feira para saber se o país já teria passado pelo pico da onda gerada pela nova variante, Ómicron. "É o dia de todas as contas", disse. E as contas revelaram que, afinal, o pico até se antecipou nas duas grandes regiões do país que, normalmente, empurram as taxas da incidência, norte e Lisboa e Vale do Tejo. "Com os dados desta semana, e sobretudo com os de ontem, já é possível dizer que o pico a nível nacional já passou e que até se antecipou ao que prevíamos. Na semana passada, tudo apontava para que se viesse a registar entre os dias 28 de janeiro e 2 de fevereiro, mas os dados de ontem vieram confirmar que terá ocorrido entre 24 e 27 de janeiro, já que este foi o período em que a média a sete dias esteve mais alta, acima dos 56 mil casos (56 700)", explicou.

A confirmação deste dado é uma boa notícia e as projeções para a próxima semana já indicam uma redução de casos, embora sejam, destaca o professor, "apenas projeções e há sempre uma margem de erro, mas estas indicam-nos que vamos iniciar uma descida, embora lenta", dando como exemplo a região da Madeira. "Se olharmos para o que está a acontecer na Madeira vemos que tem havido uma redução muito lenta, levou 15 dias para diminuir os casos para metade, e esta pode ser a tendência no resto do país."

Destaquedestaque20 024 mortes. No dia em que se percebeu que o país já tinha atingido o pico desta onda, ao registar-se 54 693 casos de covid-19, ultrapassou-se as 20 mil mortes, com 56 óbitos. Portugal soma agora 2 745 383 de infetados.

Nesta quarta-feira, o boletim diário da Direção-Geral da Saúde dava conta de 54 693 casos de covid-19, quando no dia homólogo da semana anterior (26 de janeiro) tinha havido 65 578, menos 10 885 casos, o que "confirma a passagem do pico", assegurou. Isto apesar, de o número de casos ativos e em vigilância (os que estão em isolamento) serem ontem mais quase 100 mil do que há uma semana (96 391) - ontem havia 613 013 casos ativos, mais 20 648 do que no dia anterior, e 645 697 casos em vigilância, mais 6390 do que nas últimas 24 horas, e no dia 26 de janeiro havia 515 962 casos ativos e 546 357 em vigilância.

Segundo o professor de Ciências, que desde o início da pandemia integra a equipa da sua faculdade que faz a modelação da evolução da covid-19, este número elevado ainda acontece porque "o tempo médio de isolamento não é de sete dias, mas de nove dias. É preciso não esquecer que o isolamento de sete dias é só para quem não tem sintomas, quem os tem deve estar isolado dez dias. Daí que ainda apareça um número elevado de casos ativos e em vigilância, mas a partir de amanhã (hoje) ou de sexta-feira, começaremos a observar que os ativos e em vigilância vão diminuir".

Indo região a região, este analista de dados explicou que, embora o norte continue com um volume de casos elevado (22 061 ontem), mais do que Lisboa e Vale do Tejo (15 613), "já passou pelo pico. Subiu muito rapidamente, em termos médios teve cerca de 25 mil casos, mas também estabilizou rapidamente e a média a sete dias já está a descer, percebendo-se já essa variação negativa". Há uma semana, o norte registava 28 314, e Lisboa e Vale do Tejo 18 696, o que quer dizer, e com os dados desta semana, que "as duas grandes regiões já passaram pelo pico e já estão a puxar a incidência nacional para baixo".

Destaquedestaque5 061 810 de pessoas já apanharam a dose de reforço. Dos 60 aos 80 anos, 89% a 95% da população já a recebeu.

Nesta onda, Lisboa e Vale do Tejo teve sempre menos casos do que o norte. Neste momento, e apesar de já ter passado o pico, o centro ainda se mantém em planalto, com números muito próximos do pico. Há uma semana registava 11 204, ontem 10 763, apenas menos 441 casos. O Alentejo já passou pelo pico. No dia 26 de janeiro tinha 2094, ontem 1857. As únicas regiões em dúvida são o Algarve e os Açores, sobretudo a primeira, sobre a qual diz ser necessário continuar a monitorizar para se perceber se vai atingir o pico mais tardiamente ou se está a haver uma reversão na situação. Há uma semana o Algarve tinha 2828 casos e ontem 2533, enquanto os Açores tinham 1285 e 1329. Olhando para o resto do país, Carlos Antunes acredita que também estão em planalto e que em breve irão começar a reduzir também o número de casos.

Em relação às mortes, e no dia em que o país registou 56, um valor mais alto do que o registado na semana passada, 42, ultrapassando as 20 mil (20 024), o professor da Faculdade de Ciências diz não poder afirmar com certeza o que se está a passar. "Pode significar que entrámos num novo ciclo. Até dia 27, altura em que se atingiu o pico, estávamos com uma curva mais ao menos estabilizada, com uma média entre os 40 e os 49 óbitos. Agora, estamos a subir. Pode ser uma nova tendência", afirmou, argumentando, mais uma vez, que "o registo de óbitos pode estar a ser empolado pelo facto de poderem estar a ser registados óbitos cuja causa de morte não seja a covid-19. Muitos dos internados estão a ser tratados por outras doenças, mas testaram positivo e por uma questão sanitária tiveram de ser colocados nas alas covid, e quando morrem a causa de morte é a infeção." Carlos Antunes reforça que "esta é a única razão que encontro para o aumento do número de óbitos quando os internamentos dos doentes graves em cuidados intensivos estão estabilizados. Nas outras vagas nunca isto foi observado".

O número de internados ontem era de 2442, mais cinco do que no dia anterior, há uma semana havia 2313, enquanto em cuidados intensivos havia, respetivamente, 157 e 149. "Não tem havido grandes alterações nos internamentos em UCI. A média ronda os 155 e 160, o que comprova que a doença agora é menos severa."

Mas perante estes dados, o professor assume que as projeções são boas. "Iremos começar a assistir a uma redução de casos em todo o país, lentamente, como a Madeira, mas de forma consistente", referiu. Para a semana de 7 a 12 de fevereiro, as projeções apontam para um número de casos que podem oscilar entre os 40 mil e os 47 mil. Depois, "é preciso perceber se o vírus já esgotou as possibilidades de infetar. Já vimos que não, ainda há muita gente com a possibilidade de ser infetada, que ainda não tomou a terceira dose ou que ainda não teve o vírus. Portanto, tudo vai depender da perceção do risco das pessoas e da exposição ao vírus".

Na Europa, a Dinamarca, a Noruega e a França já declararam a redução das restrições, "se Portugal também o fizer estamos a expor-nos mais e é natural que o número de casos deixe de descer e que estabilize ou aumente", destacando ainda que "será inevitável picos de infeção".

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