Silêncio! Do silêncio faço um grito
Começo esta minha crónica da corrida da passada quinta-feira, dia 5 de Julho, no Campo Pequeno, com enxerto da letra de um Fado escrito e cantado pela grande Amália: Silêncio! Do silêncio faço um grito...
Isto porque vi a corrida em silêncio e em silêncio assisti ao que se passou na arena da capital do País e o que se passou tem que nos fazer refletir a todos!
Em silêncio vi sair à arena um primeiro toiro com o ferro de David Ribeiro Telles, de pouco trapio e mal visto... Em silêncio vi um segundo toiro, alto, com cara, com pouco pescoço, que iniciava bem o muletazo mas terminava o mesmo por alto desluzindo muito a sua forma de investir. Em silêncio vi um berrendo em negro indigno de apresentação e de afeitado, há bitolas... Em silêncio vi outro toiro de Ribeiro Telles, grande, suave e nobre. Em silêncio vi o bonito quinto ter menos "gasolina" dentro que um carro na reserva... Em silêncio vi o sexto animal que me deu vergonha só de o ver sair pela porta dos curros da principal praça do país... Senhores diretores e veterinários as rezes bravas podem e devem ser reprovadas no reconhecimento por falta de trapio! Em silêncio vi sair o sobrero oferecido pela empresa mas que pouco veio acrescentar à corrida.
Em silêncio vi e ouvi a monumental vaia que o respeitável publico deu à saída do sexto toiro, nunca na minha vida tinha visto e ouvido coisa assim... Em silêncio vi como as expectativas dos presentes se esvaíam a cada, lance, a cada passe, a cada ferro, a cada pega.
Em silêncio pensei que o que se passou ontem no Campo Pequeno não se pode voltar a passar, mesmo que venha cá vir tourear o "Rei de Marrocos", da Puebla, de Alicante, ou do raio que o...
Em silêncio pensei quem serão os culpados de tamanho "desastre"?
O Campo Pequeno porque comprou aqueles novilhos, o ganadero que os enviou, os veedores dos toureiros, bons esses se os deixam mandar muito dá este resultado... O Veterinário que os aprovou, o diretor de corrida que lhes deu a bênção, os toureiros que se deixam anunciar com aquilo.
São todos culpados... mas só vi uns virem dar o corpo as balas, o Campo Pequeno na pessoa do Sr. Rui Bento Vasquez e os outros?
Bom os outros um estará a pensar na próxima campanha publicitária que irá fazer certamente com a "mesinha de cabeceira" do falecido génio Joselito "El Gallo" e o outro estará a desfrutar da sua família no mediterrâneo, ou a tirar fotos e selfies numa localidade qualquer perto de si. O diretor de corrida dirá que os toiros foram aprovados pelo veterinário e o veterinário dirá que os toiros tinham os requisitos mínimos para saírem a Lisboa mas não tinham meus caros... Os veedores dirão que os toiros tinham um trapio impressionante no campo e que na praça, bom na praça... O ganadero dirá que mandou oito toiros e os toureiros escolheram aqueles... Aquilo foi um insulto aos que foram ontem a Lisboa comprar uma entrada para ver um "banho de arte" de bem tourear mas com novilhos assim é impossível.
Da corrida em si pouca coisa há que dizer, uma boa lide de João Ribeiro Telles ao quarto da noite em que a brega foi brilhante e os ferros tiveram emoção e aqueceram as bancadas. Que o Aposento da Chamusca teve uma passagem por Lisboa digna. Que houve uma média Verónica de Morante que me encheu as medidas e uma série de naturais que fizeram sonhar com uma noite para recordar. Um quite por chicuelinas rematado com "rodillla en tierra" para recordar de Manzanares. A prova de praticante de bandarilheiro de Pedro Noronha que deixou bons pares e certamente terá sido aprovado.
E... Uma homenagem ao maior génio do toureio vivo que deu Sevilha... Francisco Romero López, Curro Romero.
Dirigiu a corrida o Diretor Manuel Gama e foi veterinário o Dr. Moreira da Silva.
Síntese da corrida:
Toiros: de David Ribeiro Telles para a lide a cavalo, nobres e com som. Para a lide a pé de Paulo Caetano pobres de apresentação e trapio e vazios de bravura.
Cavaleiro: João Ribeiro Telles (Volta e Volta)
Matadores: Morante de la Puebla (Ovação e Silêncio); José Maria Manzanares (Palmas e Assobios)
Forcados: Amadores do Aposento da Chamusca - João Rui Salgueiro à primeira tentativa (Volta) e Francisco Andrade à quarta tentativa (Palmas).
*As voltas à arena no final das lides são concedidas pelo diretor de corrida como prémio à qualidade da performance artística dos intervenientes ou pela bravura dos toiros.