"Serviços secretos temem sequestro maciço num centro comercial"
Como é a Espanha de Alá?
Ao longo da última década a população muçulmana em Espanha cresceu 77%, segundo os dados do Observatorio Andalusí, tendo-se chegado aos 1,9 milhões de pessoas. Dessas, 41% pediram nacionalidade espanhola. Pessoalmente considero que o número real é inferior, porque muitos, por causa da crise, foram-se embora mas continuam a estar registados em território espanhol. Esta imigração chegou há pouco tempo, faz parte da classe social baixa e desempenha trabalhos no campo, na construção, na jardinagem, etc... Há poucas figuras de elite do Islão em Espanha. No livro mostro um mapa secreto do Ministério do Interior onde está o índice de ligações à jihad. Os pontos mais quentes estão maioritariamente em Madrid, Barcelona, na costa do Mediterrâneo... E ainda em Ceuta e em Melilla.
E o número de muçulmanos vai continuar a crescer?
Sem dúvida, em toda Europa, mas ninguém se atreve a prever um ritmo de crescimento. Vamos ter reagrupamentos familiares e novas gerações porque a taxa de natalidade é superior à espanhola. E se houver uma nova retoma da economia vai ser necessária também mão-de-obra estrangeira.
Estão integrados em Espanha?
Não existe integração, como noutros países. E para que isto mude é preciso apostar na educação e no respeito mútuo. O imigrante muçulmano que vem não é para estudar, é para trabalhar, mas já as segundas e terceiras gerações estudam e integram-se melhor. Alguns têm dificuldade em partilhar momentos de lazer com os espanhóis porque em Espanha sair com os amigos implica beber, comer presunto, chouriço... e não podem. Mesmo sem estarem integrados sentem-se à vontade. Em Espanha há um baixo nível de islamofobia se compararmos com países como França, Holanda ou Reino Unido. A adaptação passa também por fomentar um islão europeu, que seja diferente do da Arábia Saudita.
Pensa que há perigo de existir um novo atentado do terrorismo islâmico em Espanha?
É preciso estar sempre alerta mas não se considera que Espanha seja um alvo terrorista. À cabeça estão cidades como Paris, Londres e Bruxelas. As cidades espanholas (e também portuguesas) estão mais para o fim da lista. Os serviços secretos temem que o próximo atentado seja um sequestro maciço num centro comercial em que exigiriam a libertação de presos em vários países europeus. O lógico seria [isso acontecer] num local onde se juntem muitas nacionalidades.
Mas há islamitas radicais em território espanhol?
Poucos. Por volta de 160 foram para a Síria lutar, um número baixo. Existe uma hiperatividade das forças de segurança espanholas depois do 11 de Março [de 2004] e há pouca agressividade entre a comunidade muçulmana. Do meu ponto de vista, o terrorismo islâmico é um problema de identidade e acontece mais na 2.ª e 3.ª gerações de muçulmanos num outro país. Estas pessoas não se sentem do país de origem dos pais e ao mesmo tempo não estão adaptadas no país de acolhimento. Abraçam uma versão da religião para resolver esse problema de identidade.
O que desconhecem mais os espanhóis sobre os muçulmanos?
A cordialidade e hospitalidade.
Acompanha há anos a informação sobre o mundo muçulmano. O que descobriu de novo ao escrever este livro?
Chamou-me a atenção o grau de fragmentação e a divisão que existe entre eles. Têm pouca representação nas instituições. Por exemplo, em Melilla, onde mais de 50% são muçulmanos, só há um conselheiro muçulmano no governo local.
Madrid