Ser pai de dez...
No princípio são nove filhos, os pais, uma "mãe extra", um rottweiler chamado Bark Obama e o chihuahua Joe Biten. Depois entra o primo mais velho, novo elemento numa família que, pelo número, intimida a noção moderna de núcleo familiar, mas que pela diversidade justifica a nova versão de Cheaper by the Dozen. Quer dizer, qual a razão para se voltar ao material da comédia que Steve Martin protagonizou em 2003 (com uma sequela em 2005) se não houvesse um propósito de atualização? O mais curioso é que já em 1950 Walter Lang tinha realizado um À Dúzia é Mais Barato, sendo a história de fundo - basicamente, a dinâmica doméstica de uma família numerosa - inspirada num caso verídico.
Conheça-se então os Bakers. Paul (Zach Braff) e Zoey (Gabrielle Union) são um casal inter-racial, cada um divorciado do casamento anterior, que juntou os trapinhos e a respetiva descendência, fazendo a família crescer ainda mais com duas gravidezes de gémeos... As filhas mais velhas são adolescentes, cada uma com a sua tara, ora por basquete ora por sites de influencers, há uma jovem paraplégica, um rapaz adotado de origem indiana, mas quem rouba as cenas quase todas são os petizes, especialistas em TikTok e desordem, simplesmente adoráveis e contentes por fazer parte deste clã tão pouco homogéneo. Para além dos miúdos, Paul e Zoey partilham o negócio de um restaurante que pode estar em vias de se tornar uma franchise. E para complicar um bocadinho mais o cenário, o ex-marido de Zoey está numa de retomar o seu lugar na vida dos filhos, entrando num hilariante espírito de competição com Paul, que acaba por roçar o drama.
Na conferência de imprensa virtual em que o DN participou sobre esta nova comédia familiar disponível no Disney+, que contou com a realizadora Gail Lerner e o elenco adulto, falou-se muito da rivalidade engraçada destes homens de família. Mas também da importância de refrescar o material narrativo em função dos tempos. "Vê-se cada vez mais estas famílias mistas, multigeracionais, com toda a gente a viver debaixo do mesmo teto. Esta é a norma, sabe?", diz Gabrielle Union, que manda às urtigas a chamada "família tradicional". Uma ideia que Lerner aprova, pelo menos na realidade americana: "Kenya [Barris, argumentista] e eu trabalhamos juntos há seis anos e falamos muito sobre a importância da representatividade. Mostrar o mundo como ele é. E na televisão, nos filmes, nas séries, parece que vimos as famílias brancas tornarem-se a norma. O que não é um reflexo do mundo, nem um reflexo do mundo que queremos mostrar enquanto contadores de histórias. Por isso, ter a oportunidade de mostrar uma família que realmente se parece com o que a América se parece agora, foi emocionante!"
Sentados uns ao lado dos outros, e não cada um na sua janela de Zoom, como acontecia até há bem pouco tempo nestas conferências, nota-se que o ambiente da rodagem, apesar de máscaras, testes e afins, foi o de uma verdadeira família. "A Gaby e eu tivemos de nos tornar um pouco pais daquelas crianças, porque na hora da rodagem todos os seus pais, guardiões e babysitters estão fora dali... Também ajuda que a Gaby seja mãe na vida real. Eu não tenho filhos! Sou apenas o divertido tio Zach para minhas sobrinhas e sobrinhos. Portanto, fui um pouco isso no set - definitivamente era ela o polícia mau, quando tinha de ser", conta Zach Braff entre risos.
Todos ali se orgulham deste género de produção Disney, leve mas comprometida com um retrato americano genuíno e caloroso. "Queríamos mostrar uma família que vai em grupo para a piscina, que faz reuniões, que tem uma noite de cinema em casa... Se as pessoas chegarem ao final do filme e pensarem "vamos todos sair, vamos fazer algo divertido, vamos fazer uma refeição juntos, vamos abrir um restaurante familiar, seja o que for, já valeu." Braff, por sua vez, confessa-se entusiasmado por fazer parte deste registo de cinema que junta pais e filhos à frente do ecrã: "Eu nunca tinha entrado realmente num filme de família, para além de Chicken Little [dá voz ao protagonista]. Adoro a ideia de isto ser comfort food para a família, algo a que apetece assistir repetidamente. Isso seria incrível!" Para já, uma sessão caseira no Dia do Pai é suficiente.