"Ser na terra natal de Putin tem uma carga simbólica"

Entrevista a Lívia Franco, professora e investigadora do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica
Publicado a
Atualizado a

No passado, o metro de Moscovo foi atacado pelos separatistas do Norte do Cáucaso. Terão sido eles os responsáveis pelo ataque agora em São Petersburgo?

O separatismo islâmico no Norte do Cáucaso está relativamente controlado desde 2013. Por causa dos Jogos Olímpicos de Inverno houve um ação de contraterrorismo muito forte por parte das autoridades russas. No entanto, desde aí, e sobretudo desde 2015, tem havido um aprofundamento dos laços entre o separatismo islâmico do Norte do Cáucaso com o separatismo islâmico da região do Iraque e Síria.

Está a falar do Estado Islâmico....

Sim, são todos sunitas, faz sentido. Na propaganda do Estado Islâmico têm aparecido frequentes referências à Rússia e a novos ataques. Essa ligação parece-me o elo mais interessante.

Qual poderá ser a reação do presidente Vladimir Putin?

A tendência do regime é ter mão dura, que se confirma ainda mais pelo início do ciclo eleitoral. Por um lado, os separatistas podem querer aproveitar este momento para criar maior instabilidade e, de alguma maneira, mostrarem uma imagem relativa de fraqueza do regime. Por outro lado, acho que isso implicará uma reação dura do próprio regime, para mostrar precisamente que não está frágil, que não admite distensões, quer sejam civis, legítimas, ou terroristas, ilegítimas. Putin foi muito controlado, porque deve estar a ver o que pode ou não fazer, mas é um homem muito controlado.

É o primeiro ataque em São Petersburgo. Isso é relevante?

O facto de o ataque ter sido em São Petersburgo tem duas leituras. Por um lado, Putin estava lá, por outro, é a sua cidade-natal. Tem uma carga simbólica extra. Além disso, São Petersburgo é, de todas as cidades russas, a mais europeia, por isso também permite fazer uma certa colagem aos atentados que tem havido na Europa. Dá sempre aquele ar de que a Europa está em declínio ou fraca. Fazer este ataque na cidade mais europeia da Rússia potencia muito essa imagem de um estado europeu fraco.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt