Seis alunos do secundário entre os detidos em Hong Kong com explosivos "mãe de Satanás"
A polícia de Hong Kong deteve nove pessoas, entre as quais seis alunos do secundário, suspeitas de planear atentados à bomba. A chefe do governo, Carrie Lam, defende que "pais, reitores, professores" devem observar os adolescentes ao seu redor. "Se descobrirem que alguns adolescentes estão a cometer atos ilegais, devem ser denunciados", afirmou, alegando que os cidadãos têm sido expostos a "ideias erradas", entre elas a de "alcançar a justiça através de meios ilegais".
Os detidos, cinco homens e quatro mulheres que têm entre 15 e 39 anos e incluem também um professor do secundário, um funcionário universitário e um motorista desempregado, pertencem alegadamente ao grupo autointitulado "Returning Valiant". Este é considerado pelas autoridades como uma organização radical que defende a independência de Hong Kong. Os próprios terão prometido publicamente continuar a alimentar as "chamas da revolução", numa aparente referência aos multitudinários protestos de 2019 que foram reprimidos pelas autoridades.
"A operação tinha como alvo criminosos que tentaram fabricar uma bomba num laboratório dentro de uma casa", disse Steve Li, chefe de uma nova unidade da polícia encarregada da aplicação da polémica lei de segurança nacional. Ao abrigo desta lei imposta por Pequim - que grupos de defesa dos direitos humanos dizem destinar-se a calar os dissidentes - crimes como subversão, secessão, terrorismo ou conluio com forças estrangeiras pode dar prisão perpétua.
De acordo com a polícia, a investigação que levou às detenções começou no início do ano. Num quarto de um hostel no distrito de Tsim Sha Tsui, que o grupo alugava há um mês e que servia como laboratório para o fabrico de bombas, as autoridades encontraram triperóxido de triacetona (TATP). Este explosivo, conhecido como "mãe de Satanás", foi usado em vários atentados jihadistas na Europa.
Desde 2019, a polícia deteve várias pessoas pelo fabrico de bombas, incluindo de TATP. Em abril, um homem de 29 anos foi condenado a 12 anos de prisão por fabricar um quilo deste explosivo. De acordo com Li, os membros do grupo agora detido tinham o seu papel bem definido. "Alguns providenciavam o dinheiro. Alguns eram os cientistas, os que faziam o TATP no quarto. Um é responsável por fornecer os químicos e outros materiais para o plano, enquanto um pequeno grupo de pessoas criava as bombas", explicou, dizendo que também havia uma equipa de vigilância e outra que seria responsável por colocar as bombas. Os estudantes recrutados planeavam deixar Hong Kong para sempre.
Segundo Li, o objetivo do grupo era atentar contra locais públicos, sendo os alvos potenciais um dos túneis que unem Hong Kong ao resto do território da China, a infraestrutura ferroviária da região e os tribunais, além de simples caixotes de lixo. O plano dos suspeitos era "causar o maior dano possível", explicou. Além de pequenas quantidades de material explosivo, a polícia apreendeu também telemóveis, cartões de memória, um manual de como colocar as bombas e sair rapidamente da cidade e quase 12 mil dólares em dinheiro (além de terem congelado quase 80 mil em contas relacionadas).
susana.f.salvador@dn.pt