Ségolène Royal: de filha rebelde a rainha das neves
Ségolène Royal nunca o escondeu: muita da sua formação foi feita por oposição a um pai autoritário, tenente-coronel da Marinha, que fez a mãe sair de casa por não suportar mais tanta humilhação, tanto controlo e tanta submissão. Independente, em vez de submissa, era aquilo que queria ser. E foi. Forte, não teve qualquer problema em separar-se de François Hollande, o pai dos seus quatro filhos, em 2007, pouco tempo depois de ter sido derrotada na segunda volta das eleições presidenciais desse ano por Nicolas Sarkozy. Foi a primeira mulher a ter hipóteses de realmente chegar ao Eliseu. Ministra do Ambiente em duas ocasiões, Ségolène, de 63 anos, foi agora nomeada embaixadora francesa para os polos norte e sul. A propósito disso alguns media chamam-lhe já a nova rainha das neves.
"Foi aquilo que me propuseram, foi aquilo que eu aceitei. Penso que esta é uma bela missão", disse no programa Questions d"Info, da LCP--France Info-Le Monde-AFP. "O gelo diminuiu vários quilómetros em poucas décadas. Estas massas de água doce, que foram preservadas durante milhares de anos, subitamente estão derreter, espalham-se à escala planetária e, em seguida, provocam a subida da água do mar, mas perturbam também a biodiversidade de forma considerável", declarou Ségolène, que lançou a associação Manifesto por uma Justiça Climática e enquanto ministra batalhou pela ratificação do Acordo de Paris - compromisso em que os EUA participaram mas do qual o novo presidente anunciou que retirará o país. Donald Trump será, por isso, uma das dores de cabeça com que a francesa terá de lidar.
Com o Partido Socialista mergulhado numa grave crise, depois de ter sido trucidado pelo En Marche! de Emmanuel Macron tanto nas eleições presidenciais como nas legislativas deste ano, Ségolène ainda não se juntou à debandada geral da formação política que inclui já, entre outros, o nome do ex-primeiro-ministro Manuel Valls. Mas não descarta fazê-lo. "Ainda sou membro do Partido Socialista, mas não sei se continuarei a ser", disse em junho à BFMTV e RMC. Ségolène, que nasceu em Dacar quando o Senegal era francês, juntou-se aos socialistas em 1978. Em grande parte para desafiar as ideias de direita do seu pai, o tenente-coronel Jacques Antoine Royal. A quarta numa família de oito irmãos, fez questão de estudar, apesar de o pai achar que as mulheres não precisavam disso. Com 19 anos, em 1972, processou o pai por este se recusar a dar dinheiro para a educação e sustento dos filhos depois de a mãe, Hélène, ter decidido sair de casa. Venceu o caso em tribunal, em 1981, um ano antes de o pai morrer de cancro e um ano depois de ela se ter formado na Ecole Nationale d"Administration.
Foi aí que conheceu François Hollande, com quem viveu, apesar de nunca terem casado. E com quem teve quatro filhos: Thomas, Élise, Julien, Flora. O casal separou-se em 2007, depois de Ségolène ter perdido, na segunda volta, as presidenciais para Sarkozy, candidato rival da direita. Hollande assumiria depois uma relação com a jornalista Valérie Trierweiler, que não viria a acabar bem por causa das suspeitas de traição por parte deste com a atriz Julie Gayet. Com Ségolène, apesar de tudo, Hollande sempre manteve uma relação de amizade. Pelo menos aparentemente.
Deputada eleita por Deux-Sèvres, presidente do conselho regional de Poitou-Charentes, Ségolène foi ministra do Ambiente duas vezes: em 1992 e 1993, quando era presidente François Mitterrand, e entre 2014 e 2017, durante a presidência de François Hollande. Apesar de agora ter sido nomeada embaixadora para os polos (sucedendo no cargo a Michel Rocard), acaba de ser dizimada pelo relatório do senador de direita Jean-François Husson, que a acusa de ter feito "muitos anúncios para tão poucos feitos".