Secretário de Estado americano vê vantagens no degelo do Ártico
Contrariando as advertências feitas por várias organizações sobre os efeitos catastróficos que as alterações climáticas estão a produzir na região do Ártico, o secretário de Estado norte-americano vê sobretudo novas oportunidades. Para Mike Pompeo, aquela região está "na vanguarda da oportunidade e da abundância" graças à redução do gelo marítimo e aos recursos naturais de que dispõe.
De acordo com Pompeo, num discurso efetuado na segunda-feira, na Finlândia, durante uma reunião do conselho ministerial dos países do Ártico, no qual se incluem os EUA, a redução do gelo marítimo torna a região "uma arena de poder e competição global" devido aos novos caminhos de passagem que abrem novas rotas comerciais.
Por exemplo, com a redução do gelo será possível reduzir a viagem entre a Ásia e Ocidente para 20 dias. "As rotas marítimas do Ártico poderão tornar-se o Suez e os canais do Panamá do século XXI", disse, citado pela CNN.
O discurso político de Pompeo sobre o Ártico concentrou-se nas ameaças que a Rússia e a China representam para a região. O secretário de Estado norte-americano declarou que os Estados Unidos vão competir pela influência no Ártico e combater qualquer tentativa por parte das outras duas potências em dominar este local estratégico.
Segundo o Washington Post, a China investiu cerca de 80 mil milhões de euros no Ártico desde 2012. O secretário de Estado norte-americano mostrou desconfiar das intenções do investimento do gigante asiático, devido às "atividades predatórias" do país em outras regiões. "Queremos que o Oceano Ártico se transforme em um novo Mar da China Meridional, repleto de militarização e reivindicações territoriais?" perguntou aos diplomatas presentes.
Pompeo também alertou para as intenções da Rússia no Ártico, visto o país ter iniciado uma grande campanha de expansão militar. "Sabemos que as ambições territoriais russas podem se tornar violentas", disse, apontando o conflito no leste da Ucrânia.
O secretário de Estado enumerou durante o seu discurso alguns dos recursos naturais que a região dispõe como: "13% do petróleo não descoberto do mundo, 30% de gás não descoberto, uma abundância de urânio, minerais de terras raras, ouro, abundância de pesca, diamantes e milhões de quilómetros quadrados de recursos inexplorados".
Apesar deste interesse estratégico na região, o Programa de Pesquisa de Mudança Global dos EUA aponta a perda de gelo marinho como algo negativo. A perda aumenta o risco de erosão ao longo das costas e altera a presença de espécies marinhas em certas áreas, o que pode afetar o comércio de peixe e consequentemente as economias de algumas cidades costeiras.
A mudança do habitat dos animais pode revelar-se perigosa, como por exemplo, os 52 ursos polares que invadiram uma vila russa e aterrorizaram os habitantes durante meses. Os animais, devido ao degelo crescente do Ártico e à perda de habitat, viram a necessidade de se aproximar mais da população para procurar alimento.
A Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA informou em março de 2019 que "desde que as medições por satélite começaram no final dos anos 70, a extensão do gelo do Ártico diminuiu em todos os meses e praticamente todas as regiões, com exceção do Mar de Bering durante o inverno".
Também um relatório do Centro Nacional de Dados sobre Neve e Gelo apontou um novo nível recorde de perda de gelo marítimo. Os valores mostram que no passado mês de abril existiam menos 89.000 milhas quadradas do que em abril de 2018. O estudo aponta também que de todo o gelo do Ártico apenas 1.2% tem mais de quatro anos.
O secretário de Estado norte-americano elogiou a visão americana sobre a luta pelo ambiente e disse que Trump se encontra "comprometido em alcançar recursos de maneiras ambientalmente responsáveis". O discurso foi feito no mesmo dia em que um relatório da ONU alertou que um milhão de espécies estavam em risco de extinção devido à ação humana, incluindo a mudança climática.
Para Pompeo, a América é a líder mundial no que toca a cuidar do meio ambiente. "Os Estados Unidos estão a atingir reduções à maneira americana: através de trabalho científico, através da tecnologia, através da construção de infraestruturas energéticas seguras e através do nosso crescimento económico e estamos a fazer isso de forma a não sufocar o desenvolvimento com regulamentações onerosas que só criam mais riscos ao meio ambiente ".
Quando questionado sobre as mudanças climáticas, algo que optou por não abordar no seu discurso, o secretário de Estado disse que a sua opinião e do presidente Trump é "colocar toda a ênfase nos resultados".