Schumacher. O segredo continua, mas o ano foi de esperança
Seis anos após a tragédia que deixou Michael Schumacher em coma o mundo ainda não sabe qual o real estado de saúde de Schumi, mas continua a querer saber. Os fãs absorvem cada notícia como se fosse oxigénio para viver. O ano que agora termina foi de esperança para o heptacampeão mundial de Fórmula 1, A fazer fé nas últimas notícias e informações da família. No dia de Natal, por exemplo, a mulher criou a ideia de que o ex-piloto de Fórmula 1 tem vindo a apresentar melhorias aquando da apresentação do movimento KeepFightingMichael (Continua a lutar Michael), uma página no Facebook criada por um grupo de fãs, lançada por estes dias."Grandes coisas começam com pequenos passos. Muitas partículas pequenas podem formar um enorme mosaico. Juntos, vocês são mais fortes, e é exatamente assim que as forças combinadas do movimento KeepFighting facilitam o incentivo a outras pessoas", disse Corinna.
Mas estará o alemão a melhorar? Em julho, Jean Todt, presidente da Federação Internacional de Automobilismo e um dos que ocasionalmente quebra o silêncio para dar algumas informações sobre o piloto, confessou que costuma assistir a algumas corridas de fórmula 1 na casa do alemão, pela televisão. "Eu sou sempre muito cuidadoso com as declarações que faço sobre este tema, mas é verdade. Eu vejo algumas corridas ao lado do Michael Schumacher na sua casa na Suíça", revelou Todt em declarações à Rádio Monte Carlo. "O Michael está em boas mãos e está a ser muito bem acompanhado na sua casa. Ele não desiste e continua a lutar", acrescentou o francês, que coincidiu com Schumacher na Ferrari nos títulos do piloto entre 2000 e 2004.
Dois meses depois desta revelação esperançosa de Todt, em setembro, um jornal francês noticiava que o piloto tinha dado entrada num hospital em Paris para ser tratado com células estaminais. Segundo o jornal francês Le Parisien, Schumacher deu entrada nos serviços de cirurgia cardiovascular do hospital Georges-Pompidou, para ser tratado pelo médico e professor Philippe Menasché, um cirurgião cardíaco de 69 anos, "pioneiro em terapias celulares para curar insuficiência cardíaca" e membro do conselho de administração Instituto do Cérebro e Medula Espinal do hospital Pitié-Salpêtrière.
A notícia correu mundo e ao contrário de outras não foi desmentida pela família. Rapidamente se espalhou a informação de que o piloto estaria "consciente" após o procedimento inovador e mais uma vez a informação não foi desmentida. A intervenção dividiu a comunidade médica e a diretora do Centro de Pesquisa sobre Coma do Instituto Neurológico de Milão, Matilde Leonardi, mostrou-se muito cética relativamente a isso. "Não há tratamento experimental com células estaminais que tenham um efeito positivo para pacientes em estado de consciência mínima, como é o caso de Michael Schumacher. As notícias divulgadas sobre o ex-piloto estão apenas a alimentar falsas esperanças e a iludir as famílias dos pacientes", revelou Matilde Leonardi, numa entrevista concedida ao diário Daily Express.
Já Philippe Menasché, médico que tratou o ex-campeão do mundo, defendeu que os tratamentos a que Schumacher foi sujeito recentemente não são experiências. "Eu não faço milagres. Eu e a minha equipa não estamos a fazer nenhuma experiência, um termo abominável que não corresponde a uma visão séria da medicina", começou por afirmar o médico do Hospital Georges Pompidou, admitindo que apesar de ter havido muitos progressos na área nos nos últimos 20 anos, "ainda se sabe muito pouco sobre células estaminais". Sobre o caso do piloto alemão em específico nem uma palavra.
Na véspera do seu 50.º aniversário, a família do antigo piloto emitiu um comunicado no Facebook. "Podem ter a certeza que ele está nas melhores mãos e que estamos a fazer tudo o que é humanamente possível para o ajudar. Por favor entendam que seguimos o desejo de Michael ao manter sob reserva, e em privacidade, um assunto tão delicado como é a sua saúde. Ao mesmo tempo agradecemos a amizade de todos e desejamos-vos um feliz 2019", pode ler-se, sem que sejam noticiados detalhes do estado de saúde do antigo piloto.
No passado dia 3 de janeiro, Michael Schumacher completou 50 anos de vida. Para assinalar o aniversário do mais bem-sucedido da modalidade (91 vitórias e sete títulos mundiais) a F1 resolveu homenagear o alemão. O museu da Ferrari, em Maranello, Itália, por exemplo, exibiu uma exposição especial sobre Schumacher, em sinal de "gratidão ao piloto mais bem-sucedido de toda a história da Ferrari". Também a Mercedes, última equipa pela qual Schumacher correu antes de se aposentar em 2012, exibiu os carros que ele usou no seu museu sediado em Estugarda.
Este foi também o ano em que os filhos deram nas vistas profissionalmente. Mick Schumacher, filho do heptacampeão mundial de Fórmula 1, que estava a esquiar com o pai quando o fatídico acidente ocorreu, conquistou a 4 de agosto a sua primeira vitória na Fórmula 2, no circuito de Hungaroring, em Budapeste."Genial. Penso que isso resume bem o que aconteceu. É um alívio, depois de muita má sorte. Estava sob pressão, pois temos um carro de alta performance e os resultados não estava a corresponder às expectativas", disse o jovem piloto, de 20 anos sem quer falar em F1 e seguir as pisadas do pai: "Tenho de ter a certeza de estar pronto quando lá chegar".
No mês passado foi a vez da filha homenagear o pai. Gina, campeã europeia de hipismo resolveu apresentar-se numa prova de estilo livre em Itália equipada como se fosse um piloto de F1 e vestindo o cavalo como se fosse um carro da Ferrari. "Sou grata a toda a minha família e amigos que me têm apoiado muito. Sem vocês, isto não seria possível", escreveu na sua página oficial no Instagram.
A 29 de dezembro de 2013 o Michael Schumacher que o mundo conhecia deixou de existir devido a um acidente de esqui. O piloto alemão bateu com a cabeça numa rocha quando esquiava nos Alpes franceses e sofreu um grave traumatismo craniano. O mundo ficou dias em suspenso por notícias do sete vezes campeão do Mundo de Fórmula 1 entre 1994 e 2004 (pela Benetton e Ferrari). Depois soube-se que estava em coma induzido e que teria acordado meses depois e ficado em estado vegetativo. Seis anos após o fatídico acontecimento, pouco ou nada se sabe sobre o seu real estado de saúde. A contra informação é muita e a mentira faz parte da verdade e vice-versa. Sabe-se apenas que está na sua casa, em Gland, na Suíça, junto ao lago Genebra, num quarto sob a supervisão de uma equipa médica composta por 15 pessoas.
O assunto virou tabu entre o mundo do automobilismo. No circuito todos parecem compactuar com um silêncio que se tornou ensurdecedor em volta do estado de saúde de um dos melhores desportistas de sempre. A privacidade de Michael Schumacher tem sido preservada a 100%. Ou quase. As exceções foram duas ou três notícias logo descredibilizadas pelo porta-voz da família. Uma primeira notícia de agosto de 2014 dava conta de um alegado roubo de um relatório médico sobre o piloto no Hospital de Grenoble que alguém terá tentado vender à imprensa. Logo depois houve um processo movido pela família a uma revista alemã que escreveu que Schumacher já conseguia andar sem a ajuda de terapeutas e que já conseguia levantar um braço. O advogado da família, Felix Damm, negou todas estas informações.
Mais recentemente, em 2016, um paparazzi teria tentado vender a vários órgãos de comunicação mundiais uma alegada fotografia do piloto na cama do hospital, exigindo um milhão de euros pela foto. Essa fotografia nunca foi publicada... ou porque não existia ou por medo de fortes represálias legais de um possível processo judicial movido pela família do piloto alemão.
O mesmo aconteceu no verão de 2018, quando a revista suíça L'Illustré noticiou que a família Schumacher ia mudar-se para a localidade espanhola de Andratx, na ilha de Maiorca, depois de comprar a Villa Yasmín, uma propriedade que pertencia ao presidente do Real Madrid, Florentino Pérez. A mudança foi confirmada pela presidente do município do arquipélago das Baleares, Katia Rouarch, mas desmentida pela família dois dias depois.
Há meses a mulher desvendou um pouco o véu sobre o assunto. "Ele fez tudo por mim. Nunca esquecerei a quem tenho que agradecer. Esse é meu marido Michael", disse Corinna Schumacher à revista She Magazine, antes de garantir que o marido está a ser acompanhado pelos melhores especialistas: "Pode ter certeza de que está nas melhores mãos e que estamos a fazer tudo o que é possível para o ajudar. Entenda que estamos apenas a cumprir a vontade do Michael mantendo um assunto sensível como a saúde, como sempre foi, em privado."
Manter o piloto internado em casa custa uma verdadeira fortuna. Estima-se que desde setembro de 2014, quando Schumacher deixou o hospital, a família já tenha gasto cerca de 50 milhões de euros em cuidados médicos. Nada que belisque as finanças do clã Schumacher, já que segundo a revista Forbes, o piloto terá acumulado ao longo da carreira uma fortuna avaliada em 840 milhões de euros.
Este completo segredo decretado pela família de Schumacher já foi alvo de algumas críticas. Willi Weber, antigo agente do piloto alemão, foi um dos que veio a público dizer que a família deveria dar informações sobre o real estado de saúde do alemão: "Penso que é uma pena os milhões de fãs do Michael não saberem nada sobre o seu estado de saúde. Porque não dizem a verdade? A família deve dizer a verdade sobre o seu estado."
Para a história continua a contar o legado do piloto, que continua a inspirar novos talentos do automobilismo. Esteban Ocon que está de volta à Renault vai prestar homenagem ao heptacampeão mundial. "Michael Schumacher sempre foi meu exemplo. Ele mudou drasticamente o desporto em um sentido prático e na maneira como as equipes veem os pilotos", disse Ocon à Next Gen Auto, explicando: "Ele elevou o nível. Eu ainda uso o design do capacete dele no meu próprio capacete."