Sabe que será para sempre o "eterno vencedor da Eurovisão", as palavras são do próprio, mas Salvador Sobral sentiu necessidade de seguir em frente. E a melhor forma de o fazer foi com um novo disco, o segundo da carreira, mas o primeiro a ser editado depois da ressaca eurovisiva..Chama-se Paris, Lisboa e nele se apresenta um novo Salvador Sobral, "luminoso e colorido", que tanto vagueia pelo jazz, pela canção francesa, pela sua querida música da América Latina e mesmo pela pop sem qualquer tipo de pudor. "A Eurovisão não é um tabu para mim, muito pelo contrário, mas precisei de deixar entrar o sol na minha música, para acabar de vez com a imagem do cantor triste e amargurado", justifica..No último ano, tudo mudou na vida de Salvador Sobral: venceu a complicada doença cardíaca com um transplante de coração, voltou a cantar um pouco por toda a Europa e até se casou, no início do ano, com a mulher que sempre esteve presente nos momentos mais complicados, a atriz francesa Jenna Thiam..É isso que este disco representa, o começo de "uma nova vida", porque é disso mesmo que se trata. "Nem é um novo capítulo, é outro livro, escrito de raiz", sublinha. Paris, Lisboa - o título, a fazer lembrar o famoso filme de Wim Wenders, remete para a relação à distância com a mulher, que continua a viver em França - começa, no entanto, com uma referência ao passado, uma espécie de epílogo sob a forma de canção..A faixa de abertura 180, 181 (catarse) soa assim como algo estranho ao resto do disco. E a intenção foi mesmo essa, como revela o cantor: "Essa canção serve para deixar o passado arrumado lá atrás e é por isso que está separada das outras, tanto na contracapa como do áudio do disco, que recomeça só alguns segundos depois." O tema fala de alguém em coma, que não sabe se quer acordar, e "foi escrito logo depois da final do Festival da Eurovisão"..Na altura, como refere Salvador, a intenção não era escrever uma canção autobiográfica, isso só aconteceu depois. "Depois de tudo o que vivi senti necessidade de a recuperar para o disco. Apenas mudei um pouco a letra, para ficar um pouco mais autobiográfica", explica. Só depois desta recordação de um passado mais negro, começa então realmente o disco, ao som de Presságio, cujo título não tem nada que enganar e remete para essa vontade de abraçar "um futuro radioso"..É também tudo isto que se celebra nesta noite em Lisboa e amanhã no Porto, nos dois concertos nos coliseus destas cidades, que marcam também a estreia de Salvador Sobral nestas míticas salas. A acompanhá-lo em palco vão estar os companheiros de sempre, os Sobralinhos, como chama nos agradecimentos do disco ao trio composto por André Rosinha (contrabaixo), Bruno Pedroso (bateria) e Júlio Resende (piano), com quem já toca desde 2016..Também alguns convidados especiais, que Salvador não quer revelar, "para não estragar o efeito surpresa". Quanto à importância destes concertos, essa "é inegável, apesar de ter andado em negação" durante algum tempo. Dizia a si mesmo que "eram apenas mais dois espetáculos", como todos os outros. "Mas não são, porque afinal tenho uma vida nova e isso merece ser festejado"..Salvador Sobral.Coliseu dos Recreios, Lisboa. Hoje, sexta-feira, 21.30. Bilhetes de 20 a 50 euros.Coliseu do Porto. Amanhã, sábado, 21.30. Bilhetes de 19 a 42 euros