Salah Abdeslam transferido para França e detido em isolamento
Eram 09.05 da manhã de ontem quando o helicóptero que transportava Salah Abdeslam aterrou em território francês. O único sobrevivente do grupo de dez terroristas responsáveis pelos atentados de 13 de novembro em Paris foi extraditado da Bélgica para França.
Depois de ter sido presente aos juízes, o suspeito foi formalmente colocado sob investigação pelos crimes de homicídio, rapto, posse ilegal de armas e explosivos e envolvimento com grupo terrorista.
Abdeslam ficará detido preventivamente na prisão de Fleury-Mérogis, o maior estabelecimento prisional da Europa, situado a 30 quilómetros a sul de Paris. "Será colocado em isolamento e ficará sob vigilância de uma equipa especializada na detenção de indivíduos considerados extremamente perigosos", afirmou ontem Jean-Jacques Urvoas, o ministro da Justiça francês.
Segundo o francês Le Point, a detenção em isolamento é decidida por períodos renováveis de três meses e a duração do regime, salvo em casos considerados excecionais, não pode ultrapassar os dois anos. Apesar de confinados a uma cela solitária e de não estarem autorizados a manter contacto com outros prisioneiros, os reclusos em isolamento podem receber visitas, telefonar, trocar correspondência e exercitar-se num pátio reservado da penitenciária.
"Inteligência de um cinzeiro vazio"
Frank Berton será o advogado de Abdeslam em França. "Deparei-me com um homem abatido, com vontade de explicar a sua radicalização. Se a postura fosse outra não teria aceitado defendê-lo, mas uma vez que está disposto a discutir todo o enquadramento penso que estamos em condições de escrever uma página interessante para a história da Justiça. Uma vez que é o único sobrevivente pode haver a tentação de culpá-lo pelas ações de outros, mas deverá ser julgado pelos crimes que cometeu e não pelo que representa", disse o penalista em declarações ao Le Monde.
Berton, que já se viu envolvido em diversos casos mediáticos, contará com o auxílio de Sven Mary, o advogado que até agora representou o arguido. A opinião do jurista belga sobre Abdeslam é, contudo, pouco abonatória. "Tem a inteligência de um cinzeiro vazio e não passa de um pequeno imbecil de Molenbeek. Perguntei-lhe se tinha lido o Alcorão e respondeu-me que leu uma interpretação que encontrou na internet", afirmou Mary numa entrevista ao Libération.
Ainda que para já não seja claro o papel que desempenhou na noite de 13 de novembro, as autoridades acreditam que Abdeslam foi uma peça-chave na preparação dos atentados - que mataram 130 pessoas - e que terá sido ele a levar até ao Stade de France os bombistas suicidas que se fizeram explodir. Tudo indica que Abdeslam deveria ter concretizado um outro ataque, mas que terá recuado no último momento, descartando-se de um colete com explosivos, que seria mais tarde encontrado num contentor de lixo.
Depois de quatro meses em fuga, Abdeslam foi detido a 18 de março no bairro de Molenbeek, apenas quatro dias antes dos atentados em Bruxelas. A investigação aponta para que estivesse também ligado aos terroristas responsáveis pelos ataques na capital belga.
Prisão sobrelotada
De acordo com o Le Point, a prisão de Fleury-Mérogis, onde Abdeslam ficará detido, atravessa neste momento uma crise de sobrepopulação. Com capacidade para 2855 reclusos, alberga neste momento 4378 indivíduos, o que representa uma taxa de ocupação de 153%.
Construído entre 1964 e 1968, o complexo prisional já recebeu vários criminosos célebres, como o gangster Jacques Mesrine (1936--1979), ou o serial killer Michel Fourniret (1942), que se encontra a cumprir pena perpétua na penitenciária de Ensisheim. Mais recentemente, em 2005, pelos calabouços de Fleury-Mérogis passou Chérif Kouachi, que viria a ser um dos autores do ataque ao Charlie Hebdo. De acordo com uma reportagem emitida em março na estação France 3, a prisão acolhe neste momento mais de 200 islamistas radicais.