Rússia e EUA trocaram prisioneiros: um ex-fuzileiro americano por um piloto russo

Estudante e ex-fuzileiro norte-americano, Trevor Reed foi condenado na Rússia, em 2020, por agredir polícias embriagados e por ter resistido à detenção. O piloto russo Konstantin Yaroshenko foi condenado nos EUA a 20 anos de prisão. Biden diz que troca de prisioneiros com Moscovo foi resultado de "decisões difíceis".
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Moscovo e Washington trocaram esta quarta-feira, após longo processo de negociações, o estudante e ex-fuzileiro norte-americano Trevor Reed, condenado na Rússia a nove anos de prisão, e o piloto russo Konstantin Yaroshenko, condenado nos EUA a 20 anos de prisão.

"Como resultado de um longo processo de negociações (...) ocorreu a troca do cidadão americano Trevor Reed, condenado na Rússia, e do cidadão russo Konstantin Yaroshenko, condenado em 2010 por um tribunal americano a 20 anos de prisão", informou o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia.

O estudante norte-americano Trevor Reed foi condenado na Rússia, em 2020, por agredir polícias embriagados e por ter resistido à detenção.

Yaroshenko foi detido em maio de 2010 por agentes da brigada anti-droga, em Monróvia, capital da Libéria, tendo sido transferido para Nova Iorque no âmbito de uma operação contra uma rede internacional de narcotráfico, ação que a Rússia classificou como "sequestro".

Mais tarde, o piloto russo foi condenado a 20 anos de prisão por participar em tráfico de droga entre a América Latina e África e, desde esse continente, para os EUA e para a Europa.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse hoje a troca de prisioneiros com Moscovo foi resultado de "decisões difíceis" para obter a libertação de um norte-americano preso na Rússia.

"As negociações que trouxeram Trevor para casa exigiram decisões difíceis que não tomo levianamente. O seu regresso seguro é uma prova da prioridade que o meu Governo dá a trazer para casa americanos feitos prisioneiros e detidos injustamente no estrangeiro", disse Biden, num comunicado.

Segundo o pai de Reed, a troca ocorreu na Turquia, avança a AFP.

Pelo menos mais dois americanos estão presos na Rússia - Paul Whelan, ex-oficial de segurança de uma empresa de peças de veículos, e Brittney Griner, jogadora de basquetebol acusada de porte de drogas - o que significa que mais trocas desse tipo podem estar reservadas.

A troca de prisioneiros realizada esta quarta-feira entre Moscovo e Washington, no auge da guerra na Ucrânia, lembra as trocas realizadas entre o Oriente e o Ocidente durante a Guerra Fria. Também faz recordar uma troca de espiões histórica em 2010 em Viena.

Antes do fim da Guerra Fria, em 1991, as trocas de prisioneiros eram habituais entre Moscovo e o Ocidente, mas envolviam principalmente espiões. Desde então, tornaram-se mais raras, mas continuaram desde que o russo Vladimir Putin chegou ao poder em 2000.

A 9 de julho de 2010, a Rússia e os Estados Unidos realizaram sua maior troca de espiões desde a queda da Cortina de Ferro no aeroporto de Viena, trocando 10 agentes deportados pelos EUA por quatro libertados por Moscovo.

Numa operação altamente coreografada, voos especiais russos e norte-americanos levaram os espiões para Viena, estacionados um ao lado do outro na pista, e descolaram com 15 minutos de intervalo após a troca de autocarros.

Um jato do governo levou os 10 espiões russos, incluindo a glamorosa Anna Chapman, de volta ao aeroporto Domodedovo, em Moscovo.

Os quatro libertados pela Rússia incluíam três condenados por espionagem. Entre eles estava Sergei Skripal, um ex-coronel da inteligência militar russa cujo envenenamento em 2018 no sul da Inglaterra, onde se refugiou, desencadeou uma grande crise diplomática entre a Rússia e o Ocidente.

Vários países ocidentais acusaram Moscovo pela tentativa de assassinato do ex-agente duplo, algo que a Rússia sempre negou.

Durante a Guerra Fria, as trocas de prisioneiros aconteciam regularmente na ponte de ferro Glienicke, que ligava Berlim Ocidental à Potsdam, no lesta da Alemanha, controlada pelos soviéticos, sobre o rio Havel.

A primeira troca de espiões memorável da era soviética ocorreu em 1962, envolvendo o lendário oficial de inteligência soviético Rudolf Abel e o piloto norte-americano Gary Powers.

Abel - que tinha sido condenado pelos Estados Unidos a 30 anos de prisão - foi trocado por Powers, que foi capturado pela URSS depois do seu avião ter sido derrubado no espaço aéreo soviético.

O diretor Steven Spielberg transformou esta história em um sucesso de bilheteira, "Ponte dos Espiões", em 2015.

A troca mais espetacular na ponte, no entanto, ocorreu a 11 de fevereiro de 1986, quando Natan Sharansky, um político israelita de origem soviética, foi trocado após ter passado anos num Gulag soviético acusado de espionagem e traição por pedir permissão para se mudar para Israel.

Com AFP

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