Ronaldo bate recorde de Ali Daei e dá vitória a Portugal em jogo louco
Há dias assim. Dias em que Cristiano Ronaldo faz história e ajuda Portugal a vencer um jogo que parecia perdido. Os 7865 adeptos presentes no Estádio do Algarve, para ver o Portugal-Rep. Irlanda, de qualificação para o Mundial 2022, entraram em delírio com a possibilidade de verem acontecer história no relvado, logo nos primeiros minutos do jogo, mas o capitão da seleção falhou uma grande penalidade como poucas vezes o fez. Apenas adiou o inevitável: bisou ao cair do pano e bateu o recorde de Ali Daei.
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Os dois golos marcados ontem à Rep. Irlanda (2-1), uma das poucas seleções a quem nunca tinha marcado, fazem dele o maior goleador de sempre de seleções com 111 golos de quinas ao peito (em 180 jogos). Foi já como jogador do Manchester United que CR7 bateu o recorde de Ali Daei (109 em 149 jogos, entre 1996 e 2003) e ajudou Portugal a regressar às vitórias, depois do polémico empate com a Sérvia e o golo limpo anulado a... CR7.
Dois golos de cabeça tal como o primeiro que fez pela seleção, a 12 de junho de 2004, numa partida de má memória para Portugal frente à Grécia (derrota na estreia no Euro 2004). Sim, Cristiano Ronaldo está numa relação séria com a baliza há 5925 dias! Pelo meio, num amigável diante dos Camarões em 2014, marcou o golo número 48 por Portugal, superando os 47 de Pauleta e tornando-se assim no melhor marcador de sempre por Portugal.
Honra que engrandeceu a cada jogo e de olhos no recorde mundial de Ali Daei. O golo 109 com que igualou a marca do iraniano foi marcado de penálti, no Euro 2020, no passado mês de junho. Altura em que Ali Daei o parabenizou apesar de reclamar depois ter 111 (FIFA não reconhece dois golos).
A versatilidade é uma das imagens de marca do goleador que já marcou a 45 seleções (das 68 que defrontou). Lituânia e Suécia são as maiores vítimas com sete golos cada. A grande maioria dos golos de Ronaldo foram marcados de bola corrida (87), sendo que tem mais marcados da marca dos 11 metros (14 de penáltis) do que livres diretos (10).
CR7 começou o jogo a mostrar ao público o troféu de goleador do último europeu (cinco golos) e com vontade de marcar. Depois de algum suspense e de 13 minutos para o árbitro decidir se era grande penalidade sobre Bruno Fernandes ou não, Ronaldo falhou e adiou o recorde para o segundo tempo com dois golos em sete minutos. "Este recorde é meu e é único. Faltava-me um golo e fiz dois, estou extremamente feliz. Dedico a todos os portugueses e a toda a equipa. Foi sofrer até ao fim", acrescentou.
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Depois de experimentar jogar com dois médios defensivos no Euro 2020, o selecionador nacional apostou num 4x3x3 com João Palhinha sozinho no miolo e ladeado pelos mais ofensivos Bernardo Silva e Bruno Fernandes. Na frente a grande novidade foi a titularidade de Rafa num tridente com Ronaldo e Jota.
Aos 28 minutos, o jovem avançado do Liverpool correspondeu da melhor forma a um cruzamento teleguiado de João Cancelo, mas a bola bateu no poste da baliza irlandesa. Passado o perigo, um momento caricato após um lance corpo a corpo com João Palhinha, Aaron Connoly chocou com Fernando Santos, que acabou por se desequilibrar e cair. Foi um prenúncio do que estava para vir. A República da Irlanda tentou baralhar os portugueses, tentando sair a jogar a partir de trás, mas foi de bola parada que chegou ao golo.
Não é que se estivesse a adivinhar, mas também não surpreendeu. Portugal foi para o intervalo a perder, com uma exibição muito pobre nos primeiros 45 minutos, sem conseguir explorar o seu jogo interior. As movimentações sem bola deixaram muito a desejar. Era preciso fazer alguma coisa para ter mais presença na área e aproveitar melhor as investidas de Bruno e Bernardo - Fernando Santos deixou Rafa nos balneários e apostou em André Silva... o que deu mais liberdade a Ronaldo. A jogar solto e sem ser a principal referência na área, o capitão fez estragos.
O melhor estava guardado para o fim, com os dois golos de cabeça de Ronaldo que deram a vitória a Portugal e disfarçaram mais um jogo pobre da seleção nacional. De recorde em recorde, Ronaldo voltou a ser o abono de família da seleção nacional... e ficou tão entusiasmado que tirou a camisola para festejar e viu um cartão amarelo que o afasta do jogo com o Azerbaijão dia 7 (terça-feira). "Esqueci-me. É a emoção do jogo. Se calhar o mister vai-me dar uma dura, mas não faz mal. O importante foi ajudar a equipa. Peço desculpa, mas as emoções falam mais alto", disse Ronaldo no final do jogo à Sport TV.
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Essa foi de facto a parte que Fernando Santos menos gostou. Não poder contar com ele para a viagem a Baku. Quanto ao recorde? Normal, segundo o selecionador: "O Ronaldo sempre foi isto na sua história. Os grandes jogadores são assim, às vezes nos jogos parecem que não estão bem. Tinha um treinador, há muitos anos, Jimmy Hagan, e uma vez perguntei "porque é que o Eusébio não sai quando não está a jogar bem?". E depois quando for preciso onde é que está o Eusébio? Os grandes jogadores são isto. Podem não estar tão bem mas aparecem com tudo e resolvem os jogos", disse o selecionador nacional, à RTP no final do jogo.
Confrontado sobre qual o próximo recorde a perseguir, Ronaldo respondeu de forma curiosa. "Não sei... Não sei o que é que há ainda para bater. Mas o que eu mais quero é continuar a jogar, sinto-me motivado e ainda com forças para poder dar espetáculo mais uns três, quatro, cinco anos", atirou feliz o capitão da seleção.
CR7 confessou ainda que falhar o penálti mexeu com ele: "Era um recorde que queria muito bater. Depois de ter falhado o penalti, fiquei ali 10 minutos um bocadinho triste mas o futebol é isto. Temos de acreditar até ao fim. Os adeptos ajudaram-nos bastante mas prevalece o trabalho da equipa que acreditou até ao fim."
Mundial - 38 golos (31 na qualificação + 7 na fase final)
Europeu - 47 (33 na qualificação + 14 na fase final)
Taça das Confederações - 2
Liga Nações - 5 (2 na fase de grupos + 3 na fase final)
Particulares - 19
Total: 109
Ranking de Portugal:
1.º Cristiano Ronaldo, 111 golos;
2.º Pauleta, 47
3.º Eusébio, 41
Ranking de seleções:
1.º Ali Daei (Irão), 109 golos
Cristiano Ronaldo (Portugal), 109
3.º Ferenc Puskás (Hungria), 84
isaura.almeida@dn.pt