Rui Rio e Luís Montenegro dizem que vão ganhar as diretas do PSD neste sábado. Miguel Pinto Luz simulou que passava a uma segunda volta, num vídeo polémico. Na verdade, ninguém no partido arrisca a ser taxativo sobre quem sairá vitorioso desta corrida, que pode não terminar hoje.."Não se consegue perceber claramente", diz ao DN uma fonte próxima da atual direção do partido, embora admita esperar que o atual presidente fique à frente. Mas ficar à frente não significa que Rio reconquiste a liderança do PSD. Se nem ele nem Montenegro conseguirem mais de 50% dos votos haverá uma segunda volta daqui a uma semana, dia 18 de janeiro. E numa segunda volta é imprevisível quem será o escolhido pelos militantes para comandar o partido durante os próximos dois anos. Hoje vamos saber.."Se Rui Rio não conseguir a vitória à primeira volta, tudo vai depender do resultado de Miguel Pinto Luz", afirma a mesma fonte. Isto porque considera que se o resultado do vice-presidente da Câmara Municipal de Cascais for muito expressivo, esses votos tenderão a ir todos direitinhos para o candidato Luís Montenegro, ainda que Pinto Luz não dê nenhuma indicação para os seus apoiantes o fazerem. "São umas eleições em que realmente não se consegue adivinhar um resultado com alguma margem de segurança", reconhece..Neste sábado, os cerca de 40 mil militantes com quotas em dia, um pouco mais de 36% dos inscritos no partido, podem ir às urnas em todo o país, mas é provável que nem todos o façam. Os candidatos aumentaram os apelos à participação nestes últimos dias de campanha interna, sem que nenhum tenha desvirtuado o que sempre defendeu..Rio igual a si próprio."Nos próximos dois anos será igual, quem não concordar é melhor não votar em mim." A frase, como é óbvio, é de Rui Rio, que não se desviou um milímetro do que foi a sua estratégia de liderança para tentar agregar mais votos..O recandidato à liderança do PSD manteve que quer mostrar que o seu estilo de oposição é "construtivo", embora tenha anunciado o voto contra o Orçamento do Estado para 2020 sem rebuços. A rejeição a uma "alta carga de impostos" foi a principal justificação..Na reta final da campanha das diretas, Rio definiu os objetivos para os próximos dois anos. Em particular o de conseguir um bom resultado nas autárquicas de 2021, sobretudo em Lisboa, depois de o partido ter sofrido um pesado desaire eleitoral em 2017, ainda no consulado de Pedro Passos Coelho e que ditaram o seu afastamento da liderança do PSD..Já na noite das eleições legislativas, o recandidato à liderança do partido falou da necessidade de reimplantar o partido a nível autárquico. Rio lembrou que os resultados de 2013 foram um "vendaval" e os de 2017 um "terramoto" e que se não forem invertidos o PSD "pode deixar de ser um partido de grande relevo autárquico". Esta será a única forma de conseguir pôr o partido a sonhar com uma hipótese de regresso ao poder - o que também é reconhecido pelos seus rivais..Na sua moção de estratégia, "Portugal ao centro", Rio reitera tudo o que defendeu nestes dois anos de liderança, as grandes reformas na Saúde, Educação e Justiça e faz do combate à corrupção uma das suas bandeiras. Bate-se pela descida de impostos e por um crescimento sustentado nas exportações..Montenegro - oposição forte.O antigo líder parlamentar marcou sempre a diferença de Rui Rio - depois de ter desafiado a sua liderança no início do ano passado - com a ideia de que com ele o partido terá finalmente uma oposição forte e sem cedências ao PS e ao governo..Luís Montenegro defendeu na moção "a força que vem de dentro", um PSD também virado para a produção de riqueza, mas sobretudo para gerar "felicidade e bem-estar". Aos militantes acenou com a criação de um "índice de felicidade bruta" para medir o bem-estar dos portugueses..Pelo meio ficaram as picardias com Rio sobre a sua hipotética ligação à maçonaria, que negou, e uma campanha interna muito virada para convencer as bases de que é não só uma alternativa ao PS mas também à própria liderança do atual presidente do partido. E acusou Rio de estar numa deriva "unipessoal" e "autoritária".."Portugal precisa desta alternativa à ideologia estatizante e ao dirigismo da governação socialista, bloquista e comunista que nos tem conduzido à estagnação e se caracteriza pela falta de ambição. Um poder esquerdista que visa oprimir a sociedade pelos agentes do Estado normalmente capturados pelo mero projeto partidário de dependências e de rendas garantidas", escreveu na moção..Montenegro prometeu também distanciar o PSD do populismo do Chega, de André Ventura, ex-militante social-democrata, e apoiar incondicionalmente a recandidatura de Marcelo Rebelo de Sousa à Presidência da República. O que o seu adversário omitiu na moção. O antigo líder parlamentar social-democrata quis também pôr todas a fichas nas eleições autárquicas, com a mira apontada à conquista da Câmara Municipal de Lisboa..Pinto Luz e a segunda volta.Talvez por saber que é a sua candidatura que deverá condicionar uma segunda volta, que o vice-presidente da Câmara de Cascais quis dar um passo ainda maior e profetizar, num vídeo que causou enorme polémica, que tinha passado a essa mesma segunda volta..No PSD admite-se que Miguel Pinto Luz cresceu muito nesta campanha interna, já que apesar de ter sido presidente da maior distrital do PSD, a de Lisboa, era muito desconhecido pelas bases do partido no resto do país..No PSD admite-se que possa chegar aos 12% com a sua mensagem mais arrojada e virada para as camadas mais jovens. O que a acontecer obrigará mesmo à realização de uma segunda volta..Apresentou uma moção, "o futuro diz presente", muito detalhada em propostas, entre as quais a criação de tribunais exclusivos para combater a corrupção. Também ele se diz uma alternativa aos socialistas: "Apenas o PSD poderá liderar a alternativa não socialista necessária para Portugal.".Defende ainda a equiparação das pensões mínimas ao salário mínimo nacional, transformar as escolas em fundações, relançar a gestão privada de hospitais públicos e criar um sistema de contas poupança dos trabalhadores para a qual descontem 1% do salário. E bate-se pela redução de impostos, em particular o IRC que aponta para os 12,5%..Mas talvez o mais surpreendente para o partido tenha sido admitir que, ao contrário dos seus adversários nesta corrida à liderança, que uma aliança com o Chega é possível. Em entrevista ao Expresso manifestou uma ambição ainda: "O PSD deve ir para todas as eleições para ganhar. Coloco essa pressão a mim próprio. Tenho ambição de ganhar.".Seja como for, já admitiu que se não for desta vez que passa à segunda volta, estará a postos para daqui a dois anos, seja qual for o adversário que tenha pela frente, Rio ou Montenegro..Neste sábado são as suas mensagens, os apoios que conseguiram, que vão pesar na hora dos militantes depositarem o voto na urna. Mas nenhum parece ter sido suficientemente persuasivo para conseguir passar logo na primeira ronda.