Londres. Ricardo dos Santos contra suavidade de inquérito policial: "O racismo polido ainda é racismo"

Cinco polícias estão a ser investigados por alegado racismo num caso com o recordista português dos 400 metros, que vive em Londres desde os três anos e é casado com a atleta britânica, Bianca Williams.
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Cinco policiais da Polícia Metropolitana (MPS) de Londres estão a ser investigados por má conduta, na sequência do incidente com o atleta português Ricardo Santos e a mulher Bianca Williams, em julho. O caso correu mundo e levou o casal a acusar os agentes de racismo, revelando que era a 15.ª vez que eram mandados parar em três anos. No entanto, o casal ameaça boicotar o inquérito policial por não "tratar as acusações de racismo com a seriedade que devia".

A investigação das alegações de má conduta também examinará se o casal "foi tratado de forma menos favorável por causa de sua raça". Mas o português e a mulher queriam algo mas incisivo: "Esta investigação descarrilou. Depois de três meses, o IOPC finalmente disse que os polícias estão a ser investigados por falta de cortesia. O racismo polido ainda é racismo", disse Ricardo dos Santos, em comunicado divulgado pelo The Guardian.

O incidente ocorreu no dia 4 de julho, à hora de almoço, no bairro residencial de Maida Vale, em Londres e ganhou contornos mediáticos quando foi denunciado pelo antigo campeão Olímpico Linford Christie, que treina Ricardo dos Santos e Bianca Williams para os Jogos Olímpicos de Tóquio2021.

Tanto o ex-campeão mundial e olímpico como os dois atletas acusaram a polícia de racismo. "O grande problema disto é que acontece todos os dias e a gente comum, gente sem voz ou meios para lutar e ir para tribunal que permanece calada porque não há nada que possa fazer. E isso é muito mau. Eu não quero que o meu filho cresça com esse estigma. O que eu posso fazer como pai é ajudar a traçar um caminho onde ele não sinta racismo como os pais dele sentiram", explicou o português ao DN, na altura.

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Pelas imagens divulgadas na altura percebe-se o momento em que os atletas são abordados, com os polícias a rodear o carro armados com bastões e um martelo para partir a janela, vendo-se ainda que os dois foram puxados com violência para fora do carro, ao mesmo tempo que lhes era dada voz de prisão. Segundo a imprensa britânica Ricardo e Bianca foram algemados e detidos durante 45 minutos e depois libertados. Segundo a BBC, a polícia alega que o recordista nacional dos 400 metros, não obedeceu à ordem para encostar a viatura, depois de ter sido apanhado a conduzir no lado errado da estrada e em excesso de velocidade, o que ele nega.

Agora, após uma investigação prévia, o Gabinete Independente de Conduta Policial (IOPC - sigla em inglês) decidiu abrir um processo aos polícias envolvidos no incidente. Podem ser acusados de violação dos padrões policiais e comportamento profissional relacionados com "o uso da força, deveres, responsabilidades, autoridade, respeito e cortesia", segundo o comunicado.

Será ainda investigada a forma como "alguns oficiais abordaram o Sr. Dos Santos", assim como os motivos que levaram a que fosse algemado e detido sem motivo aparente. Relativamente ao comportamento com a mulher, a também atleta Bianca Williams, os agentes terão de explicar porque foi "arrancada" do carro sem se proceder a um pedido para o fazer, bem como o facto de ter sido algemada já depois de ser revistada.

No fundo, o gabinete independente da polícia quer saber por que motivo o carro de Ricardo dos Santos foi seguido e mandado parar, se a força usada "foi legal, necessária, razoável e proporcional" e se o casal foi tratado "de forma menos favorável por causa de sua raça".

"Depois de analisar uma série de evidências, incluindo uso do corpo da polícia, vídeo do dashcam e depoimentos de testemunhas, agora temos uma imagem mais completa das interações dos policiais com o casal e seu filho. Como resultado, tomamos a decisão de que isso atende ao limite para uma investigação de má conduta, as alegações agora serão investigadas de forma completa e independente", explicou Diretor Regional do IOPC, Sal Naseem.

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