Resultado de moção de censura a Boris Johnson imprevisível

A votação terá lugar na Câmara dos Comuns entre as 18:00 e 20:00 horas e o resultado será declarado pouco depois. O voto é secreto e o resultado é determinado por maioria simples, equivalente a 180 votos.
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Analistas políticos britânicos mostram-se divididos relativamente à possibilidade de Boris Johnson ser derrubado esta segunda-feira da liderança do Partido Conservador ou, como conseguiram outros antecessores, sobreviver à moção de censura.

"É muito mais provável que Johnson ganhe do que perca", afirma à Agência Lusa Tony Travers, politólogo da universidade London School of Economics (LSE).

Já Robert Ford, da Universidade de Manchester, admite que "a barragem pode rebentar" na tarde desta segunda-feira, quando Johnson for sujeito a uma moção de censura ["vote of no confidence"] enquanto líder do Partido Conservador, após dezenas de deputados terem manifestado descontentamento.

Graham Brady, presidente do grupo parlamentar Conservador, também conhecido por Comité 1922, declarou na manhã desta segunda-feira ter sido ultrapassado o patamar de 45 subscritores da moção para desencadear o processo.

A votação terá lugar na Câmara dos Comuns entre as 18:00 e 20:00 horas e o resultado será declarado pouco depois. O voto é secreto e o resultado é determinado por maioria simples, equivalente a 180 votos.

Esta é uma moção de censura interna no partido e não no Parlamento, pelo que só os 359 deputados conservadores podem participar.

Se Johnson ganhar, permanecerá como líder do partido e terá um ano de imunidade contra novas moções de censura, mas uma derrota abrirá caminho a uma eleição interna para encontrar um sucessor, na qual o atual primeiro-ministro não poderá concorrer.

A história é favorável ao primeiro-ministro conservador, pois outros antecessores sobreviveram a moções de censura: Margaret Thatcher em 1989 e 1990, John Major em 1995 e Theresa May em 2018.

Johnson tem também do seu lado, pelo menos teoricamente, entre 160 e 170 deputados que têm cargos ligados ao Governo, de acordo com uma estimativa do centro de estudos Institute for Government.

Este nível é próximo do necessário para ganhar, mas ainda assim o professor de Ciência Política na Universidade de Manchester, Robert Ford, sugeriu hoje na rede social Twitter que o número de votos contra Johnson poderá ser mais numeroso do que o previsto.

"Muitos deputados tiveram de engolir, e defender publicamente, uma série de disparates vergonhosos durante mais de seis meses. Eles sabem que o primeiro-ministro já não é popular. Eles sabem que ele não vai mudar. A barragem pode rebentar", escreveu.

Nicholas Dickinson, politólogo na Universidade de Oxford, concorda com Tony Travers e defende que o resultado mais provável será uma vitória para Johnson.

"Muitos conservadores ainda são leais a Johnson, outros que não estão satisfeitos receiam o que poderá vir a seguir e temem o impacto de uma eleição de liderança fraturante", vincou, em declarações à Lusa.

Porém, acrescentou, "uma vitória não significa que ele fica livre de problemas", e a margem do triunfo poderá ter significado.

Margaret Thatcher e Theresa May ganharam desafios à liderança, com 54% dos votos em 1990 e 63% em 2018, respetivamente, mas ambas cederam à pressão para se demitirem poucos meses depois.

"Se mais de um terço (cerca de 120) dos deputados votarem contra o primeiro-ministro, corre-se o risco de a instabilidade continuar nos próximos meses", explicou Tony Travers, professor de política na LSE, para quem é "evidente que uma minoria substancial de deputados conservadores perdeu a confiança em Boris Johnson".

Os analistas políticos britânicos apontam para as duas eleições parlamentares parciais nas circunscrições de Wakefield e de Tiverton and Honiton, em 23 de junho, como o próximo grande teste para os conservadores, que poderá provocar novas tentativas para o derrubar antes das próximas eleições legislativas, previstas para 2024.

O professor da Universidade de Sheffield, Matthew Flinders, considera que a moção de censura mostra que a liderança de Johnson "está presa por um fio e que o partido parlamentar chegou ao limite em termos de poder apoiar um primeiro-ministro que agora é claramente visto como não sendo de confiança pela população".

Sondagens recentes da empresa Opinium indicam que 56% dos britânicos estão insatisfeitos e querem que o chefe do Governo se demita, descontentamento refletido nos apupos na sexta-feira em Londres à entrada de uma cerimónia para celebrar os 70 anos de reinado da rainha Isabel II.

Ainda assim, Flinders não arrisca no prognóstico pedido pela Lusa.

"Tal como tudo o que tem a ver com Boris Johnson, nunca se sabe realmente o que vai acontecer. A minha perceção é que será uma decisão clara: ou os deputados conservadores vão apoiá-lo ou vão revoltar-se em massa e marcar o fim do mandato", respondeu.

Independentemente de sobreviver à moção, Boris Johnson sai enfraquecido, afirma o diretor do centro de estudos UK in a Changing Europe, Anand Menon, porque a desunião dá aos partidos da oposição o argumento de que até os próprios deputados não acham que ele deve ser primeiro-ministro.

"Ele perdeu o brilho entre os apoiantes e as pessoas estão preocupadas que ele já não seja um ativo eleitoral", resumiu à Lusa.

Sobre o resultado desta tarde, Menon acredita que está tudo em aberto num partido dividido entre a animosidade contra o exuberante líder conservador e aqueles que preferem estabilidade numa altura de crise económica e em plena guerra na Ucrânia.

"Quem quer que diga que sabe o que vai acontecer está a mentir. É impossível saber", confessa.

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