Reciclagem, comida e transportes públicos. A COP 25 e os desafios ambientais para lá das salas de reunião
Na feira de Madrid, onde durante duas semanas está instalada a Conferência das Partes das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (COP 25), o plástico é palavra proibida. De facto, a sua utilização foi muito reduzida e não atrai atenções, mas está cá.
Não se encontram garrafas de plástico no recinto. Desde o primeiro dia, que as que existiam foram substituídas por um recipiente de vidro, oferecido no balcão das informações. "Vá buscar a sua garrafa de vidro", aconselhavam os seguranças, os voluntários e os próprios conferencistas. E mesmo para quem não quer andar com uma garrafa de vidro, junto aos pontos de água, os copos são de cartão e na zona das refeições quase tudo parece reciclável: os pratos, os talheres, as caixas, os copos.
Todos estes objetos têm depois um sítio próprio nos ecopontos, espalhados pelos pavilhões, com uma distância de pouco mais de 200 metros entre si. Há um espaço para o cartão, para o vidro, para o plástico e para o lixo orgânico. No entanto, todos os caixotes do lixo estão forrados a plástico. O que significa milhares de sacos de plásticos usados todos os dias, tendo em conta a quantidade de ecopontos disponíveis para servir mais de 25 mil pessoas e a urgência com que estes são substituídos, quase sempre sem que o lixo chegue ao topo. Quantas vezes despeja o lixo por dia? "Não é possível sequer contar. Não paro. Passo por um (caixote) despejo, passo por outro despejo. Ando sempre às voltas", responde uma das funcionárias de limpeza, enquanto avança com o carrinho azul para o próximo ecoponto.
Devido à sua decomposição lenta, os plásticos são um dos principais inimigos do ambiente. Apenas um terço dos produtos constituídos por este material é recolhido e reciclado, acabando a maioria nos mares e nos oceanos, onde 80% dos resíduos encontrados são de plástico. É mais lento a desaparecer do que qualquer outro material e é responsável por intoxicar baleias, tartarugas, pássaros, peixes.
"Isto é de plástico?", pergunta um dos conferencistas, num sotaque que denuncia a sua nacionalidade britânica. Aponta para uma embalagem de salada, num café que serve comida rápida (pizas, empanadas e umas quantas folhas de alface que se esgotam depressa) na COP 25. "Na verdade, não sei", admite a funcionária, que vendeu na mesma a refeição. Apesar de existirem locais (poucos) a venderem comida vegetariana e fruta, as filas maiores à hora de almoço estão concentradas nas cadeias de fast food, no Burger King principalmente.
A poucos metros da feira de Madrid, passam a linha de metro cor-de-rosa e vários autocarros. É desta forma que a maioria das pessoas chega e deixa a cimeira. Até porque, durante cinco dias das duas semanas em que decorre a conferência, os participantes podem utilizar de forma gratuita todos os transportes públicos da capital espanhola.
Os poucos carros estacionados na zona pertencem às forcas de segurança que patrulham o perímetro, a cadeias televisivas espanholas e a altos representantes das mais de 190 nações presentes na reunião mundial. Mesmo assim, para alguns, isto ainda é muito: "Estamos numa conferência sobre a sustentabilidade climática e eu ainda estou a ver carros? As pessoas estão a defender uma coisa e a fazer outra", diz um manifestante à porta do metro. É um protesto de uma pessoa só, explicado num cartaz, que defende menos emissões de gases com efeito de estufa.
A Agencia Europeia do Meio Ambiente alertou, nesta quarta-feira, mais uma vez, para a necessidade urgente de reduzir as emissões em 30% na próxima década, em relação aos níveis de 1990. Se isto não acontecer a temperatura do planeta pode aumentar 3,2 graus Celsius até ao final do século, em vez dos 1,5º C pretendidos, o nível dos oceanos continuará a subir, mais espécies de animais e plantas serão extintas e aumentarão os eventos meteorológicos extremos, como ondas de calor, cheias ou secas.
Com este cenário em mente, decisores políticos de todo o mundo estão reunidos, à porta fechada, para discutir a revisão das emissões de gases, enunciadas no Acordo de Paris (2015) e de atualização obrigatória na cimeira do próximo ano, em Glasgow, no Reino Unido. Enquanto isso, do lado de fora, reúnem-se pessoas para os pressionar. A partir deste sábado acontece na capital espanhola uma contracimeira, organizada por grupos ambientalistas, que se reunirão na Universidade Complutense, para fazer a sua própria agenda contra as alterações climáticas. De Portugal, está previsto chegarem autocarros com membros das organizações 2degrees artivism, A Coletiva, A Terra, Climáximo, Extinction Rebellion Coimbra, Greve Climática Estudantil e Youth for the Future.
A maioria viaja para Madrid ainda nesta noite, a tempo de participar na marcha pelo clima, convocada para sexta-feira. Pretendem "desmascarar a hipocrisia" dos governos que há 25 anos se reúnem "sem sucesso" para contrariar as alterações climáticas e prometem encher a capital espanhola.