Reações à morte de Paulo Gonçalves. De Marcelo a Costa, Peterhansel e outras personalidades

Da Federação de Motociclismo ao Benfica, passando pelo Presidente da República e pilotos, todos lamentam a morte de Paulo Gonçalves e recordam a sua coragem, valentia e dedicação.
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Paulo Gonçalves, de 40 anos, morreu neste domingo na sequência de uma queda na 7.ª etapa do rali Dakar na Arábia Saudita, anunciou a organização. O piloto português, segundo da edição de 2015 e que disputava o seu 13.º Dakar, caiu ao quilómetro 276 da especial. De acordo com a informação da Amaury Sport Organization (ASO), o alerta foi dado às 10:08 horas locais, menos três em Lisboa. Através das redes sociais e em depoimentos, vários figuras ligadas ao desporto e não só lamentam a morte do piloto.

O piloto francês Stéphane Peterhansel, conhecido pelo senhor Dakar, múltiplo campeão do rali, em motas e carros, considerou neste domingo que a morte faz com que se coloque tudo em causa e falou da paixão de Paulo Gonçalves pelo seu desporto. "De cada vez [que morre alguém], surge a mesma questão. O que é que estamos a fazer aqui? Para quê? É realmente necessário competir? Não é a vida algo mais importante?", questionou o piloto, referindo que as respostas não existem.

"Era alguém que conhecia os riscos, era a sua paixão. Isso pode atenuar um pouco o que sentimos. Ele [Paulo Gonçalves] partiu a fazer o que o apaixonava, o que é um pequeno consolo. Mas é difícil de 'engolir' de cada vez que acontece", comentou Peterhansel.

Peterhansel, de 54 anos, conhecido como o "senhor Dakar" e que se estreou na conceituada prova em 1988, quando competia ainda em motas, categoria pela qual foi seis vezes campeão, e nos carros sete vezes, deixou várias questões. "De cada vez [que morre alguém], surge a mesma questão. O que é que estamos a fazer aqui? Para quê? É realmente necessário competir? Não é a vida algo mais importante?", questionou o piloto, referindo que as respostas não existem. Com muitas edições do Dakar feitas, o piloto francês explicou ainda que, alguns meses depois, a paixão volta, "como um vírus" e, a cada vez, mais profundo.

O piloto Mário Patrão (KTM) chegou neste domingo "desolado e em lágrimas" ao acampamento do Rali Dakar de todo-o-terreno, após a morte de Paulo Gonçalves na sequência de uma queda na sétima etapa da prova. "Não há palavras que possam descrever aquilo que sinto. Por detrás destas competições estão as nossas vidas e sempre com um enorme sofrimento. Mas, hoje, esta realidade dói mais e abala-nos a todos. Perdemos um grande amigo, um excelente ser humano e um piloto incrível", declarou Mário Patrão (KTM), um dos portugueses em prova na categoria das motas e que disputava com Paulo Gonçalves o estatuto de piloto português mais titulado de sempre. O piloto de Seia concluiu dizendo que, nestas alturas, tudo é colocado "em causa".

Também Carlos Sainz, líder dos carros na atual edição, comentou a morte do piloto português, referindo que todos sofreram uma "perda muito triste", e Joan Barreda, que foi segundo na etapa em motas, falou na perda de um irmão.

"Ainda não posso acreditar no que aconteceu. Não sei o que dizer. Cuidaste de mim estes anos todos, como um irmão. Lembro-me imenso das horas que passámos sozinhos no deserto, a cuidar um do outro, separados por 100 metros, isso permanecerá sempre na minha alma. Adoro-te Paulo", escreveu Barreda, com uma foto ao lado do piloto luso.

No site da presidência, Marcelo Rebelo de Sousa lamentou a morte do motociclista, sublinhando que o piloto "morreu a tentar alcançar o sonho de vencer uma das mais duras e perigosas provas de rally do mundo, na qual foi sempre um digníssimo representante de Portugal, chegando a alcançar o segundo o lugar em 2015".

O primeiro-ministro, António Costa, garantiu que o piloto português Paulo Gonçalves será lembrado como um "exemplo de ética, altruísmo e sã competição", e deixou as "mais sentidas condolências à família". "Lamento profundamente a morte do motociclista Paulo Gonçalves no Dakar 2020. Um atleta de exceção, Paulo Gonçalves será lembrado como um exemplo de ética, altruísmo e sã competição. Foi Prémio Nacional de Ética no Desporto de 2016. As mais sentidas condolências à sua família", escreveu o primeiro-ministro no Twitter.

O Governo disse hoje que o piloto Paulo Gonçalves fica para a história do motociclismo como um dos desportistas com a 'ética' e o 'altruísmo' como marcas indeléveis da sua carreira.

"O percurso do motociclista português na alta competição ficou marcado por colocar sempre na frente da sua ação os valores da ajuda, do companheirismo e da sã competição", refere a nota conjunta do ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, e do secretário de Estado da Juventude e do Desporto, João Paulo Rebelo.

Nesse mesmo comunicado, é lembrado o gesto do piloto português no Dakar de 2016, quando parou para ajudar o austríaco Matthias Walkner (KTM), ao lado de quem permaneceu após uma queda deste e fratura de uma perna.

"Essa atitude no Dakar 2016, entre outras que foi tendo ao longo do seu percurso desportivo, levou a que o IPDJ atribuísse ao motociclista o Prémio Nacional de Ética no Desporto de 2016. A própria Federação Internacional de Motociclismo atribuiu idêntica distinção", lembrou o Governo.

Tiago Brandão Rodrigues e João Paulo Rebelo dizem ainda que Paulo Gonçalves, que morreu hoje aos 40 anos, durante uma etapa do Dakar, será como "um atleta de exceção, um dos grandes campeões da história do desporto motorizado, um exemplo de dedicação e de altruísmo".

"Descansa em paz, guerreiro Paulo. O desporto e Portugal ficam hoje mais pobres. Até sempre, Campeão!", escreveu António Félix da Costa na rede social Facebook, acompanhando a publicação com uma fotografia do piloto de Esposende.

Já Miguel Oliveira disse que Paulo Gonçalves deixou "uma marca profunda na vida de quem teve o privilégio de se cruzar" consigo. "A tua coragem e valentia são exemplos para todos nós. DEP [Descansa em paz]", escreveu na mesma rede social o piloto de MotoGP.

O presidente da Federação de Motociclismo de Portugal (FMP), Miguel Marinheiro, classificou como "uma notícia triste e trágica" a morte do 'motard' Paulo Gonçalves, no rali Dakar, que descreveu como "um apaixonado da vida e das motos". "É uma notícia triste e trágica", referiu Miguel Marinheiro em declarações à agência Lusa, considerando que o piloto de Esposende, que morreu hoje na Arábia Saudita, "merece todos os elogios".

Segundo Miguel Marinheiro, o 'motard' português, de 40 anos, "era um apaixonado da vida e das motas", lembrando-o como "o piloto com mais títulos de campeão nacional", mas acima de tudo como "um excelente homem". "Começou no motocrosse, passou pelo enduro e pelo todo-o-terreno, em todas as modalidades que praticou foi campeão" disse, acrescentando: "O Paulo era um piloto de excelência e respeitado por todos os adversários".

Miguel Marinheiro referiu que o piloto era também um apaixonado pelo Dakar, onde teve "excelentes resultados" entre os quais um segundo lugar em 2015. "Agora nos últimos anos a sua paixão era o Dakar, com excelentes resultados. Todos os anos, todos esperávamos uma vitória do Paulo que, infelizmente, já não vai acontecer. Fica-nos a saudade, mas a memória do excelente piloto que ele foi e dos resultados brilhantes que teve", afirmou.

O ex-presidente da Federação Internacional de Motociclismo (FIM), o português Jorge Viegas, considerou, em declarações à Agência Lusa, que "o motociclismo português está de luto muito carregado" na sequência da morte de Paulo Gonçalves no Rali Dakar.

"Não posso estar mais triste. Era um piloto que adorava e que conhecia desde pequenino. Era um exemplo como piloto e como pessoa", começou por dizer Jorge Viegas à Lusa.

O antigo presidente da Federação de Motociclismo de Portugal revelou ter sido acordado por David Castera, o diretor da prova. "Disse-me que o encontraram já morto. Foi em reta, o que é estranho. Não sabem o que aconteceu", contou.

O presidente da FIM aproveitou para "endereçar mais sentidos pêsames à família". "O motociclismo português está de luto muito carregado. O Paulo era sempre uma alegria onde chegava e era muito boa pessoa", concluiu Jorge Viegas.

O Benfica, clube a que Paulo Gonçalves chegou a estar ligado através de uma parceria, também deixou no site oficial uma mensagem de condolências. "Foi parceiro do Sport Lisboa e Benfica em vários anos e sentia grande orgulho em ostentar a águia no equipamento de motard, nomeadamente no capacete, durante as provas sobre duas rodas. O Sport Lisboa e Benfica endereça sentidas condolências à família e amigos de Paulo Gonçalves neste dia de luto para o desporto motorizado."

O antigo piloto Paulo Marques lembra "um lutador" em Paulo Gonçalves, piloto que hoje morreu durante a sétima de 12 etapas do Rali Dakar de todo-o-terreno. "O Paulo era um lutador, um profissional. Ninguém merece uma coisa destas, mas ele ainda menos. Era daqueles que nunca desistia", disse Paulo Marques à agência Lusa.

O antigo piloto de Famalicão era o diretor da equipa Honda que levou Paulo Gonçalves pela primeira vez ao Rali Dakar, em 2006. "Correu para mim em 2006. Correu no enduro na minha equipa e arranjámos condições para ele ir ao Dakar. Era um piloto muito forte fisicamente e com uma cabeça muito determinada. Era um profissional", recorda Paulo Marques.

O "Marquês", primeiro português a ganhar uma etapa nas motas no Dakar, acredita que o piloto de Esposende "ainda tinha muito para dar na prova", onde deixa "um legado". "É dos pilotos com maior palmarés português", recorda Paulo Marques, que lembra "uma pessoa pacata, nortenho de gema, com piada".

"Gostava de estar sempre com os amigos. Era uma pessoa muito querida", concluiu, emocionado.

O espanhol Fernando Alonso, ex-piloto de fórmula 1 que se estreia neste ano do Dakar, também lamentou a morte de Paulo Gonçalves: "Dia muito triste. Um abraço imenso para a família e amigos de Paulo Gonçalves. Um campeão. Descansa em paz", escreveu no Twitter.

A equipa Hero recordou o português Paulo Gonçalves como um "grande ser humano", horas após a morte do piloto luso na sétima etapa do rali Dakar de todo-o-terreno. "Um verdadeiro campeão, um grande ser humano e, acima de tudo, um espírito bondoso. Vamos sentir a tua falta. RIP [descansa em paz], Speedy Gonçalves", lê-se numa mensagem da equipa do português.

Numa mensagem publicada no site da FPF, Fernando Gomes refere que "o desporto português perdeu um dos seus maiores atletas", lembrando que "Paulo Gonçalves foi sempre um símbolo de talento, vocação, persistência e coragem". "Um exemplo de tenacidade e também de desportivismo", recorda o líder da FPF, destacando "os resultados alcançados por Paulo Gonçalves que o tornaram uma referência na modalidade, mas também o exemplo de inspiração que representou o seu trajeto de desportista".

O motard austríaco Matthias Walkner, que em 2016 foi ajudado por Paulo Gonçalves durante o rali Dakar, classificou hoje com "trágica" a morte do português, que descreveu como "um piloto muito simpático e prestável".

Numa publicação ilustrada por uma foto na qual aparece no pódio ao lado de Paulo Gonçalves, sorridente, o austríaco escreve: "É exatamente assim que te vou lembrar. RIP Campeão". "Isto é horrível. Os resultados e a luta por um lugar no topo, de repente, não interessam nada! O Paulo era um veterano, aqui. Ele parou e ajudou-me quando tive um acidente em 2016, era um atleta incrivelmente simpático, prestável e justo", escreve o austríaco na rede social Facebook.

Matthias Walkner refere que Paulo Gonçalves, que morreu hoje na sequência de acidente na sétima etapa do rali Dakar, lhe deu "dicas no início da carreira". O austríaco, que também está a disputar a 42.ª edição da prova, refere que há alguns dias Paulo Gonçalves lhe disse que esta "seria a sua última temporada". Walkner termina a publicação com a frase: "É tão trágico que nem sei o que dizer".

O espanhol Marc Márquez, hexacampeão mundial de motociclismo, na categoria de MotoGP, disse hoje que lembrará Paulo Gonçalves pela sua "paixão e ainda melhor coração".

"Muito triste com o falecimento do Paulo no Dakar. Vamos recordar-te sempre pela tua paixão e melhor coração. Descansa em paz amigo", escreveu no Twitter o campeão mundial e piloto da Honda, marca que Paulo Gonçalves também representou.

Marc Márquez é um dos desportistas mais conceituados no motociclismo de velocidade, com o espanhol a ser campeão mundial consecutivo nas últimas quatro épocas, e ainda em 2013 e 2014, antes da conquista de Jorge Lorenzo em 2015.

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