O Ministério Público (MP) reabriu o inquérito ao caso da morte, em 2004, de uma religiosa no "convento" da Fraternidade Missionária Cristo Jovem, em Requião, Famalicão, informou hoje à Lusa fonte da Procuradoria-Geral da República..Segundo a fonte, o caso encontra-se novamente em investigação, num processo em que o MP é "coadjuvado" pela Polícia Judiciária. Embora a Fraternidade se autointitule um convento, sendo essa a designação à sua entrada, trata-se antes de uma associação de fiéis, e as religiosas que lá vivem não são freiras..A religiosa Maria Amélia Serra foi encontrada morta num tanque da Fraternidade a 28 de agosto de 2004, tendo o MP, no dia seguinte, arquivado o processo, por concluir que se tratara de suicídio. Um arquivamento decretado com base no depoimento da superiora hierárquica da vítima, a única testemunha então ouvida..Entretanto, em novembro de 2015, a Polícia Judiciária fez buscas na Fraternidade Missionária Cristo Jovem e deteve um padre que dirigia a instituição e três fundadoras. As buscas aconteceram depois de três raparigas que frequentaram a Fraternidade terem apresentado queixa por maus-tratos, escravidão e cárcere. Ouvidos em tribunal, os quatro arguidos ficaram sujeitos a Termo de Identidade e Residência, por suspeitas de escravidão..[artigo:4891714].Na sequência destas detenções, foram surgindo notícias e relatos de maus-tratos naquela instituição e, em janeiro de 2016, um irmão de Amélia Serra escreveu à Procuradora-Geral da República, pedindo a reabertura do inquérito à morte daquela religiosa..Na carta, a que a Lusa teve acesso, a família diz que esses relatos e notícias apontam para "escravatura e outras práticas insólitas e, mesmo, sinistras e criminosas", perante as quais "parece poder razoavelmente deduzir-se que a morte de Maria Amélia Serra estará envolvida em mistério, e que há a suspeita de ter sido eventualmente perpetrada de forma criminosa"..Por isso, a família pede "a realização de todas as diligências consideradas necessárias e adequadas ao esclarecimento cabal da verdade sobre o que se terá passado", para apurar "os eventuais responsáveis por esses factos"..A Fraternidade Missionária Cristo Jovem nasceu de um movimento para jovens que, posteriormente, construiu um edifício em Requião, Vila Nova de Famalicão, sendo agora uma associação de fiéis com estatutos aprovados a 24 de janeiro de 1978 pela Arquidiocese de Braga. Foi esta associação que trouxe para Portugal as "cruzes do amor" que ainda podem ser vistas em muitas paróquias e casas particulares e que é considerado um símbolo apocalíptico não reconhecido pela Igreja Católica..A Confederação Nacional dos Institutos Religiosos de Portugal (CNIRP) já disse à Lusa que as mulheres daquela Fraternidade não são freiras, apesar de vestirem como tal e serem assim tratadas localmente. A casa onde vivem, acrescentou a CNIRP, também não é um convento, embora seja essa a designação que ostenta à entrada.