Raphael Warnock, o pastor na senda de Luther King
Com uma margem de 54 mil votos de vantagem para Kelly Loeffler quando faltava contar cerca de 64 mil votos, Raphael Warnock foi declarado vencedor por vários órgãos de comunicação, como a ABC News e o Washington Post.
A confirmar-se a vitória, Warnock torna-se no 49.º senador da bancada democrata e independente, ao qual se poderá juntar Jon Ossoff na outra corrida para senador na Geórgia, o que viraria o Senado para o campo democrata. Ossoff já declarou vitória, mas a margem é menor.
O presidente eleito Joe Biden felicitou o reverendo Warnock pela sua "vitória histórica" e mostrou-se "esperançoso" de que Ossoff também vença o sufrágio perante o senador David Perdue.
Aos 51 anos, este pastor da Igreja Batista materializou uma vontade política de mudança num estado sulista e conservador. Em 2018 a democrata Stacey Abrams perdeu as eleições para governadora por uma margem de 55 mil votos. Demorou dez dias a reconhecer que o republicano Brian Kemp iria ser considerado o vencedor, mas não reconheceu a derrota, tendo alegado "supressão de votos".
Abrams lançou as bases para um ativismo da comunidade afro-americana através da organização Fair Fight Action, de forma a facilitar o registo eleitoral e a mobilizar o eleitorado.
Nascido em Savannah, é filho do pastor e veterano da II Guerra Jonathan e da pastora Verlene, ambos da Igreja Pentecostal. Cresceu entre 12 irmãos numa habitação social.
Na mensagem de vitória, Raphael Warnock homenageou a mãe, de 82 anos, que enquanto jovem apanhava algodão e tabaco.
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Quando Raphael Warnock estudou na Morehouse College podia ver a estátua do seu ídolo Martin Luther King Jr., antigo aluno daquela instituição de Atlanta. A sua vida continuaria, de alguma forma, ligada ao Prémio Nobel da Paz. É pastor principal na Igreja Batista Ebenezer, em Atlanta, desde os 35 anos. Também Luther King foi pastor naquela igreja.
"Raphael sempre esteve para lá do seu tempo", disse o reverendo Matthew Southall Brown ao Savannah Morning News. "O que mais me lembro dele é que Martin Luther King era o seu ideal. Quando me disse que tinha conseguido o cargo de pastor na igreja de King, eu disse 'Raphael, esse é o lugar certo para si'."
Warnock tornou-se no mais jovem pastor de Ebenezer. Antes tinha estado nas igrejas de Birmingham (Alabama), Baltimore (Maryland) e Nova Iorque.
Conta o Washington Post que em Birmingham, Warnock foi ordenado pelo reverendo John T. Porter, um assistente do púlpito de Luther King na Igreja Batista em Montgomery, Alabama. E no Harlem, Warnock foi pastor assistente na Igreja Batista Abissínia, onde Luther King uma vez falou a um grupo de clérigos.
O ativismo político e as funções de pastor não são atividades desligadas para Raphael Warnock. "Alguns podem perguntar porque é que um pastor pensa que deve ocupar o cargo no Senado", disse em tom retórico, para depois responder: "Dediquei toda a minha vida ao serviço e a ajudar as pessoas a realizarem o seu potencial mais elevado. Sempre pensei que a minha influência não para à porta da igreja. É realmente aí que começa."
Ao longo dos anos Warnock tem defendido uma agenda progressista: a expansão da Medicaid, o programa que ajuda a cobrir custos médicos para quem tem menos rendimentos; a expansão do Affordable Care Act (conhecido como Obamacare); a proteção dos direitos de voto dos marginalizados; a oposição à pena de morte; o apoio ao direito ao aborto; e o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Estas tomadas de posição levaram a sua adversária Kelly Loeffler a chamá-lo de "liberal radical". Segundo o New York Times, um grupo de líderes religiosos escreveu uma carta aberta à candidata republicana a pedir para parar com as acusações. "As tradições de fé e a teologia da justiça social" do pastor "não só são aceites como uma autêntica mensagem profética na tradição do Dr. Martin Luther King, mas também como uma mensagem central do Evangelho de Jesus Cristo", cita o jornal.